sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Comentários leves e sinceros



Foto: Encontro Blogueiro
Texto: La Salamandra Blanca

Isto de escrever para postear não é tão fácil para mim, leva tempo, concentração, esforço e alguns etcéteras, mais ainda se escrever não é a sua vocação. Sobretudo quando tens vontade de dizer, tendo tanto o que fazer em seu cotidiano, como trabalhar ou fazer algo para suprir as necessidades e tambem os gostos que não dás conta com um salário. Porque ainda que haja quem acredite que por dizer alguma crítica aberta ao governo, o dinheiro "cai do Império", não é assim.

Todavia é muito lisongeiro ler algo escrito por alguem, publicado na web, e ver comentários cada vez mais crescentes dos que incentivam. E até outros tambem, se ficaram enfezados, que bom não é ? Muitos me fazem rir. Mesmo que se confundam acreditando que é a Claudia e não a Salamandra que escreveu, não me incomoda, é bom que parabenizem ela, é a dona do blog, não?

Porém o melhor de tudo isso é estar perto do que te faz vibrar num espaço semimorto, as vezes imóvel e pulverizado, poder ajudar ou apoiar pessoas cheias de valor e coragem à dizer e fazer o que pensam, mesmo quando acreditas que não és tão ousado como elas e se te crêes anônimo ou invisível, te sentes um pouco mais longe da estupidez.

Tambem é passar momentos de emocionante alegria por saber que se avançou outro passo no caminho de mover um pouco mais para trás o cordão que censura e segrega os cansados de calar e esperar. Depois de haver vivido, visto, lido ou ouvido algo que sabes que excede os limites da supressão da liberdade cidadã e que ameaçando tratam de intimidar, não podes mais que satisfazer-tes quando consegues congregar gente amiga, próximos ou não, para evidenciar a injustiça. Essa que demonstram ao processar, prender alguem, etiquetar de dissidente lacaio ou simplesmente não publicar um livro, pela maneira de vestir, cantar, escrever, sentir ou pensar com todo o direito de liberdade.

Lamento que não possam estar mais perto, in situ, muita gente que apoia com seus comentários, mesmo se agradecem muito. Poderiam, do suposto anonimato ou não, sentir melhor essa vibração e cada vez seriam muitos mais quantos façam falta para mover esse cordão de isolamento cada vez mais asfixiante porém tambem mais movediço.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Fidel: esta é tua casa



Nunca soube se as pessoas que punham este cartaz na entrada de suas casas estavam suficientemente esclarecidas no sentido de saber que não era uma metáfora. Suas casas eram de Fidel, e mais ainda, todas as nossas casas são da revolução, porque tudo que nos rodeia pertence a esse conceito abstrato. Em Cuba optamos pela antiga filosofia grega, todas as coisas são feitas de uma substância única e esta por sua vez é a origem de todas as coisas: Tudo é Revolução. A história do ocidente se divide no ano zero, antes e depois de Cristo; a história de Cuba se divide no ano de 59, antes da revolução nada, depois da revolução tudo.

Surpreende-me pensar que há pessoas, inclusive dentro de Cuba, que afirmem que é muito difícil desalojar uma família de sua casa. Não vou contar as histórias de outros porque tive a desgraça de brigar com uma brigadinha de despejo quando tinha 20 anos.

Meu pai vivia na casa da minha avó materna, minha avó decidiu por a casa em meu nome numa espécie de último ato de lucidez. Quando meu pai morreu vim para minha casa, como era lógico. Todavia, uma pessoa próxima do meu pai e com um pouco de poder considerou que não estava certo, que o correto era a casa ir para ela. Nesse mesmo instante começou uma batalha as cegas para mim, onde o golpe já não se sabia de onde viria: de arrancar o vaso sanitário em minha ausência, a pia, os fios de eletricidade e o encanamento de gás (sem mencionar as outras coisas que haviam dentro da casa), passando por uma falsa acusação de haver assinado o projeto Varela (não assinei porque não veio à mim, que se conste isso), o miní comício de repúdio dos membros da associação de combatentes, a ausência prolongada do registro de endereço, pessoas anotadas como residentes temporários na minha casa que eu nunca havia colocado, denúncias por aluguel ilícito e a assinatura dos agentes do terrível "despejo".

Não vou contar a história inteira porque não vale a pena: não puderam tirar-me graças a meu pai, que mesmo depois de morto tive que soar seu nome em minha boca, porque evidentemente, pelas vias legais me tiravam na porrada da minha casa.

Não obstante, seria coerente ir à Havana Velha e contactar todas as pessoas que nesses últimos anos foram despejadas de suas casas para que o lugar histórico seja um lugar apropriado para turistas; ou perguntar aos vizinhos do Vedado, por lá, pela 11 com K, porque o MINIT não lhes permite trocar suas casas nem deixá-las como herança para alguem da família?
Não sei se a cantora Bárbara Grave de Peralta finalmente foi depejada ou não, espero sinceramente que não. Porém tambem gostaria de dizer que seu caso não foi único nem isolado, senão que é um exemplo a mais do que sucede diariamente nesta ilha ideal. Espero que sua denúncia e a solidariedade que sua situação despertou tenham podido ajudá-la em algo, para ela meus melhores desejos.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

O estranho caso do p4

Foto: Claudio Fuentes Madan

As 7 e meia da manhã no noticiário convidam personagens seletos de diferentes ministérios para que exponham critérios, expliquem situações, proponham soluções etc. Esta manhã um falava do transporte. A verdade é que comecei a vê-lo incrédula de suas palavras, passei do riso ao nojo, pedi minhas contas e acabei por desligar a televisão.

Faz tempo que falo sozinha com a televisão, tornou-se um hobby íntimo. É minha forma de estabelecer uma polêmica verdadeira com o status quo: eles falam e eu respondo-lhes, é muito divertido. O único com quem não falo é o Randy, porque seria descer muito.

O cara foi muito claro, falou inclusive a título pessoal. Casualmente ele toma o mesmo ônibus que eu e a mesma hora tambem. Todavia, paradoxo incompreensível, não tem nenhum problema para viajar nele, nunca se atrasa e vem meio vazio. Decidí que talvez o pegasse em sentido oposto ao meu, pois ao contrário, teria que assumir que vivemos, ele e eu, em mundos paralelos: em meu mundo o p4, se chega, vem lotado e as vezes não posso subir; no dele, o trajeto Vedado-Playa é um tour prazeroso.

Porém isso não é tudo, depois trouxe um assunto extravagante, segundo parece o número de passageiros que utilizam os transportes públicos aumentou em 50% em toda Cuba graças ao aumento de carros (não sabemos qual percentual representou o cálculo anterior, nem tampouco a data tomada para diferençar os dois). Logo que na Cidade de Havana o aumento foi de uns 48%. Não disse quanto havia aumentado para o resto de Cuba, o que me deixou na dúvida do que representava este 50% a nível nacional se tirarmos Havana.

Confessou, consternado, que de modo incompreensivel ainda e apesar do aumento de ônibus e das condições, as viagens interprovinciais haviam diminuido. Talvez os analistas, tão carregados de cifras, esqueceram que as passagens desses ônibus quase triplicaram seu preço e que viajar da província para Havana é muito complicado se não esclareces para que vais, por quanto tempo e onde ficarás.

O melhor foi para encerrar, muito compreeensivo concluiu que a gente chega tarde ao trabalho porque não planeja bem ( não é uma brincadeira, o disse textualmente ) e nos aconselhou sabiamente que tomássemos medidas ( supunho que tamanha inépcia não seja adequada a este povo ). Tem que ter muita cara de pau para dizer isso na televisão cubana. Sinceramente, espero que lhe deem imediatamente um carro, e que o promovam e lhe deem outra tarefa, que mesmo sendo mais obscura, ao menos nos livrará de suas absurdas reprimendas matutinas.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Com a sorte lançada



Ainda creio e sempre crerei que Boring Home foi uma vitória sobre a censura, gosto de pensar que foi sobre a segurança do estado inclusive, porque pela primeira vez não pôde baixar o pau nos "niños raros". Porém não creio que deva deixar-me levar pela euforia de um feito, não significa uma mudança na política de governo para conosco, os diferentes: que sonhamos com a mudança, que esperamos um dia ter a liberdade de pensar, de eleger, de dizer, de trabalhar e de dissentir.

Orlando continua recebendo chamadas, desta vez dizem que não se esquecerão dele, que ainda vão lhe quebrar a cara na primeira oportunidade. Yoani continúa vivendo o estado de sítio que implantaram em seu edifício, onde dois tipos com bíceps de halterofilistas deixam passar os dias com dois objetivos: intimidar, ela, sua família e de passagem tambem a todo o bairro, e registrar seus passos. Gorki recebe a informação, graças a um vizinho solidário, de que a segurança deu ordem de seguir todos os seus movimentos. Porém agora por último, ostentando uma técnica bem suja, citaram o esposo de Miriam Celaya do blog Sin_Evasion. Não somente interrogaram uma pessoa que nunca dissentiu, ao menos públicamente, senão que lhe ameaçaram: trabalho, família e filhos. Sei de outras pessoas que tem sido ameaçadas nestes dois últimos meses, porém que tem preferido dar uma oportunidade ao azar e não denunciaram, coisa que me parece um erro, porque com este governo já todos, penso, temos a sorte lançada.

E não somos só nós que temos lançado nossa sorte, senão que nossos amigos e nossa família caem no saco que com pesar arrastamos. Como disse Miriam "Um exemplo do desprezível e sórdido deste sistema, um total desprezo pelo valores familiares, que é o verdadeiro rosto do socialismo cubano."

Não obstante todas essas coisas continuamos sendo diferentes (a pedagogia governamental fala conosco): seguimos com nossos encontros blogueiros, que mais do que um itinerário blogueiro, parece-me já um itinerário blogueiro-cultural, se é que isto existe: vemos documentários de fotografia e na semana passada, no meio da preparação do nada aborrecido lançamento de Boring Home, os artistas de Omni-Zona Franca honraram nosso espaço com a première de um dos seus documentários, fotos escolhidas por eles para tirar um pouco da tristeza deste post.





Foto: "Três horas de discurso", Performance do grupo Omni-Zona Franca, 2004, Santiago de Cuba.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

O Grande Mestre da ética



Foto: Erazm Ciolek
Texto: La Salamandra Blanca

Acontece que agora retomou as Reflexões. Porém desta vez com essa força que pretende manter para continuar o trelêlê com os Estados Unidos. De uma forma ou outra sempre arranja teminhas que questionam o proceder do governo do país que parece uma vez ter jurado, em segredo ou não, fazer-lhe a "guerra" até o fim de seus dias.

Queixa-se que nos impuseram um bloqueio econômico por mais de 50 anos e realmente parece que tudo o que faz é para provocar-lhes o desejo de mantê-lo cada vez mais. Sabemos que lhe interessa, porque o Bloqueio veio carregar a culpa de gerar fome e escassez, e servido para justificar o bloqueio geral que temos aqui dentro e que tem produzido muitos dos desastres neste país.

As Reflexões de quinta-feira 5 de fevereiro "As contradições entre a política de Obama e a ética" são uma espécie de formulário, 14 perguntas aproximadamente para questionar o presidente. Uma vez mais procura lembrar-lhe, e claro também a nós, todo o mal que tem sido históricamente os governos deste país com Cuba e o resto do mundo. Quase uma página inteira perguntando se Obama é correto ou justo ou aquilo e tudo o que ele , o Grande Mestre da ética, quer debater e colocar em julgamento à vista dos outros.

E o que é justo e correto aqui dentro, quando conseguirá auto-examinar-se e ver-se como o vemos debaixo, os a pé? Ou será que ainda hoje o ego não lhe permite?

Não se dá conta que já não nos interessa tanto saber mais o que pode ou não, dizer ou fazer, o presidente nos Estados Unidos, e sim o que fizeram aqui, neste país, ele e seu governo, e o que faz ou o que fará aqui para resolver o que realmente nos concerne? Escreve sobre proteger a Humanidade da degradação climática, porém não fala da parte dessa Humanidade que vive neste país em pura degradação e não precisamente por culpa do clima.

Porque não deixa já o papel de grande figura sagrada, com transcendência internacional, questionadora da dignidade do resto e referindo sempre com interêsse pela Humanidade, para refletir todos os dias publicamente, fazendo-se perguntas dessas que diz "sem respostas fáceis". Sobretudo acerca do que queremos saber, ter, mudar e ver aqui.

Que fez ele por nós em 50 anos de poder absoluto? E peço por favor, que fale além das conhecidas reforma agrária, campanha de alfabetização, medicina e educação "grátis", que isso é água passada.Agora vivemos outros tempos, outras necessidades, outra maneira de pensar e de viver, somos OUTROS, entenda-se novos, diferentes. Chega de viver só da lembrança das calamidades resolvidas e superadas pela Revolução, que faz pouco tempo deixou de ser revolucionária.

Diz não cometer pecado, ao expor modestamente suas idéias. Porém que não venha ninguem expor as suas, livre e modestamente tambem ( a não ser que critique os Estados Unidos ), e menos ainda se é para questionar algo neste país e muito menos fazê-lo público, porque aqui impõe a censura ou vem o delator sem questionamentos éticos e quase com poderes de onipresença, com celular programado para chamar urgentemente a polícia e fazer com que a liberdade de expressar-se (ainda que seja na roupa) seja só um sonho convertido em pesadelo ao despertar num calabouço, com ao menos uma advertência enquadrando-te e uma multa.

Poderiam sair umas reflexões com o título: As contradições entre a política de Fidel e a ética. Onde valeria tambem fazer ao Mestre sua própria pergunta: "É correto prometer uma conciliação de tão antagônicos e contraditórios interêsses sem transgredir a ética?".

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Para Heberto Padilla e Virgilio Piñeira


Quando ontem intitulei o meu post, ainda não sabia se a última ceia seria minha ou da censura, porém o fiz porque me agradou e porque, sobretudo, era meu desejo que fosse a última ceia deles.

Nunca nos conseguimos por de acordo, se levávamos as câmaras, se nos tomariam tudo (a segurança já tem graças a nós duas memórias flash de dois gigas cada uma e duas canções inéditas do Ciro) eu sinceramente não lhes presenteio com mais nada. Claudio sempre levou tudo, por sorte.

Traumatismos do protestródomo e das prisões de Ciro e Gorki, fui preparada: dois pesos cubanos para a guagua (ônibus tipo papa-fila) e a carteira de identidade no bolso da minha pior calça, tênis para correr e um maço de cigarros que jurei em vão não declarar em caso de interrogatório, para não me chantagearem com meu vício.

Porém os acontecimentos sempre me ultrapassam, a noite não tinha medo, porém hoje as 12 do dia senti a ponto de pedir uma bolsa de nylon para respirar dentro, como se vê nos filmes. Não obstante cheguei a Havana Velha, não dou mais detalhes por pudor, não posso mais me sentir vítima deste corpo que se nega a obedecer-me e não respeita minhas decisões.

Subimos na guagua depois de dar uma volta na maçã (despistar) porque o aparato era impressionante. A chegada em La Cabaña poderia ser comparada a aterrissar em Saturno, recordo que disse de brincadeira Bem vindos à Octavo Cerco, porém creio que os demais tampouco podiam ouvir-me. Ocorreu-nos nada mais nada menos que dar uma volta pelo Morro para matar tempo. Como disse Yoani mais tarde, entramos na ratoeira: a passagem para entrar e sair do Morro não deixa espaço para ficar parados, estreito e medieval, com janelas diminutas na altura da cintura, era, sem dúvidas, o pior que nos podia ocorrer. Porém assim, loucos e inocentes, entramos. Do outro lado foi que vimos o aparato, tipos com microfones nos ouvidos passavam em frente e nos olhavam nos olhos. Demasiado tarde nos demos conta que tínhamos que sair dalí, porém nesse momento Ciro, Gorki e Claudio decidiram que era melhor tomar sorvete, não importa quão grande seja o aparato: se há sorvete de morango a três pesos cubanos, que se acalme a polícia que o que há é apetite.

Yoani e Reinaldo saíram na frente, os segurosos não puderam alcançá-los. Eu fiquei atrás com os famintos, prêmio incluído, um sorvete de morango que Ciro me pôs entre as mãos no meio da minha: porém o que é que estão fazendo, há que sair daqui já! Assim é que o túnel me prendeu numa faceta digna de um parágrafo de André Bretón: enquanto eu mordia a casquinha, o seguroso dizia em frente a mim: sim, positivo, estão saindo, são uns cinco... e outro atrás de Orlando confirmava a informação. Ciro sempre com seu senso de humor a prova de fogo, entrou num corredor e pulou um pequeno muro para que o seguroso fizesse o mesmo, e, com efeito, assim o fez.

Quando chegamos na esplanada não havia nada, somente dois amigos que supostamente estavam incógnitos e não podiam vir nos cumprimentar, todavia quando nos viram vieram correndo alegres de ver-nos e a clandestinidade foi, sem dúvida alguma, pro caralho. O mais para mim continua sendo inefável, como quando Gorki saiu do tribunal de Playa.

Sentamo-nos na esplanada em câmera lenta, chegou uma escritora argentina e respirei: se há um só escritor estrangeiro não nos agredirão, ao menos. Porém de pronto os jornalistas começaram a sair, os segurosos acomodaram-se atrás de uns carros a 50 metros, Yoani tirou um papel, dobrou-o e voltou a abrir, começou a ler, Orlando pegou meu cigarro (ele não fuma) apareceu mais imprensa, apareceram escritores, muito, muito jovens, imprensa jovem da feira, amigos de Orlando, fotógrafos. Lentamente saíam da Feira e dispunham-se ao redor, não sei quantos éramos, não me importa, éramos mais do que havíamos pensado. Quando Yoani terminou de ler aplaudimos, tiramos umas cópias em cd, Reinaldo comentou que outras estavam espalhadas pela feira, umas garotas de técnico médio que se somaram ao grupo aplaudiram e gritaram, sim... tudo havia sucedido.
O livro de Orlando é dedicado à sua mãe, tendo em vista que tanto sofreu as terríveis e medíocres estratégias da segurança do estado. Assim é que dedico o dia de hoje à Heberto Padilla e a Virgílio Piñeira, ao primeiro por perder a prudência, por ficar completamente sozinho na esplanada; ao outro por levantar a mão e intervir no discurso de Fidel “Palavras aos intelectuais” e haver tido o enorme valor de Quando ontem intitulei o meu post, ainda não sabia se a última ceia seria minha ou da censura, porém o fiz porque me agradou e porque, sobretudo, era meu desejo que fosse a última ceia deles.

Nunca nos conseguimos por de acordo, se levávamos as câmaras, se nos tomariam tudo (a segurança já tem graças a nós duas memórias flash de dois gigas cada uma e duas canções inéditas do Ciro) eu sinceramente não lhes presenteio com mais nada. Claudio sempre levou tudo, por sorte.

Traumatismos do protestródomo e das prisões de Ciro e Gorki, fui preparada: dois pesos cubanos para a guagua (ônibus tipo papa-fila) e a carteira de identidade no bolso da minha pior calça, tênis para correr e um maço de cigarros que jurei em vão não declarar em caso de interrogatório, para não me chantagearem com meu vício.

Porém os acontecimentos sempre me ultrapassam, a noite não tinha medo, porém hoje as 12 do dia senti a ponto de pedir uma bolsa de nylon para respirar dentro, como se vê nos filmes. Não obstante cheguei a Havana Velha, não dou mais detalhes por pudor, não posso mais me sentir vítima deste corpo que se nega a obedecer-me e não respeita minhas decisões.

Subimos na guagua depois de dar uma volta na maçã (despistar) porque o aparato era impressionante. A chegada em La Cabaña poderia ser comparada a aterrissar em Saturno, recordo que disse de brincadeira Bem vindos à Octavo Cerco, porém creio que os demais tampouco podiam ouvir-me. Ocorreu-nos nada mais nada menos que dar uma volta pelo Morro para matar tempo. Como disse Yoani mais tarde, entramos na ratoeira: a passagem para entrar e sair do Morro não deixa espaço para ficar parados, estreito e medieval, com janelas diminutas na altura da cintura, era, sem dúvidas, o pior que nos podia ocorrer. Porém assim, loucos e inocentes, entramos. Do outro lado foi que vimos o aparato, tipos com microfones nos ouvidos passavam em frente e nos olhavam nos olhos. Demasiado tarde nos demos conta que tínhamos que sair dalí, porém nesse momento Ciro, Gorki e Claudio decidiram que era melhor tomar sorvete, não importa quão grande seja o aparato: se há sorvete de morango a três pesos cubanos, que se acalme a polícia que o que há é apetite.

Yoani e Reinaldo saíram na frente, os segurosos não puderam alcançá-los. Eu fiquei atrás com os famintos, prêmio incluído, um sorvete de morango que Ciro me pôs entre as mãos no meio da minha: porém o que é que estão fazendo, há que sair daqui já! Assim é que o túnel me prendeu numa faceta digna de um parágrafo de André Bretón: enquanto eu mordia a casquinha, o seguroso dizia em frente a mim: sim, positivo, estão saindo, são uns cinco... e outro atrás de Orlando confirmava a informação. Ciro sempre com seu senso de humor a prova de fogo, entrou num corredor e pulou um pequeno muro para que o seguroso fizesse o mesmo, e, com efeito, assim o fez.

Quando chegamos na esplanada não havia nada, somente dois amigos que supostamente estavam incógnitos e não podiam vir nos cumprimentar, todavia quando nos viram vieram correndo alegres de ver-nos e a clandestinidade foi, sem dúvida alguma, pro caralho. O mais para mim continua sendo inefável, como quando Gorki saiu do tribunal de Playa.

Sentamo-nos na esplanada em câmera lenta, chegou uma escritora argentina e respirei: se há um só escritor estrangeiro não nos agredirão, ao menos. Porém de pronto os jornalistas começaram a sair, os segurosos acomodaram-se atrás de uns carros a 50 metros, Yoani tirou um papel, dobrou-o e voltou a abrir, começou a ler, Orlando pegou meu cigarro (ele não fuma) apareceu mais imprensa, apareceram escritores, muito, muito jovens, imprensa jovem da feira, amigos de Orlando, fotógrafos. Lentamente saíam da Feira e dispunham-se ao redor, não sei quantos éramos, não me importa, éramos mais do que havíamos pensado. Quando Yoani terminou de ler aplaudimos, tiramos umas cópias em cd, Reinaldo comentou que outras estavam espalhadas pela feira, umas garotas de técnico médio que se somaram ao grupo aplaudiram e gritaram, sim... tudo havia sucedido.
O livro de Orlando é dedicado à sua mãe, tendo em vista que tanto sofreu as terríveis e medíocres estratégias da segurança do estado. Assim é que dedico o dia de hoje à Heberto Padilla e a Virgílio Piñeira, ao primeiro por perder a prudência, por ficar completamente sozinho na esplanada; ao outro por levantar a mão e intervir no discurso de Fidel “Palavras aos intelectuais” e haver tido o enorme valor de Quando ontem intitulei o meu post, ainda não sabia se a última ceia seria minha ou da censura, porém o fiz porque me agradou e porque, sobretudo, era meu desejo que fosse a última ceia deles.

Nunca nos conseguimos por de acordo, se levávamos as câmaras, se nos tomariam tudo (a segurança já tem graças a nós duas memórias flash de dois gigas cada uma e duas canções inéditas do Ciro) eu sinceramente não lhes presenteio com mais nada. Claudio sempre levou tudo, por sorte.

Traumatismos do protestródomo e das prisões de Ciro e Gorki, fui preparada: dois pesos cubanos para a guagua (ônibus tipo papa-fila) e a carteira de identidade no bolso da minha pior calça, tênis para correr e um maço de cigarros que jurei em vão não declarar em caso de interrogatório, para não me chantagearem com meu vício.

Porém os acontecimentos sempre me ultrapassam, a noite não tinha medo, porém hoje as 12 do dia senti a ponto de pedir uma bolsa de nylon para respirar dentro, como se vê nos filmes. Não obstante cheguei a Havana Velha, não dou mais detalhes por pudor, não posso mais me sentir vítima deste corpo que se nega a obedecer-me e não respeita minhas decisões.

Subimos na guagua depois de dar uma volta na maçã (despistar) porque o aparato era impressionante. A chegada em La Cabaña poderia ser comparada a aterrissar em Saturno, recordo que disse de brincadeira Bem vindos à Octavo Cerco, porém creio que os demais tampouco podiam ouvir-me. Ocorreu-nos nada mais nada menos que dar uma volta pelo Morro para matar tempo. Como disse Yoani mais tarde, entramos na ratoeira: a passagem para entrar e sair do Morro não deixa espaço para ficar parados, estreito e medieval, com janelas diminutas na altura da cintura, era, sem dúvidas, o pior que nos podia ocorrer. Porém assim, loucos e inocentes, entramos. Do outro lado foi que vimos o aparato, tipos com microfones nos ouvidos passavam em frente e nos olhavam nos olhos. Demasiado tarde nos demos conta que tínhamos que sair dalí, porém nesse momento Ciro, Gorki e Claudio decidiram que era melhor tomar sorvete, não importa quão grande seja o aparato: se há sorvete de morango a três pesos cubanos, que se acalme a polícia que o que há é apetite.

Yoani e Reinaldo saíram na frente, os segurosos não puderam alcançá-los. Eu fiquei atrás com os famintos, prêmio incluído, um sorvete de morango que Ciro me pôs entre as mãos no meio da minha: porém o que é que estão fazendo, há que sair daqui já! Assim é que o túnel me prendeu numa faceta digna de um parágrafo de André Bretón: enquanto eu mordia a casquinha, o seguroso dizia em frente a mim: sim, positivo, estão saindo, são uns cinco... e outro atrás de Orlando confirmava a informação. Ciro sempre com seu senso de humor a prova de fogo, entrou num corredor e pulou um pequeno muro para que o seguroso fizesse o mesmo, e, com efeito, assim o fez.

Quando chegamos na esplanada não havia nada, somente dois amigos que supostamente estavam incógnitos e não podiam vir nos cumprimentar, todavia quando nos viram vieram correndo alegres de ver-nos e a clandestinidade foi, sem dúvida alguma, pro caralho. O mais para mim continua sendo inefável, como quando Gorki saiu do tribunal de Playa.

Sentamo-nos na esplanada em câmera lenta, chegou uma escritora argentina e respirei: se há um só escritor estrangeiro não nos agredirão, ao menos. Porém de pronto os jornalistas começaram a sair, os segurosos acomodaram-se atrás de uns carros a 50 metros, Yoani tirou um papel, dobrou-o e voltou a abrir, começou a ler, Orlando pegou meu cigarro (ele não fuma) apareceu mais imprensa, apareceram escritores, muito, muito jovens, imprensa jovem da feira, amigos de Orlando, fotógrafos. Lentamente saíam da Feira e dispunham-se ao redor, não sei quantos éramos, não me importa, éramos mais do que havíamos pensado. Quando Yoani terminou de ler aplaudimos, tiramos umas cópias em cd, Reinaldo comentou que outras estavam espalhadas pela feira, umas garotas de técnico médio que se somaram ao grupo aplaudiram e gritaram, sim... tudo havia sucedido.
O livro de Orlando é dedicado à sua mãe, tendo em vista que tanto sofreu as terríveis e medíocres estratégias da segurança do estado. Assim é que dedico o dia de hoje à Heberto Padilla e a Virgílio Piñeira, ao primeiro por perder a prudência, por ficar completamente sozinho na esplanada; ao outro por levantar a mão e intervir no discurso de Fidel “Palavras aos intelectuais” e haver tido o enorme valor de dizer: "o que eu tenho é muito medo".
Desculpem-me que não tenha fotos do momento, porém só uma câmera e cinco blogs requer de qualquer um atos de altruísmo.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

A última ceia da censura


Reproduzo o texto de Orlando Luís Pardo Lazo em segunda-feira de postrevolução, nas vésperas do dia mais importante desta tristemente censurada Feira Internacional do Livro.
Os Detetives Domésticos
texto: Orlando Luís Pardo Lazo


Pode ter sido um título de Roberto Bolaño, o chileno falecido e universal. Um tipo que não se ajustaria completamente ao staff da XVIII Feira Internacional do Livro de Havana, dentro das muralhas "morais" e os reciclados fossos de fuzilamento da Fortaleza de São Carlos de La Cabaña ( de 12 à 22 de fevereiro, sede principal do evento ).

E, com efeito, nossos detetives domésticos, não menos selvagens que os de Bolaño, chamam-me por telefone a cada hora para aterrorizar minha mãe setuagenária e com enfisema. São jovens, machos, e se escudam atrás de um telefone público para praticar a sintaxe profilática do paredão: "se teu filho vier na segunda-feira à feira, vamos quebrá-lo", dizem e põem no gancho. Continua lendo...>>>

Horas antes, Michelle Bachelet, deixava inaugurada a referida Feira. Foi um discurso à esquerdav e levemente democrático com seu vestido azul. A presidenta chilena falou de uma "cultura da morte"que devorou sua pátria ao longo de "17 anos de autoritarismo" ( a geografia parece que predispõe).

Apenas 17 horas depois, meu telefone recebia as chamadas anônimas e meu gmail transbordava violência revolucionária contra o Inimigo do Povo. Leia-se: eu.

São e-mails individuais com ID apócrifos. Golpes, desejo de deformar meu rosto, chutes na bunda se me atrever a assistir na segunda-feira 16 de fevereiro a Feira do Livro, e alí lançar de modo free-lancer (em nome da filóloga Yoani Sánchez, blogueira de Geração Y) uma edição autoral de meu livro de contos Boring Home: obra excluída a gritos da editora Letras Cubanas, por acaso também por não se adequar de todo no programa.

A apresentação teria lugar, como anuncia sua promoção em JPG, na esplanada exterior de La Cabaña. Seria um tipo de graffiti do outro lado do Muro. Nada de intervenção ou interferência pública. Nada de acting civil em pleno zoo da feira. Somente um grupo de amigos e uma audiência volante, sentados sobre o gramado público para falar de escrita e censura em Cuba. Com sorte, também para conjurar estratégias de dinamização e dinamitação da modorra cultural do cânone cubensis dos dois mil ou ano zero ( minha geração julga-se chamar-se assim: Ano Zero).
Porém no way. "A Feira não tem além", poderia ser agora a sentença judicial de algum provinciano derrideano chamado Sánchez ou Rojas ou Prieto. Tétrica teoria de desconstrução. Assim, no sábado passado 14 de fevereiro, depois de tirar de cima de mim dois policiais que, graças as fotos que por azar tirava Lia Villares (blogueira de Hechizamiento Habanêmico Hebdomanario) afastaram-se de mim com zombaria, um vice presidente do Instituto Cubano do Livro veio e me falou bem claro. Havia gente iracunda por motivo da minha apresentação. A fronteira de la Cabaña chegava até o Túnel da Bahia. Dentro desses limites a apresentação seria abortada a priori. A ele "fugiam das mãos" as conseqüências físicas do assunto. E então... Bem, obrigado por escutar-me Orlando Luís.

Pouco depois soube que tampouco me convidaria, na minha condição de Jurado de todos os gêneros, à premiação do concurso de Bolsas de Criação "Sigifredo Álvarez Conesa (terça-feira 17, 5:30 PM, Sala José Lezama Lima), convocado pelo Centro Nacional de Cultura Comunitária, cujo diretor deve prestar contas políticas pela minha seleção. Quando voltarei a passar como simples cidadão as pontes levadiças da fortaleza?

O resto deste weekend em Havana foi um requinte de calmantes, cartomancia e “cartopriles” para os
Nervos e a pressão de minha mãe de 72: de sexta-feira a domingo foram exatamente 72 horas de invasão telefônica e de e-mail nos tempos de cólera.

Enquanto poetas estrangeiros lêem mapundungún (idioma mapuche) numa sala com ar condicionado, debaixo do sol de verão de Cuba (um país com aparências de hemisfério sul), eu, no entanto um contador de histórias loca, não posso nem apreciar minha prosa a margem do próprio bastião colonial. Para mim, é eloqüência suficiente.

Isto talvez me acontece por ser um narrador loquaz que não elogia, senão que elege a loucura. Um autor com quatro livros de contos premiados e publicados legalmente em Cuba. Colaborador de blogs no limite e portais bloqueados. E, para o cúmulo de equívocos, um nome incluído na A insula fabulante. O conto cubano na Revolução (1959-2008), a flamante antologia oficial de onde Alberto Garrandés não me tirou apesar do barulho http://www.antiluispardolazo.cu/. Who`s afraid of Orlando Woolf?

Estes são os fatos, O resto é esse Chile imaginário que, desde as páginas de nosso e-zine de escrita irregular The Revolution Evening Post, sempre lemos como irreverente e incendiário. Outra ilha continental que não deveria lavar as mãos agora, no entanto protagonista desta novelinha intitulada Arquipélago Cubag.

Estes são os fatos. Amanhã, segunda-feira da post revolução 16 de fevereiro de 2009, às três da tarde em Havana “inevitavelmente” Cuba poderá “meter-se a La cañona sua Cabana onde queira (falo do Morro inclusive). Perigando repetir a fábula fóssil da raposa e as uvas (ou mangas bajitos), não nos interessa expor mais a barbárie. Somos gente limpa e útil a nós mesmos que não deixaremos entrar num sabido pugilato coma ditadura do proletariado ou da polícia.

Ninguém no editorial Letras Cubanas me contatou desde que meu livro Boring Home já estava quase pronto para a impressão (faz meio ano): a instituição premia ou castiga seus infantes defuntos. Bem, obrigado por escutar-me, Letras Cubanas. Talvez todavia me assista o direito de asilo literário na Embaixada do Chile em Santiago de La Habana.

No mais, do lançamento do aborrecido caso de Boring Home, não estimulo a assistir ,os convocados a esplanada de entrada ou camping de concentração nas cercanias de La Cabaña (exceto os peritos da polícia política). O livro igualmente circulará. Não seria de estranhar que os exemplares já estejam colocados nos cantos extramuros num tipo de jogo no estilo de “Tesouro Escondido”. Nossa Cuba imaginária continuará sendo irreverente e incendiária. Um país mais potável em meio ao permanente paraíso para policialesco Made in Latinoamerica.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

A censura, a intimidação, as ameaças e os medos governamentais


foto: OLPL

Uma nova mensagem na caixa de entrada de todos os cubarte.cu, porém desta vez não provem do Conselho Nacional das Artes Plásticas, como quando da expo no Espaço Aglutinador. Já se deram conta que é melhor não deixar cair toda a responsabilidade da censura num só ministério. De todos os modos sabemos donde provem esta garra obscura.

Orlando recebeu chamadas anônimas durante todo o dia, inclusive chegaram a deixar um recado com a sua mãe: Diga-lhe que não se atreva a ir na segunda feira.

Aqui lhes deixo a nota:

Escutei dizer que está circulando uma mensagem, via correio eletrônico, divulgando a apresentação na próxima segunda-feira 16 fora de La Cabaña, de um livro de Orlando Luís Pardo Lazo, e que será apresentado pela tristemente célebre blogueira e contrarrevolucionária Yoanni Sánchez, bem paga pelo império.

Faz alguns meses tambem circulou uma foto de Pardo Lazo, masturbando-se em cima de uma bandeira cubana, ato que indignou todos os filhos deste país e de outras latitudes, pois esta é uma ofensa à um símbolo pátrio. Sua obra literária é pouco conhecida, todavia este feito foi divulgado como parte da propaganda midiática contra Cuba.

Pardo Lazo se converteu num boneco a serviço de Yoanni e sua camarilha.
Não creio que levem à vias de fato esta estúpida atividade, se o fizerem passarão um susto pois como é lido na "convocação", tambem tem-se notícias de algumas surpresas desagradáveis que vão encontrar ali.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

O livro perdido de OLPL



Nesta segunda-feira 16 de fevereiro de 2009

inevitavelmente as 3 da tarde,

na esplanada exterior em frente ao estacionamento dianteiro de la Cabaña,

a filóloga Yoani Sánchez (blogueira de Geração Y)

apresentará o livro de contos BORING HOME

do ex-critor Orlando Luis Lazo (blogueiro de Lunes de Post-Revolución),

editado de modo free-lancer em papel e digitalmente por Edições Lawtonomar 2009,

dado a indolência (ou talvez a perícia) das Letras Cubanas a respeito.

Estão tod@s inevitavelmente convidad@s!
OLPL

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Liberdade de expressão versus Imprensa Oficial


Foto do Consulado cubano em Barcelona, tirada de Penúltimos Dias

Lí o post "Das idéias e meios de difusão em Cuba" publicado por Karel Pérez Alejo em Bloggers Cuba, e me aventuro a dar minha modesta e um pouco radical ( se é que posso colocar o advérbio em semelhante adjetivo ) opinião sobre o tema: tabu?: A Censura.
Soluções não gosto de dar porque acredito que isto é para que servem os políticos, os sociólogos e os especialistas, porém os do território nacional não parecem assumirem-se como versados, como bem se argumenta no post; pois eu ponho aqui o que creio que seriam soluções, que sendo boas, más ou regulares, não estão censuradas.

Visto e comprovado que os jornalistas e os órgãos oficiais de imprensa se cagam e se mijam diariamente na notícia, como disse Porno Para Ricardo em seu tema Los Periodistas, considero que a criação de uma imprensa independente é urgente, independente do estado e cujos jornalistas tenham direito a livre reunião e associação, é dizer, que possam ter seu sindicato independente, reunir-se e organizar seus desejos e, com certeza, que possam fazer tiragens de seus jornais para cobrir a demanda nacional. Desta maneira, os jornalistas não se veriam forçados a enfeitar suas notícias e estariam protegidos por um sindicato que defenderia seus direitos. A propósito, tambem poderiam ter um canal de televisão independente, que funcionasse ao par do ICAIC e do ICRT. Em 1979 um poeta polones foi premiado com o Nobel, em seu país só havia publicado um editorial clandestino: Nova; já no ano de 1981 o jornal Solidariedade circulava livremente na Polonia e na Sérvia tinham televisão independente.

Se os artistas já não se sentem representados pelas instituições (UNEAC, ICAIC, ICRT, Conselho Nacional das Artes Plásticas ou o que seja) então poderiam tambem reunir-se por sua conta e ter suas próprias organizações, se tão cansados estamos todos de ser censurados uma e outra vez pelos mesmos órgãos de poder: não seria mais inteligente que prescindíssemos deles e criássemos os nossos? Se a Gazeta de Cuba não publica notícias que para artistas e escritores são importantes, ao invés de estar discutindo com eles a causa desta omissão, se poderia publicar a notícia em outra revista, de corte literário igual, independente da Gazeta e do Instituto do Livro e de qualquer tipo de ligação governamental, para que os artistas se sintam completamente livres em sua obra e na difusão da mesma.

Como estes direitos haverão de ser iguais para todo o povo cubano, teriam direito a organizar-se livremente as pessoas que dissentem do sistema político atual e seriam reconhecidos diferentes partidos políticos. Estes políticos teriam, claro, direito a fazer suas campanhas e promover suas idéias. A imprens poderia, igualmente, dar cobertura em suas atividades porém tambem denunciar os abusos, as ilegalidades e as mentiras que forem descobertas nos diferentes níveis da sociedade, incluído o governamental, claro.

No meu pequeno mundo rodeado de água, o socialismo é vivido sem liberdade de imprensa nem de expressão, não se respeitam os direitos elementares dos cidadãos e a corrupção do governo e de suas instituições está no batendo no teto, não há eleições, não há direito de dissentir nem de criticar, há muita pobreza, muitos males sociais e muita desmoralização. Portanto e ademais: não gosto do socialismo.

Reflexões



Foto: Claudio Fuentes Madan

Texto: La Salamandra Blanca

Lí o Granma da passada sexta feira 23, motivada por saber o que ele tinha conseguido escrever em suas retomadas reflexões, logo após prolongado período de silêncio que provocou as conhecidas dúvidas sobre a sua saúde e até sobre a sua existência física.

Parece vangloriar-se pessoalmente, com sutileza (omitindo seu próprio nome) dizendo que a Revolução Cubana em seus 50 anos passou por onze presidentes estadunidenses. Depois de referir-se a Obama de maneira quase afável, explica a todos os interessados e crédulos a respeito, o porque da redução das suas Reflexões. Faz saber que não está interessado em obstaculizar o trabalho dos companheiros, algo que devido ao seu hábito de meter-se em tudo deve resultar-lhe muito difícil, e a nós difícil de crer. Como era de esperar deixa no ar ao undécimo presidente uma pergunta final com a típica observação: que fará rapidamente quando o imenso poder que tomou nas mãos seja absolutamente inútil para superar as insolúveis contradições antagônicas do sistema?".

Chama de raro privilégio ao feito de haver observado os acontecimentos durante tanto tempo. Quando isso não foi pura casualidade, nem remotamente produto de um dom divino outorgado exclusivamente à ele, senão algo muito bem planejado, batalhado e mantido com todas as forças armadas e almofadadas, para e por ele mesmo. O raro será por desfrutar do poder ainda hoje, ou porque lhe é difícil crer que tenhamos aguentado tanto tempo?

O que mais gostaram os muitos que o ouviram, é a menção de que não devem estes companheiros preocuparem-se por sua condição grave ou morte. Tão só o feito de aludir à possibilidade de que quando o mandato de Obama se conclua já não gozará deste privilégio, serve de alívio a muitos, como se houvesse dito que sómente lhe restam menos de quatro anos de vida.

Se esta pergunta que fez à Obama fizéssemos a ele mesmo, gostaria de saber o que reponderia. Ou não se deu conta que ele tambem teve um imenso poder em suas mãos durante muito mais tempo e tampouco resolveu as insolúveis contradições crescentemente antagônicas deste sistema? Isso não o faz pensar que a esta altura já se tornou inútil esse poder que ainda desde sua condição grave mantem?...
Poderia refletir sobre isso e dar-nos ao menos o alegre gozo de publicá-lo.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Meu amigo o argentino


Foto: OLPL

Meu amigo argentino nasceu em Marianao. Era escritor, fotógrafo e friki, casou-se pelo ano 2000 com uma argentina e foi-se para Buenos Aires, então foi que ela descobriu o engano: ele era argentino de pura cepa e não um pobre artista cubano.

Uns anos depois veio de visita, só esteve em minha casa uma vez porque um amigo o trouxe: confessou-me que tinha muito medo de pegar boteros (taxis particulares de 10 pesos), porque como era estrangeiro podia acontecer-lhe qualquer coisa. Tambem comentou comigo que estava muito emocionado com o o novo congresso da Assembléia Nacional ( nossa mui original assembléia, para ser parte dela deve-se ter mais de 80 anos e haver pertencido ao partido comunista desde os 3) e me assegurou que haveriam mudanças, porém não disse quais. Fez alusões a nossa situação, pensava que não estavamos tão mal, para demonstrá-lo me disse que até se podia economizar um pouco para comprar um computador e que os trabalhadores eram uns imbecis porque faziam greves por qualquer coisa e vestiam camisetas do Che por puro esnobismo, sem saber na realidade quem era o Che, sem conhecer sua ideologia e sua heróica trajetória. Assegurou que o socialismo era o melhor para o país e que Cuba ia por bom caminho, que apesar de tudo tinhamos educação e saúde gratuitas e que mal ou bem, se comia...gostaria de assistir com ele o documentário "Buscándote Habana" de Alina Rodríguez, porém na época não o tinha a mão.

Quando Ciro chegou tornou-se crítico, disse que odiava Porno Para Ricardo e que eu estava na obrigação de o advertir. Com certeza eu estava sendo monitorada e não era conveniente que o vissem comigo (queria fazer negócios com Cuba), não quis ir à G (nunca havia ido e pensei que ele gostaria de ver o novo lugar dos frikis), tampouco quis ir conhecer meus amigos. Privadamente aventurou-se propor ir tomarmos umas cervejas, porém me pediu que prescindissemos do meu namorado.

Despedimo-nos como dois estranhos, com a certeza de que não voltaríamos a reencontrar-nos, porque não se pode voltar a encontrar quem não se conhece. Não o estranho, ainda as vezes o recordo; não me dói que haja mudado tanto, sem embargo me dá tristeza que já não escreva, que já não tire fotos.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Estamos em alerta vermelho?



Foto de cartaz: OLPL


Volto aos cartazes, não posso evitá-lo: este encontra-se preso nas vidraças do restaurante "El Polinesio", na parte debaixo do hotel "Habana Libre". Acredito que deixa claro os objetivos que o governo cubano tem para nós. É uma das coisas mais extremistas que já lí em cartazes públicos e creio que sinaliza um novo significado na chamada "batalha de ideias". O tom militarista e alarmante de seus enunciados me fazem perguntar se estamos em guerra e contra quem; de onde sai essa filosofia que me diz que eu como cidadã tenho que destruir, matar, aniquilar, sacrificar, morrer, mandar, dirigir e obedecer. Lembra-me os documentários que vi nos anos 60, quando o povo gritava paredón e os cubanos eram arrastados por outros cubanos como escória.

Talvez seja um pouco doloroso para todos aqueles que ainda esperam mudanças, ver que estas são as novas reformas que estão planejando; e que apesar de seu comprovado fracasso, este segue sendo o "homem novo" da Revolução Cubana.

Transcrevo aqui todo o texto do cartaz, para não correr o risco de que não se visualize bem a foto:

-As palavras rendição e derrota estão completamente apagadas de nossa terminologia revolucionária.
-Nenhum revolucionário deve pensar em render-se ante o inimigo e continuará lutando até a morte, se for necessário.
-Cada revolucionário deve pensar particularmente quando ficar isolado: A Revolução sou eu!, e continuar a luta sem esperar orientações de outros.
-Haver-se á que defender cada palmo de nosso solo pátrio.
-Causar a maior quantidade de baixas possíveis ao inimigo em forças vivas é nosso principal objetivo.
-Manter o espírito combativo, por gigantescos e dolorosos que sejam os sacrifícios para obter a vitória.
-A vitória definitiva será nossa, por difíceis que sejam as circunstâncias em que se desenrole a luta.
-Em cada chefe político e militar, de qualquer nível, em cada soldado, em cada homem do povo, há um Comandante em Chefe potencial que sabe o deve fazer, e em determinada situação cada um pode chegar a ser seu próprio Comandante em Chefe.
-Enquanto reste um combatente será como um poderoso exército que nenhuma causa terá como perdida.
-Criar a convicção de que este povo não será governado jamais por nenhuma potência estrangeira nem pela contra-revolução.




Grafite de 23 e 12 (ruas), atrás do monumento da declaração socialista da revolução.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Além de desobediente, agora é sexy


Foto: Claudio Fuentes Madan

Estes são os últimos dois ônus com que as autoridades cubanas decidiram presentear Gorki Águila, líder da banda Porno para Ricardo, só que desta vez acrescentaram o baixista: Hebert Domínguez. Agora têm uma multa de 30 pesos cada um por ultrage sexual, esta acusação pertence ao artigo 1, disposição legal numero 141 do código penal. Significa mais ou menos que se se anda vestido sexy, seja com atributos sexuais desenhados na camisa ou nas calças ou qualquer referência sexual na roupa, está-se incorrendo num delito (inclui por hipótese o logo do grupo).

No caso de Claudio Fuentes Madan, seu delito foi menor: escândalo público, e se refere às escandalosas imagens que capta com sua câmara no Maxim Rock ou na G, sua multa foi de 20 pesos.

Ainda que meus sentimentos frente aos órgãos de segurança do estado e às instâncias implicadas na redação e aplicação das leis não sejam os melhores, não posso evitar, ao menos, aconselhar-lhes que olhem o código penal: o processo criminal de Gorki terminou por parecer um prometedor curriculum vitae de artista punk.