segunda-feira, 29 de junho de 2009

Zona com flanelinha



Faz pouco em "Deixa que eu te conte", meu programa preferido na televisão cubana, falaram dos flanelinhas. Rí muito com a descrição das tarifas de estacionamento, diretamente proporcionais ao tipo do carro e a nacionalidade do motorista, com certeza.

Porém o mais incrivel de tudo é o alívio que um chofer sente quando vai estacionar e percebe a distância o flanelinha, se não existe, corre alto risco. Existem estacionamentos sem flanelinhas em Cuba? A verdade é que não acredito, os espaços de estacionamento tem sido lentamente tomados por estes trabalhadores. O engraçado é que já não se possa estacionar sem eles, pois então o carro corre o risco de sofrer danos variados e severos. Nada mais normal que ver choferes com seus CD players na mão caminhando pela rua, ninguém pensa em deixar o CD player no carro.

Num outro dia roubaram o carro do meu vizinho as duas da tarde. Ele estaciona bastante longe de casa porque foi o que "conseguiu", assim é que durante o dia deixa o carro na "zona desprotegida": em frente ao edifício. Uns rapazes num Lada pararam em frente e um deles abaixou-se para forçar a porta. Nisso um dos vizinhos o viu e anotou a placa, correram e não puderam levar nada.

Acontece que a chapa era azul, o que significa que pertence a um ministério ou instituição estatal, logo na polícia soube-se que pertencia à sede da UJC. Meu vizinho fez várias tentativas com a polícia porém nada, numa dessas o investigador do caso lhe disse:

-Olha compadre, eu te aconselho que se queres resolver isto, tire um mes de férias no trabalho para que possas ocupar-te das investigações e das entrevistas.

Meu vizinho, com certeza, desistiu de pegar os culpados...no fim das contas, não lhe levaram nada.

sábado, 27 de junho de 2009

Communication breakdown no Capitólio



Outro dia estava esperando Orlando no Capitólio. Cheguei uns 10 minutos antes, então sentei-me na escadaria para fazer hora. Foram uns minutos muito intensos: presenciei duas discussões por dinheiro, uma delas bem escandalosa e em dois idiomas.

Um dos fotógrafos que usam câmeras caixote para fazer fotos dos turistas tratava de tirar 2 CUC de um homem que aparentemente os haviam roubado. O cara escapuliu de algum modo e então atirou-se sobre o turista de quem tinha feito a foto. Ele não falava ingles e ela não falava espanhol. Ele gritava que não havia recebido seu dinheiro e ela respondia que lhe havia dado 3 CUC , porém não se entendiam e repetiam as mesmas coisas varias vezes. Quando o assunto terminava, uns rapazes tratavam, sem conseguir, que os estrangeiros pagassem umas caricaturas que eles faziam no momento e sem perguntar, porém que aparentemente não agradavam e não as queriam pagar.

Em alguns momentos não posso evitar de sentir uma profunda lástima por nós: os cubanos mendigando para que estrangeiros paguem os trabalhos que eles criam, porque o Estado não lhes paga de verdade, e os turistas brincando de turistas ingênuos que não entendem nada. Na televisão continuo vendo os spots que falam de nós como se fôssemos escória. Há um que me chateia especialmente, um em que aparecem Fidel e Raúl e outros na Serra caminhando com os fusis no ombro. Então uma voz em off diz: Eles deram tudo...e tu? O que tens feito? Então trabalha! Ou algo no gênero, por sorte não sei de memória. Na verdade eu penso: não faremos nada até que nos paguem...é tão lógico que parece piada.

Quando os estrangeiros me perguntam se é verdade que os cubanos não gostam de trabalho eu simplesmente digo: tu trabalharias 8 horas diárias por 20 dólares ao mes, ou por 30, ou por 50 até mesmo por 100? Nunca recebi uma resposta positiva.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Faz falta cooperar?



Foto: Claudio Fuentes Madan

Quando tens uma licença para alugar para estrangeiros em Cuba tua vida muda radicalmente. Econômicamente consegues, depois de sonhar durante anos, ser independente: já não tens que contar a grana para pagar a luz, não tens que te preocupar por não poder pagar o telefone, podes consertar tua casa, comprar eletrodomésticos, ter um ar condicionado e alugar vídeos para o DVD. Então és "independente" do Estado, tens o "teu" negócio...Qual é o preço?

Quase todos os dias vem inspetores, eles se encarregam de conferir se todos teus papéis estão em ordem: que nenhum estrangeiro tenha ficado menos de 24 horas, que não haja mais de duas pessoas por quarto, que todos os dados de todas as pessoas que tenham vindo ver os turistas estejam anotados em tua caderneta. Além disso são os agentes da imigração: MININT, aos quais há que se entregar religiosamente os nomes e o número da carteira de indentidade, assim como os detalhes de tempo e frequencia das visitas, de quais cubanos tenham tido contato em tua casa com o inquilino. Então eu me pergunto: até onde temos que chegar? Tem-se que anotá-lo? Não há algum modo de quebrar essa regra? Só se pode alugar dois quartos por casa, quase todos os arrendatários alugam 3 e até 4 quartos, o que me parece genial, com certeza. Não há modo humano de que possam deixar de denunciar cada cubano que se relaciona com um estrangeiro? Qual é a diferença?

Lembro que faz uns dois anos estava na casa de uma amiga onde se aluga, ela havia saído e eu estava com sua mãe. Haviam alugado para um estrangeiro por umas horas na noite. O homem chegou pelas 11 da noite com uma prostituta (em Havana sempre e quando tenhas licença pode vir qualquer um) após 2 horas sairam do quarto. O cara foi até a varanda enquanto a mãe da minha amiga priorizava a anotação do nome da pobre prostituta. Ouvimos a batida, levamos, as tres, uns tres segundos para darmo-nos conta do que havia acontecido: foi-se sem pagar ninguém.

A dona da casa correu atrás do homem, porém com certeza, não o alcançou; a pobre garota quase se atira chorando em cima da mesa, ao sair murmurou algo que não entendi: estava chorando. Eu fui para a varanda, pude vê-la com seus saltos altos dobrando a esquina, vi a patrulha que parou ao seu lado e a levou

terça-feira, 23 de junho de 2009

Do Golfito à terapia intensiva


Rolando tem 42 anos e sua filha 19, gostam de dançar e as vezes iam à discoteca juntos, embora já não vão mais. Em 16 de dezembro de 2008 haviam ido ao Golfito, uma disco em Rio Cristal; as 2 e meia da manhã sairam e pegaram um ônibus que os levaria para casa, o 160. Com eles subiu um grupo de rapazes que também estava na discoteca.

Eu recordo que nessa época as pessoas tocavam rumba nos ônibus, também haviam muitos assaltos, sobretudo de madrugada, aos passageiros e inclusive aos motoristas. A polícia então decidiu que em cada ônibus que andasse depois do ocaso, haveria um policial armado que cuidaria da ordem. A idéia, ao menos para mim, era bastante animadora (exceto pela pistola), porém o que acontece em Cuba é que ordem civil e disciplina militar são sinônimos. A gente começou a protestar porque já não se podia tocar rumba e inclusive uma vez Ciro foi proibido de tocar uns acordes (sem letra) na guitarra.

Assim mesmo tocavam um reggaetón e cantavam os do 160 de Rolando. O azar nessa noite é que os policiais estavam disfarçados de civis, ainda que mantinham o principal do uniforme: o revólver. Começaram a discutir com os rapazes e armou-se um "arranca rabo", o ônibus estava cheio e quando o ambiente tumultua geralmente as pessoas entram em pânico: não foi diferente. A polícia mandou parar o ônibus porém não deixou que abrissem as portas, queriam encurralar os culpados para que não escapassem, de madrugada em Boyeros qualquer um se perde. Todos queriam sair e a coisa ficou feia, um dos policiais (eram dois) sacou a pistola e disparou dentro do ônibus, várias vezes.

O terror foi incontrolável, as pessoas sairam pelas janelas e finalmente abriram as portas e todos trataram de sair ao mesmo tempo. Rolando tirou sua filha primeiro e quando pôs um pé no asfalto sentiu uma dor forte na perna esquerda e desmaiou.

No dia seguinte despertou na sala de terapia intensiva do hospital militar, tinha dois policiais de cada lado e ouvia longe a voz de sua mãe que dirigia-se aos uniformizados do quarto. O tiro entrou pela frente da coxa esquerda e saiu por trás, haviam lhe reconstruído a artéria femoral e o médico assegurou-lhe que estava vivo "por milagre". Outras cinco pessoas também tinham ficado feridas.

Esteve um ano sem poder trabalhar, deram-lhe uma licença sem pagamento que não logrou reclamar. Tratou de contatar advogados porém não avançou muito, aos policiais que dispararam, segundo sabe, não aconteceu nada e me afirma que uns dias depois leu no Granma um artigo falando de como estava funcionando bem a nova medida da PNR nos ônibus urbanos...aparentemente haviam condecorado alguns oficiais segundo o órgão oficial do partido. Parou de mancar há poucos meses e está convencido só de uma coisa: ele, e todos nós, estamos desprotegidos neste país.






segunda-feira, 22 de junho de 2009

O Robot



Tirado da Saga: El Ciro vs a Segurança do Estado

Seus olhos amarelos de cristal apontavam o olhar para meu esbelto corpo, sua couraça metálica parecia blindada e suas armas laser ameaçavam lançar sobre mim sua mortífera carga de luz mono-lándica. Era o novo Robot do G2 fabricado na empresa de ônibus Girón e os estaleiros Shuyima, enviaram-no para me destruir após o fracasso dos humanos. E naquele infinito lapso de tempo eu não podia mais deixar de pensar numa só coisa:

"... os parafusos de suas joelhos são ideais para consertar o pé da minha cama..."

Falou então o robot:

-Cacete! - disse - Voltaram a encher o meu tanque com gasolina comum do CUPET de Boyeros.

Nesse momento me soube muito superior, a vitória estava nas minhas mãos, os frentistas desse CUPET colocam muita mas muita luz brilhante na gasolina comum e depois vendem a que desviam no mercado negro. O robot estava envenenado.

Ainda assim não queria provocar um desnecessário derramamento de óleo de modo que tratei de negociar com ele.

-Ei tu, robot, os parafusos de teu joelho e te deixo ir claudicando, senão terminarás na empresa provincial de sucata e como tu bem sabes...nunca reciclam.
-10 CUC por todos os parafusos da perna esquerda - disse-me.

É verdade que em Cuba todo mundo está se lixando para a propriedade estatal e certamente não era muito dinheiro para evitar que demolisse 70 toneladas de óxido (FeO2), porém a última grana que Bush me mandou gastei comprando feijões no agro da EJT.

Aquele robot (pensei) estava economizando para ir-se para Miami, teria ido voando porém, como muitos outros veículos estatais, lhe haviam desativado as asas e o ar condicionado. Ao pobre só restava ir-se numa balsa. Como tantos outros trabalhadores do MININT sonhava em aparecer no programa de Oscar Haza: A mão limpa, para revelar alguns dos seus segredos.

-Para que queres o dinheiro? - perguntei
-Para isso mesmo que (pensaste). O que? Agora és do G2?
-Fui uma vez porém me deram baixa por peritagem, adoeci quando todos cantavam o hino ao meu redor de manhã. Foi horrível
-Nem me contes, o que me dizes das palavras de ordem revolucionárias?
-Não podia repetir nem uma, provocaram dermatite aguda.

Identificava-me muito com o robot, assim foi que o chamei à Casa Branca e pedi para falar com o presidente. A secretária passou a chamada para seu escritório e me respondeu uma voz desconhecida.

-Good morning Ciro, is Obama in this side.
-Quem!?...E onde caralho está o Bush?
-Eu ser o novo presidente. eu pedir à CIA para recortar o seu orçamento para dá-lo à General Motors.
-AAAAAAAHHHHHHH!!!!!!!!!!!!!!!!!!

(Não perca o próximo episódio da Saga do Ciro versus o G2: "A guerra robótica contra a CIA.")

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Um povoado fantasma


Uma amiga chegou de Moa e me trouxe estas fotos. O níquel baixou de preço no mercado internacional...porém ao povo de Moa isso não importa, faz tempo que renunciaram a isso que se chama "qualidade de vida". Aqui lhes deixo estas fotos, que quando foram vistas por Ciro, disse: "Parece Minas Morgul, do Senhor dos Anéis".
Moa, um povoado sem paisagem, onde tirar uma foto pode custar-lhe a câmera. Segundo me conta uma amiga o ar é empesteado, e quando perguntou à uma enfermeira se era daninho, ela respondeu que não e que sim ao mesmo tempo (medo?).






quarta-feira, 17 de junho de 2009

Concerto de Cafe Tacuba


Estou acostumada a chegar aos concertos massivos e não conseguir ver nada do que sucede no palco porque sou pequeninha e as telas que põem, por alguma estranha razão, são vistas com dificuldade. Porém o realmente triste da terça-feira no protestródromo com Cafeta Cuba não era vê-los, senão que da minha perspectiva o único que se lia era: Tudo pela Revolução. Como cheguei um pouco tarde, uma amiga ironizou dizendo que Raúl Castro havia dado início ao "concert" com um discurso friky.

Atrás do cartaz as bandeiras negras, e detrás das bandeiras negras, os letreiros em vermelho da oficina de Intereses...que desagradável! Todos os que como eu medem menos de 1 metro e 70 recordaremos só essa imagem deste concerto em Havana, a única que conseguíamos ver. Não critico ninguém, porém se eu fosse um músico estrangeiro e viesse tocar em Cuba, nem morta iria para o “Prote”(protestródomo), melhor seria tocar para o Comitê Central junto com os envolvidos na celebração do “50º aniversário da existência dos órgãos da segurança do estado”.

Porém o pior foi no final, uma turba de policiais com apitos começou a silvar atrás de nós para que "desocupássemos” o lugar. Fui ficando sozinha na plataforma até que uns 10 silvos me guincharam pelas costas, então virei-me e lhes disse:

-Não me vou por a perguntar as razões pelas quais tenho que ir daqui, porém já que vão me tirar, ao menos tenham a decência de não me tratarem como uma vaca.

Uma garota e dois rapazes policiais me pediram por favor, ainda que um que parecia ser o chefe disse que já estavam há muito tempo tirando as pessoas e que tínhamos que ir, não importa como, se com apito ou empurrões, porém ir.

-Pagam você para tirar-me? Não? Então este tempo que você passa aqui inclui seu salário, não é minha culpa que seja um trabalho lento, me pede por favor que me vou, apita de novo e fico.

Não apitou mais, porém ficou resmungando umas maldições, suponho que à juventude em geral... amargura dos corpos repressivos.



terça-feira, 16 de junho de 2009

Blogueiros iranianos




Faz umas semanas num dos encontros, assistimos por memória flash este vídeo de promoção da blogosfera iraniana. No momento foi entregue à quantos editores de vídeo, graduados da escola de cinema ou produtores de clips que conheço para ver se alguém se anima e nos faz um para divulgar-mos. O nosso talvez nunca teria tantos nomes de blogueiros, não haveriam BlackBerrys conectados nas ruas e no máximo, ao invés de telas e cabos de fibra óptica, haveriam uns CDs, umas memórias flash e umas portas USB (ainda poder-se-ia ter em conta os correios eletrônicos).

Porém uma coisa me conectou com esses blogueiros longínquos, como se o cabo que me une à rede já existisse também na minha cabeça, eles, como eu, são jovens e sonham com três coisas: DIREITOS HUMANOS, LIBERDADE e MUDANÇA.

Hoje as oito e meia da manhã no "informativo" da televisão cubana anunciaram as "ultra democráticas e limpas" eleições no Iran, inclusive puseram umas imagens do povo inflamado apoiando o presidente eleito Ahmadineyad. No hora soube que era mentira, saí da minha casa perguntando-me simplesmente: O que estará acontecendo alí hoje? O bom da televisão cubana é que é como um jogo de enigmas, tens que ler nas entrelinhas, negar os conceitos, resolver a charada, duvidar em todos os momentos e saber que ainda não sejam certas, essas aparentes "notícias" não estão aí por gosto, é muito estimulante para o intelecto, toda uma suposição, o Noticiário Nacional de televisão.

Mais tarde pude finalmente ler (os vídeos não me pertencem como já se sabe) em Penúltimos Días a verdadeira história, pois certamente, algo sucedeu hoje no Iran, só que não foi uma celebração nacional em honra ao presidente senão exatamente o contrário.

Não sei como as arranjaram para colocar imagens de festa e tudo o mais no noticiário, e até um pequeno close up de Chávez, enquanto a jornalista dizia voz em off que o presidente felicitava o governante justamente eleito...nunca se sabe, Chávez pode não ter dito isso (ainda que provavel).

Pergunto-me o que dirão de nós cubanos (se é que nos mencionam) na televisão oficial iraniana, certamente imagens de um povo feliz que adora seu "presidente" e dá a vida pela revolução, é o que se ve por esses lares. Porém eu do meu pequeno blog lhes envio minha solidariedade e minha admiração, nós somos muito menos, porém também estamos aquí na rede e eles nos dão forças.

Ps: O vídeo que tenho tem subtítulos, este creio que não, lamento não poder subir o meu porém já sabem, se começar a subir posteio amanhã de manhã porque tem 10 MB.

Blogueiros iranianos




Faz umas semanas num dos encontros, assistimos por memória flash este vídeo de promoção da blogosfera iraniana. No momento foi entregue à quantos editores de vídeo, graduados da escola de cinema ou produtores de clips que conheço para ver se alguém se anima e nos faz um para divulgar-mos. O nosso talvez nunca teria tantos nomes de blogueiros, não haveriam BlackBerrys conectados nas ruas e no máximo, ao invés de telas e cabos de fibra óptica, haveriam uns CDs, umas memórias flash e umas portas USB (ainda poder-se-ia ter em conta os correios eletrônicos).

Porém uma coisa me conectou com esses blogueiros longínquos, como se o cabo que me une à rede já existisse também na minha cabeça, eles, como eu, são jovens e sonham com três coisas: DIREITOS HUMANOS, LIBERDADE e MUDANÇA.

Hoje as oito e meia da manhã no "informativo" da televisão cubana anunciaram as "ultra democráticas e limpas" eleições no Iran, inclusive puseram umas imagens do povo inflamado apoiando o presidente eleito Ahmadineyad. No hora soube que era mentira, saí da minha casa perguntando-me simplesmente: O que estará acontecendo alí hoje? O bom da televisão cubana é que é como um jogo de enigmas, tens que ler nas entrelinhas, negar os conceitos, resolver a charada, duvidar em todos os momentos e saber que ainda não sejam certas, essas aparentes "notícias" não estão aí por gosto, é muito estimulante para o intelecto, toda uma suposição, o Noticiário Nacional de televisão.

Mais tarde pude finalmente ler (os vídeos não me pertencem como já se sabe) em Penúltimos Días a verdadeira história, pois certamente, algo sucedeu hoje no Iran, só que não foi uma celebração nacional em honra ao presidente senão exatamente o contrário.

Não sei como as arranjaram para colocar imagens de festa e tudo o mais no noticiário, e até um pequeno close up de Chávez, enquanto a jornalista dizia voz em off que o presidente felicitava o governante justamente eleito...nunca se sabe, Chávez pode não ter dito isso (ainda que provavel).

Pergunto-me o que dirão de nós cubanos (se é que nos mencionam) na televisão oficial iraniana, certamente imagens de um povo feliz que adora seu "presidente" e dá a vida pela revolução, é o que se ve por esses lares. Porém eu do meu pequeno blog lhes envio minha solidariedade e minha admiração, nós somos muito menos, porém também estamos aquí na rede e eles nos dão forças.

Ps: O vídeo que tenho tem subtítulos, este creio que não, lamento não poder subir o meu porém já sabem, se começar a subir posteio amanhã de manhã porque tem 10 MB.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Pobrezinhos dos correspondentes estrangeiros



Foto: Saída de Gorki do tribunal de Playa em agosto de 2008, por OLPL

Não vou negar que me preocupa mais responder a um jornalista da BBC do que criticar o governo, paradoxos da vida: se um dia for presa por dizer o que penso, espero, com certeza, que Fernando dê a notícia. Quero comentar o post "Pobrezinhos dos cubanos", de Fernando Ravsberg em seu blog. Não vou enumerar os MUITÍSSIMOS casos de miséria absurda que do meu apartamento no Vedado vejo cada dia, dos numerosos amigos que tenho vivendo na pobreza, do refeitório de indigentes que há na esquina da minha casa e muito menos das minhas necessidades (parece que estou nos 50% que não recebe dinheiro dos Estados Unidos e que não tem "swing" para a fraude enriquecedora). Com certeza, não posso evitar de perguntar-me onde está este 50% que não pega ônibus, que não viaja de trem (não deveria melhorar o transporte ou se refere aos 50% dos cubanos que você conhece?), que aluga suítes nos hotéis (e os moradores de casas de cômodos, quantos por cento representam?), que tornou-se milionário trabalhando a terra (estou louca ou quando vou ao campo o que vejo não é miséria?). De maneira profissional gostaria estimulá-lo Ravsberg, para que leia o estudo "Uma família cubana termina o 2006", do também jornalista Reinaldo Escobar; e um pouco mais informalmente fazer outro convite: viajar comigo na férias para Santiago de trem, eu pago todas as despesas.

Ainda sim voto pelos "Pobrezinhos dos cubanos" que não têem direito a dissentir, que não têem eleições livres, que não têem direitos políticos, que não têem liberdade de imprensa, que não podem comprar nem vender casas, que não podem ter Internet, que não podem sair do país sem permissão, que necesitam de um "Yuma" (estrangeiro) que assuma seus projetos econômicos, que não têem direito de fazer contrato com nenhuma empresa de maneira individual, que não podem mover-se livremente pelo território nacional, que necessitam de uma mudança temporal de moradia para ficarem uns meses na casa de um amigo, que não podem mudar o governo do seu país, que têem um só partido, que não podem ter mais de duas casas, que não podem comprar um carro, que não podem dirigir o carro de outro, que não podem alugar e fazer consertos dentro das casas, que não podem contratar pessoal para trabalhos domésticos, que não podem NÃO ser pioneiros, que não podem, enfim, fazer com seu dinheiro o que lhes dê vontade.

Porém ainda mais pobrezinhos, querido Fernando, creio que são os correspondentes estrangeiros creditados em Cuba, que vivem no paradoxo de dar a notícia ou deixar de serem jornalistas.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

A estreita rede (entrevista de um cubano na China)



Desde quando estás vivendo na China?

-Cheguei aqui nos finais de 2008.

Quando vivias em Cuba tinhas acesso a Internet ou correio eletrônico? Como funcionava?

-Tinha acesso a Internet e correio eletrônico em meu trabalho, Porém a conexão era péssima, assim era que basicamente não o usava exceto em páginas como Wikipedia, que carregava facilmente, e algumas outras, não muitas.

Sabias da existência de algum blog, os lias? Como?

-Sabia da existência de blogs, porém não lia nenhum, pelo mesmo que te disse: minha conexão era muito lenta, e muitas vezesas páginas não carregavam.

Tens Internet na China? Quais blogs e quais sítios acessas?

-Tenho Internet e acesso bastante sítios, vários deles são blogs: GY, Octavo Cerco, Bloggers Cuba (um dos poucos sítios onde se pode conversar, sem que te saiam fanáticos de um e outro lado fazendo gritaria).

Faz uma semana mais ou menos me dissestes que já não podes entrar em alguns sítios. Poderias me dizer quais e desde quando?

-Dei-me conta quando tratei de entrar em Ocato Cerco e não pude. Com Youtube já havia acontecido, porém como podia entrar intermitentemente, pensei que era algum rôlo no Youtube e não aqui, mais tarde soube que era em toda a China. As vezes me ponho a buscar imagens no Google e a página "falha", é que estão bloqueadas. Sei que faz pouco bloquearam Hotmail (muitos chineses usam MSN, assim foi que houve muita comoção), além disso estão bloqueados Twitter, Flickr e vários outros sítios desse tipo. A cada momento ocorre que não posso entrar em algum sítio, agora me dou conta de que é por isso, porque quando uso proxy posso entrar. Ha! várias páginas de proxy também estão bloqueadas. Enfim, a mensagem de êrro quando quero entrar numa página é bastante comum, e já sei que não é meu admnistrador de rede, é o país inteiro.

Conheces algum blogueiro chines ou lês algum blog alternativo? Sabes que plataforma usam?

-Não conheço nenhum blogueiro chines, nem sei qual plataforma usam, porém suponho que usem blogspot e wordpress, como quase todos.

Em tua opinião, porque acreditas que bloquearam esses sítios?

-Aqui há uma grande campanha contra a pornografia e coisas como essa, por isso têem bloqueado muitos sítios. Além disso há coisas aqui das quais não se pode falar, e as páginas relacionadas a elas estão bloqueadas, Fora isso, não sei de outras razões, porém o fato é que a censura da Internet aqui é muita.

Somados à censura e o bloqueio que o governo cubano exerce sobre determinados sítios na Internet: serviço de correio, portais informativos, navegadores e plataformas blogueiras; agora a Microsoft bloqueou o MSN Messenger para todos os usuários dentro do território cubano e no Facebook fez-se uma votação on line onde um dos pontos tratava da exclusão de "amigos" de dentro de Cuba. Como te parecem estas medidas? Consideras que possam funcionar como medidas de pressão para que o governo cubano diminua a censura ou não?

-Chateiam-me, o único que fazem é complicar mais nossa vida. Em Cuba, qualquer "clic" adicional que tenhas que dar na Internet, é uma chiveta. Além disso não acredito que funcionem para nada como medida de pressão para suspender a censura. No final, os afetados por essa medida em Cuba vão ser três tipos: os que tenham Internet, a uma velocidade suficiente para acessar essas páginas. De fato, os estariam estimulando, porque sítios como Facebook servem de certa forma para quebrar a censura, e não duvido que através dessas vias, com a cooperação de "Radio Bemba" muita gente saiba de coisas lá dentro, de que não saberiam de nenhuma outra forma.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

A estreita rede





Faz tempo que eu havia guardado uma imagem do Google.cu (o que abre de Cuba), sem gmail ; e Google.es ( que me esforço em abrir quando me conecto, literalmente navegando contra a corrente) com gmail e com muitas outras coisas (sobretudo nos buscadores). Faz semanas tampouco temos MSN, e uma amiga advertiu-me que talvez eu tenha que sair do Facebook porque a nova declaração de direitos e responsabilidades do Facebook diz que:

4.3 Não utilizarás o Facebook se te encontras nem país sob embargo dos Estados Unidos ou que faça parte da lista SDN (Specially Designated Nationals, Nacionais especialmente designados) do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos.

Numa absurda contradição com este princípio, também do Facebook:

10. Um mundo
O serviço do Facebook deve atravessar as barreiras nacionais e geográficas e estar disponível para todo o mundo.

É lamentável que se facilite desta maneira o trabalho do governo cubano, e desgraçadamente não só do governo cubano senão também de outros governos no mundo que, igual a este, mantêm seu poder pela censura e pela falta de liberdades de seus cidadãos, que assumem aparentes conquistas sociais como bandeiras para tapar o verdadeiro caráter repressivo e corrupto de seus regimes.

Mantenho comunicação com um amigo que vive na China, nas últimas semanas suas mensagens estão cheias de frases como: “Não posso entrar porque está bloqueado”, “Tens algum Proxy que me envies?” e até um surpreendente “A conexão cai toda hora”. Decidi fazer uma entrevista com ele para compreender melhor como funciona a censura, que é uma só, nestes dois mundos tão distantes e tão parecidos num certo sentido. A entrevista será anônima, para proteger a segurança do meu amigo e será publicada no próximo post.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

O Mel do Poder



Foto: Orlando Luis Pardo Lazo

Com seus quinze anos Leo se considera um tipo inteligente, descobriu a chave do êxito no Sistema Educacional Cubano: ser o presidente da FEEM (Federação Estudantil do Ensino Médio). A ideologia lhe importa pouco e a verdade é que mais queria ir aos Estados Unidos do que perder sua juventude em Cuba. Por hora a FEEM lhe vai OK: nunca vai para a escola, não faz muitos dos exames porque concordam, não tem a menor idéia do que é o trabalho em equipe porque nunca entregou um trabalho prático, sabe que optará pela carreira universitária que quiser, não tem "encrenca" com nenhum professor e é o que manda entre os alunos...descobriu o que El Experto definiu como "La Miel de Poder".

O que sabe é que pagará um preço triste: chegará na universidade sem os conhecimentos necessários, exceto que continue escalando em seu "aval" político, nunca poderá chegar a ser um profissional; como só tem quinze anos, ainda não se aventurou na semântica da "Dupla Moral", não tem idéia do triste e pulsilânime que pode chegar a ser Viver na Mentira; é um bom rapaz, não imagina que um dia, em sua carreira defeituosa até o cimo, pode esquecer seu verdadeiro destino e converter-se num néscio oportunista.

domingo, 7 de junho de 2009

O povo vs uma patrulha



El Ciro e uns amigos foram acampar em Varadero. Estiveram lá num fim de semana e regressaram num interprovincial Astro Yuton. Só 27 pesos cubanos e o ônibus os deixaria no terminal de ônibus de Boyeros, Havana.

Em Tarará uma patrulha com dois policiais, um homem e uma mulher, os detiveram. pediram ao chofer os documentos alegando exceso de velocidade e o mandaram descer do ônibus. Os passageiros, de cara feia, ficaram esperando dentro, olhavam da janela como o motorista protestava e se queixava de algo.

Alguém deu o alarme: estão levando-o! Aí mesmo todo o pessoal desceu, o cara já estava metido dentro do Lada. Lançaram-se sobre ele e o tiraram diante dos narizes dos policiais, que não esperavam uma turba praiana com desejos de chegar rápido em casa no domingo. Fizeram o mais razoável: fugir. O pobre chofer estava emocionado, contou a história detalhadamente: os diálogos, as ameaças e a prisão.

O pessoal se comoveu, quase todos haviam sofrido algum tipo de assédio por parte da PNR. Decidiram colher assinaturas (nome completo e número da carteira de identidade) todo mundo assinou, tiraram fotos e entregaram `a vítima resgatada para que fizesse uma denúncia.

Chegaram um pouco mais tarde que o previsto, porém todos estavam orgulhosos, certamente o chofer poderá dizer que foi a melhor viagem da sua vida.





quinta-feira, 4 de junho de 2009

Motivo 1 (segunda parte)

Foto: Ciro e eu entrando na Etecsa, na 19 com C, Vedado.

Na segunda-feira fui à Etecsa pela terceira vez, para ver finalmente se o "Motivo 1" continuava de pé e por fim, eu sem telefone. Antes de sair para lá comuniquei-me com algumas das "minhas fontes", que ainda que não pudessem me ajudar muito fizeram-me sentir melhor, porque o fato de ter umas "fontes" é o mais reconfortante.

A garota que recebeu Ciro e a mim perguntou-me se éramos "os desconectados por decisão do Escritório Comercial" e nos mandou direto à admnistração, no segundo piso. Alí falamos com uma mulher muito amável, que me deu seu nome e sobrenome porém que omito porque estou certa de que fez o que pôde e o que não pôde também, a pobre parecia bastante descontente com seu trabalho: tirar o disfarce da Segurança do Estado.

Segundo as últimas informações, na realidade meu telefone não foi desconectado por nenhum Escritório Comercial, senão que por um "êrro desconhecido alguém mandou desconectá-lo", quando o escritório o conectou outro "êrro" voltou a desconecta-lo e desde então "há muitos êrros" cada vez que tratam de conecta-lo. Eu estava bastante alterada e lhe disse que tomaria como certo os êrros dois e três, porém que lamentava não acreditar de modo nenhum no Êrro Primário ou Motivo 1 (origem de todos os demais, uma espécie de Big Bang ou "Idéia Primordial"). Lamentei que fosse ela que tivesse que aguentar meu escândalo, quando na realidade com quem eu queria e deveria falar era com "O Criador de Êrros", foi paciente e com seu olhar cansado me pediu que voltasse na quinta-feira, para ver se o "problema" poderia ser resolvido.

Ela mesma me chamou em casa uma hora depois:

-Bem Claudia, já tens o telefone conectado.
-Obrigado, esperemos que não hajam mais problemas.
-Esperemos.

Com certeza, ainda que meus contatos não pudessem ajudar-me muito, inclusive à um disseram que o telefone estava conectado e era mentira, inteirei-me de alguns detalhes:

MLC: Moeda Livremente Conversível (eu estava certa de que era Monitoração de Linhas Controvertidas, porém me equivoquei). O que nunca chegarei a entender é por que chamavam MLC se eu não tenho nenhum serviço em divisa assinado...mistérios Etecsianos.

A outra informação é um pouco triste, demonstra a impunidade com que atuam os serviços secretos nesta pequena Ilha: mostra que uma vez por semana, num dos pontos da Etecsa desta cidade, a Segurança do Estado chega pontualmente. Os trabalhadores saem de um dos escritórios e esperam fora umas duas horas, eles (os seres sem rosto) fazem seu trabalho (ninguém sabe qual é) agradecem a colaboração dos trabalhadores, verbalmente com certeza, e depois se retiram.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Demandas e petições



Eu já disse uma vez num post que sou positiva: assino o que for. Tenho muitos amigos que ao contrário optaram por: não assino nada. Por mim tudo bem os dois modos e acredito que essa é a verdadeira história da democracia: cada qual tem o absoluto e inalienável direito de fazer o que crê que é o correto, ainda que difira da maioria.

Eu bati panela, ainda que não gostasse da idéia; eu me solidarizo com todos os que estão em greve de fome, ainda que, na verdade, só faça dieta para baixar o peso o que me dá muito trabalho; fiz minha colagem para o primeiro de junho, e embora tenham pedido pouca criatividade, não pude evitar tirar do meu arquivo algumas imagens e coloca-las no Photoshop.

Com meus poucos conhecimentos de política, recordo que uma vez estive tratando de averiguar quantos partidos de oposição haviam em Cuba. Meu objetivo era filiar-me a todos. Porém em política as coisas são de outro modo e não o consegui, tal indisciplina cidadã não se pode ter num partido, que é uma coisa mais séria. É uma das razões porque tenho um blog, para poder ser parte de Tudo que exista para exigir Mudança ao governo de Cuba (pacificamente, claro).

Porém apesar de minha participação ou minha solidariedade, isso não quer dizer que não tenha uma opinião a respeito. Se me houvessem perguntado haveria dito que uma semana é insuficiente para que todos os blogueiros da Ilha se inteirem, decidam e possam planificar e buscar a maneira ( este ponto é fundamental ) de conseguirem se conectar no dia da manifestação. Para isso se necessita tempo. Outra coisa é que a blogosfera em Cuba tem outra dinâmica, há muita gente que lê a informação em "outro tempo", o tempo da Internet ainda não chegou ao litoral deste país. Talvez além dos blogueiros, há que se ter em conta todas essas pessoas que não tem Intenet e que se informam, porém, no momento inoportuno, há que se esperar as vezes um pouco mais para que em Cuba a gente esteja na expectativa, para que saibam que tal dia haverá uma manifestação, tempo para que as memórias flash e os discos corram pelas ruas, para que nossa rede "de mão em mão", lenta porém inevitavelmente segura, possa também cumprir seu objetivo.

Considero ademais que as manifestações isoladas são menos efetivas, faz tempo o disse num de nossos encontros blogueiros. Se me houvessem perguntado, eu haveria pedido que fizessemos a mesma manifestação a cada dois meses, ou todos os meses, minha opinião é que a repetição faz a força e soma as vozes: há que se bater na panela todos os meses, há que se enviar a carta todas as semanas, há que se estar "berrando" até que se consigam os objetivos, se não, parece-me que se perde o sentido.

E por último, se me houvessem perguntado, minhas demandas teriam sido:

-Renúncia do Presidente do Conselho de Estado, dos Ministros e do plenário da Assembléia Nacional.
-Constituição de um Estado de Direito e preparação de Eleições Livres, com todos os partidos participando.
-Limpeza dos Serviços Secretos, Cargos Públicos e Quadros do Governo pertencentes ao Partido Comunista.

segunda-feira, 1 de junho de 2009