sábado, 29 de agosto de 2009

Agentes Secretos


Faz pouco lí em cubaencuentro sobre uma convocação para "agentes secretos". Talvez seja um exemplo do que acontece quando todo mundo é corrupto: há déficit de pessoal. Ser um agente secreto não é necessáriamente sinônimo de trabalhar para a polícia secreta, não acredito que os serviços secretos estejam tão mal para fazer convocações em massa.

O que se trata é que, como dizemos, outra vez mais do mesmo: quem vende frango, ovo, carne, quem tem um negócio particular próspero, quem aluga filmes e quem recebe dinheiro do estrangeiro. Por fim esta triste notícia não é mais que um grito desesperado do governo que aparentemente tem menos alcaguetes do que nós podemos imaginar.

Assim é que me pergunto o que acontece com os CDR, com a FMC, com as organizações de massa que se estruturam em todos os níveis da sociedade e que se supõe que informem sobre todas as coisas. "A direção da Revolução" passa anos tolerando que a gente viva da ilegalidade, nunca tiveram intenção de resolver o problema do salário e por fim relevam às escondidas a corrupção. Nestas alturas ter informantes não seria mais difícil, o ilusão será encontrar informantes não viciados no mercado negro.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Being Isaac Asimov


Imagen: Garrincha

Agosto é um mes especialmente dificil, além de todas as pequenas coisas com que se tem que lidar o ano inteiro - o noticiário da televisão, conseguir papel higiênico, coisas íntimas, um blister de meprobamato, a dose diária de multivitaminas, etc - há que se suportar os 36 graus de calor e o catarro.

Porém as vezes nesses momentos de tédio violento algo ilumina a tela da televisão. estou sentada no computador e logo reconheço a voz delirante e conhecida que já quase nunca tenho o prazer de escutar. Apesar de estar super acostumada posso sentir que aquilo que me faz chorar de rir não pode ser eliminado: a incoerência.

Em tres minutos o Comandante fala do aquecimento global, em seguida menciona um submarino e por alguma estranha conexão mental retoma sua última reflexão: "O Império e os robots" (uma homenagem à Isaac Asimov), para depois concluir que a república martiniana e a bolivariana tem estado sempre sob opressão, e que isto pode ser demonstrado matemáticamente (neste ponto Ciro exclamou: Que disse?!).

Segundo a apresentador do curto resumo, Fidel Castro falou durante tres horas ante um pequeno auditório de estudantes. A única coisa que não consigo entender é como ninguém em algum momento começou a rir a gargalhadas, talvez seja por essa razão que nestas alturas a audiência esteja bem reduzida, a não ser que alguém não aguente e mareje os olhos d`água, fique com o rosto vermelho e tenha que sair dando cambalhotas (se houver tempo).

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Cantar no olho de Sauron*


Imagem: El Guamá

O que me fascinaria na verdade era ir à um concerto de seis horas com um montão de músicos neste país onde o aborrecimento e a abulia são o pão de cada dia. Todavia não posso negar que isso de ir ao Olho de Saurón me causa certa aversão, e não só o Olho, como o que o rodeia: o Comitê Central do Partido Comunista (atrás), a Sede do Ministério do Interior (na frente) e a sede do Minsitério das Forças Armadas (no lado). Estou certa de que a maioria das pessoas lá fora não sabe que este é o entorno do que uma vez foi a Praça Cívica.

Discutindo outro dia sobre o concerto de Juanes com um amigo, ele me dizia que na realidade este lugar existia antes da Revolução e que nisso, o do concerto, não havia que tomá-lo tão literalmente. Não obstante concordar com que não há que tomá-lo tão literal, negar que desde faz cinquenta anos a Praça tem dono é uma ingenuidade.

Acredito que haveria sido mais sadio que o concerto fosse em Mordor, alí vieram antes músicos para tocar ( Manu Chao, Audio Slave, Café Tacuba, Rick Wakeman e Air Suply) e talvez a força da música tenha perdido um pouco a maldição política que lhe deu origem (apesar dos horríveis cartazes de Viva a Revolução que põem por todo o pódio e dos quais espero que Juanes possa se livrar). Pode ser paranóia minha, porém suspeito que ao cantor-compositor ninguém tenha dito que onde geralmente dão concertos os músicos estrangeiros e nacionais que podem tocar em Cuba é alí.

A respeito do fato de que Porno Para Ricardo toque na Praça, eu sinceramente estou em absoluto desacordo: primeiro porque não vão poder tocar "El Comandante", e segundo porque me parece MUITO ARRISCADO para qualquer membro da banda por um pé em semelhante lugar.

* O Olho de Sauron: apelido que se dá à Praça da Revolução, creio que a origem está na antena de rádio que tem na ponta e que se ilumina com uma luz vermelha.
Mordor: apelido da Tribuna Antiimperialista, também conhecida como Protestódromo.

sábado, 22 de agosto de 2009

Quem é mal interpretado?



Quando escuto uma análise que pretende colocar pontes entre o artista, a obra e o oficialismo, frases recorrentes como "fui mal interpretado", "não souberam entender minha mensagem", "eu nunca quis dar uma opinião política" são das que me revoltam o estômago, sobretudo se é suposto que eu deva levantar a mão e fazer uma pergunta, dar uma opinião. Outro dia estive num debate e saí deprimida: nenhuma pergunta real, nenhuma resposta real. Em algum momento alguém disse: "Imagina, podem pensar que sou um verme", e eu disse a mim mesma: a partir deste instante se levanto a mão e começo uma pergunta, por questões inerentes a minha personalidade serei obrigada a começar dizendo: "Como verme gostaria de saber se...". Porém no fundo me sentia mal e não estava para brincadeiras, arrependi-me desde o momento em que descobri que não levantaria a mão, juro que não foi covardia, foi decepção.

Com o passar do tempo as frases mudam e se ajustam a uma nova maneira de entender o mundo. Quando são princípios intransigentes e excludentes porém que não deixaram de ter vigência, suavizam as vezes sua construção sem por isso perder sua essência. Desde há alguns dias tenho minha cabeça dando voltas com esta incoerência: "Dentro da revolução tudo, fora da revolução nada", da minha percepção sinto uma mudança, poderia tratar de materializá-la desta forma: "Dentro da arte tudo, fora da arte nada".

Talvez uma nova estratégia governamental haja traçado uma nítida linha vermelha entre nós: a crítica a partir da Arte (válida), a crítica fora da arte (contrarrevolucionária). Não quisera que este post resultasse ofensivo para ninguém, é só a opinião de quem critica fora da arte e sem ânimo de "fazer cultura".

O governo cubano tem utilizado sempre técnicas rebuscadas de censura,faz pouco vi os documentários de Nicolás Guillén Landrián e pensei que seria bastante dificil para um estrangeiro compreender porque o censuraram nos sessenta. Sem tirar-lhe o valor e sobretudo com toda a humildade ante "a crítica a partir da arte", quisera sómente com este post recordar que a linha vermelha não foi colocada por nós, senão por eles; as vezes com os anos esses detalhes são esquecidos.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Festival de Rotilla e concerto do La Babosa Azul




Na primeira vez em que fui à Rotilla tinha 15 anos, éramos umas 50 pessoas e as condições eram muito ruins. Nunca mais voltei até que neste sábado regressei de lá com uma única certeza: valeu a pena. Quando o ônibus entrou na praia de Jibacoa sentí que havia feito uma viagem de avião, melhor dizendo, que havia aterrissado em outro país.

Mais de 5000 pessoas estavam ocupando o lugar e fazia umas horas que não parava de chover embora que a ninguém parecia importar. Os organizadores haviam montado quatro cenários: vídeo, música techno, rock-rap e fusion (andei movendo-me entre os dois últimos). O pessoal com suas barracas dançava, banhava-se na praia, conversava, enfim, em Rotilla havia uma "tremenda voltagem". Com certeza, entre os jovens, alguns homens de camisa xadrez pareciam não se ajustarem ao evento...pergunto-me o que fariam no pedaço além de se aborrecerem.

O pior é que me sinto incapacitada para fazer uma crônica realista das minhas últimas 24 horas na praia, tudo era demasiado sensorial: liberdade e alegria seria o melhor resumo do que pude viver neste festival. Aqui lhes deixo as fotos e um pequeno vídeo do concerto do La Babosa Azul.

Nota do tradutor: homens de camisa xadrez = o "disfarce" vagabundo dos serviços de segurança.






segunda-feira, 17 de agosto de 2009

sábado, 15 de agosto de 2009

Periculosidade pré-delitiva


Foto tirada de hhh
Agora coube à Pánfilo ser pego por periculosidade dentre todos os que caem a cada dia. Estará dois anos atrás das grades por haver gritado que tinha fome diante de uma câmera, porque isso é o que o governo considera perigoso. Lembro-me bem das palavras do advogado de Gorki no dia anterior ao julgamento em julho do ano passado: para processar-te não se precisam de provas, uma declaração da PNR basta, ninguém escapa. De passagem nos contou que a causa cai como anel no dedo para a repressão que agora nem sequer têm que ater-se à burocracia legislativa para encarcerar alguém.

O juízo dava vontade de chorar, ví a chefe do setor e um dos seus subordinados mentirem. A língua da segurança do estado era a que punha as sílabas nas palavras dos dois policiais que tremiam as mãos enquanto depunham. Depois chegou Heidi, presidenta da zona dos CDR de Playa e professora do ISA de História da Arte. Com ela não havia equívoco: não disse nem uma verdade, o pior é que mentiu por convicção, e isso é, sem dúvida alguma, o mais triste que se pode ver do recinto do público.

É repulsivo imaginar a que nível de arbritariedade pode chegar este governo pelos seus meios para esmagar o cidadão e despojá-lo de tudo, até de suas próprias ideias. Se não houvesse visto com meus próprios olhos talvez nunca houvesse podido entender.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Sobre as que não se adaptam

Imagem: escultura na entrada do cinema Chaplin, na 23 com 10, Vedado

Quando tinha 14 anos, estava no nono grau e a única coisa que sabia era que não queria me diplomar, por isso não me apresentei para os exames de ingresso na Lenin. Não estava certa de entrar na San Alejandro: naquela época para a Cidade de Havana davam uns 7 lugares, e era de conhecimento público entre os alunos que ficavamos estudando na Elemental de Artes Plásticas, que 5 delas tinham nomes e sobrenomes. Adolescente, não tinha nem idéia do que ia fazer com a minha vida e me haviam chegado rumores de que optar pelo pré-universitário numa escola sem internato poderia significar muitos dólares que a minha família não tinha, ou viver em extrema pobreza.

Terminei a secundária sem haver feito provas para ingresso em nada e sem meu certificado para o pré-universitário sem internato. Optei por ir para a escola "Heróis de Chapultepec", uma escola interna para professores em formação, com a esperança de que tres anos poderiam ser mais rápidos e depois poderia ir para a Universidade de Havana estudar biologia.

Após tres semanas em Chapultepec, na cidade de Guira de Melen, eu perdi 7 kilos. Eles me deram Salbutamol spray duas vezes ao dia e Aminofilina intravenosa, droga broncodilatadora. Na escola, o médico era o único a saber, além de mim, que eu não me adaptara bem.

Minha mãe percorria todos os ministérios apresentando os atestados do médico da escola interna dizendo que eu deveria ser transferida para uma escola não interna. Tres semanas depois eu estava fora da escola com o certificado, e fiquei em casa esperando a resposta do Ministério da Educação sobre o que eles iam fazer comigo.

Um mes depois tive recusada minha tranferência para uma escola pré-universitária não interna, com a afirmação que minha doença desenvolveu-se na escola interna e eu somente poderia ir para uma escola não interna se já tivesse a doença.

Finalmente fui estudar Contabilidade e Finanças, começando no fim de outubro. Ainda me lembro do primeiro dia quando, sentada na classe, não tinha a menor ideia do que era "Contabilidade".

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Outra geração


Imagem: Grafiti em Centro Havana

W tem 16 anos e sempre está na G (rua). Gosto de falar com ele porque me enche de uma sensação de MUDANÇA que não posso encontrar em nenhum outro lugar deste território. Não me faz lembrar quando eu tinha 16 como ele, nem se parece com nenhum dos meus amigos daquela época, nele há algo de que nós não tínhamos consciência.

Já sei que a palavra soa um pouco "batida", porém não há outra para definir um rapaz tão jovem que já crê saber o que quer fazer com sua vida, e luta para conseguí-lo. Não quer sair do país e sem medo toca as canções dos Los Aldeanos, Porno Para Ricardo e La Babosa Azul em pequenos grupos pelo parque. Tem ideias políticas muito interessantes e diz coisas que me parecem delirantes quando me dou conta de que tenho quase o dobro da sua idade. W chegou a tres conclusões:

-Não quer se ir do país: "Que se vão eles, que são uns velhos", diz sem saber que segundo contam por aí, umas quantas décadas antes quase as mesmas palavras disse Dulce María Loynaz numa entrevista: "Que se vão eles, que chegaram depois".
-Lê tudo que lhe dão na G: panfletos, discos e livros. Diz que para poder saber o que há no poder há que ler tudo, outro dia me repreendeu porque lhe disse que não leria "A história me absolverá" nem que me pagassem.
-Está convencido, igual a todos os seus amigos, de que não fica calado e de que se "pode empurrar o muro".

domingo, 9 de agosto de 2009

O traidor (as provas)


Tirado da Saga: El Ciro versus a Segurança do estado

Agora sim não cabem dúvidas...Sempre nos enganou...Digam-me se este documento, extraído dos arquivos ultra-secretos do G2, não é verídico. Na mesma pasta encontrava-se esta foto e como se fosse pouco contamos com sua confissão.

O farsante Ciro Javier Díaz Penedo trabalha como agente encoberto desde 1978, ano em que nasceu. Foi designado para espionar a si próprio e inoformar sobre suas próprias atividades para o que seus superiores o indicaram sobre ações que devia tomar contra si mesmo. E assim informava a segurança do estado sobre seus próprios concertos e demais planos contrarrevolucionários.

Claudia Cadelo e Van Van não existem, são a mesma pessoa: El Ciro. Foquem-se no tamanho do post desta tal de Claudia e vejam os de Van Van, são igualmente grandes. E absurdamente (reconhecem a palavrinha) antagônicos, nunca coincidem em nada.

É assim que este charlatão pretende enganar-nos porém não conseguirá porque para isso eu estou aqui. Eu, El Ciro, que busquei todas as provas para me desmacarar públicamente. E quero dizer que não me deterei até matá-lo ainda que nisso me acabe a vida.



sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Os requisitos da UJC


Eu não vivenciei, porém me contam que pelos anos 70 entrar na União de Jovens Comunistas era uma façanha. Havia que se demonstrar uma integridade revolucionária impoluta, haver participado em quanta atividade política ou combativa que fluísse no ambiente e haver cumprido a perfeição com a tarefa do turno que o comandante houvesse ditado.

Porém os anos se passaram e aquela organização que era primordial para ser um bom estudante e revolucionário, obter um bom trabalho, uma boa garantia, perdeu o mais importante que dava sentido à sua existência: a ideologia. Se comparássemos, seria como o grave diagnóstico que um informata faz de um computador que quebrou o processador: perdeu o coração.

E sem coração chegou a UJC aos noventa, anos em que supostamente tocaria a mim injetar sangue jovem nas suas veias entupidas. Porém na minha época as coisas eram bem diferentes: sem combatividade, sem haver jamais participado de nada e inclusive tendo deixado de cumprir várias tarefas, chegou minha convocação quando tinha treze anos. Aceitei e comecei um processo que, por sorte, minha mãe decidiu suspender quando soube; considerava que antes dos 18 anos não se tem consciência nem necessidade de pertencer a uma organização política. Eu lhe agradecerei sempre, ainda que a equipe de proselitismo da UJC não leve em conta esses argumentos, aparentemente jogaram todo meu processo para trás e cheguei ao meu nível médio técnico acreditando-me livre: que ilusão!

Nunca me chamaram para uma reunião, jamais me deram uma tarefa, eu aparentemente não era da Juventude. Meus quatro anos no ensino médio transcorreram sem que ninguém me dissesse que no meu prontuário escolar, anexado à última página, um folheto escrito a mão dizia que eu não só pertencia a União de Jovens Comunistas, senão que havia, além disso, cumprido com todas as tarefas que me haviam designado.








quinta-feira, 6 de agosto de 2009

A Outra R

Caminhando ontem pela 23 me entregaram este boletim:


Não o transcrevo inteiro, coloco o que mais gostei, chama-se Movimento A Outra R.


OIá Cuba:

Ilumina tua casa como forma de dizer que algo está mal. Perguntaste a ti mesmo o que aconteceria se por sómente 5 minutos todos acendêssemos todas as luzes e equipamentos elétricos de nossa casa na mesma hora? E se fizéssemos isto na mesma hora? Talvez pudéssemos dizer de uma forma simples: algo está mal, algo deve mudar. Expressa-te ligando a luz da tua casa, no seu bairro, a partir de 5 de agosto de 8 pm à 8:05 pm. Todos os dias, até que nos levem em conta.

Criando problemas para o dinossauro por Lázaro López MCbean:
Jurássico

Instruções para chegar cedo ao trabalho por N.A. Tamayo

O mais certo é que tu sejas um dos tantos que vivem em Centro Havana e trabalham em Playa, ou vice e versa. Se assim é (somos iguais) estas soluções foram feitas para ti:

1-Quando chegues na parada não peças nunca mais o último (no melhor já te destes conta que ninguém o faz). Isso é uma perda de energia e as energias vais necessitá-las quando aparecer o ônibus.

2-Se tu esperas o P4 e alguém te pergunta se esperas o P4, dize-lhe que o teu é outro. Assim quando o primeiro P4 parar não terás niguém te perseguindo. Porque tu vais é enfiar-te por qualquer porta a qualquer preço, preferivelmente pelas portas detrás.

3-Se conseguiste subir pelas portas detrás fizeste algo muito bom, porque assim economizas pouco mais de 20 pesos ao mês. Pela porta de frante só consegues que o chofer te de uma chance fora de parada, isto se no lugar de jogar o dinheiro na recipiente, passas por ele. Porém tenha cuidado com este dinheiro, outro cubano pode te ver e...tu sabes.

4-Acomodate num lugar onde ninguém possa te chatear, colidir com você ou roubar-te. Logo esqueça que na rua e no ônibus há mais gente. Enquanto menos contribuas para que as pessoas subam e se acomodem, mais tempo perde o ônibus nas primeiras paradas, com isto o chofer sempre se chateia e começa a violar as paradas seguintes. o que dá numa viagem muito rápida.
Nota: Se és homem nunca te sentes, os assentos são para mulheres e para os homens que perderam a moral.

5-Na hora de descer sempre fale as palavras mágicas, porém também empurra.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Inflexíveis em seus princípios e sua dignidade


Foto: Campo de tiro

Dividir discos pela rua G já não faz parte das minhas noites de verão. Sou um pouco difícil assim é que quase não falo e entrego o disco em silêncio e tratando de não interromper as conversas. Não sou a única que divide: vão pessoas das igrejas, promotores de festas techno, criadores de fanzines de Rock e jovens pesquisadores de opinião (parece-me que todos juntos formamos uma boa fauna, pouco monolítica, todos juntos).

Meu disco se chama Vozes Cubanas e quase sempre as pessoas pensam que é música. Porém ontem a noite um frikie acreditou que era um disco de canções religiosas, destruiu-o com as mãos e o pisoteou várias vezes com as botas, fragmentos de plástico pularam ao redor. Para meus amigos pegou mal porém eu no início rí muito ao ver alguém comportar-se dessa maneira com um meio de informação, imagino que a repressão lhe dê os mesmos impulsos para todas as memórias flash, cartões de memória, os HDs externos e os CDs. Um deles voltou para verificar o que era que havia sido quebrado, dissemos-lhe: Não te preocupes, Deus te ama.

Ficaram um pouco apatetados e nós ríamos a gargalhadas, nunca entenderam nada. Semelhante atitude ante as pessoas que acreditam em Deus é vergonhosa e bastante típica da política de fibrocimento. Com certeza gostaria de saber se esse homem mantem uma atitude tão agressiva quando seu presidente do CDR bate à sua porta para exigir-lhe o pagamento anual da organização, se quando estudava negou-se com a mesma firmeza a cortar o cabelo, se alguma vez deu o passo à frente ante um abuso de autoridade da polícia, se rasga as faixas que por toda a G lhe dizem que deixe de "vadiar" e se ponha a "trabalhar", se alguma vez foi capaz de marcar sua inconformidade com o sistema.

domingo, 2 de agosto de 2009

O que acontece (ou não acontece) na Universidade de Havana?


Imagem: Pueblo Viejo, da série Cartazes e murais UMAP, Hamlet Labastida

Um professor da universidade de La Habana comentou comigo que vieram membros do Ministério da Educação e quadros do partido para reunirem-se com eles. Parece que a atitude "combativa" dos estudantes deixa muito a desejar.

O único exemplo concreto são as bolsas oferecidas pelo Escritório de Interêsses para estudo nos Estados Unidos: "aspirar à bolsa denota, pelo menos, uma inconsistência ideológica inadmissível, ainda mais grave no caso daqueles estudantes selecionados pelo Escritório de Interêsses dos Estados Unidos (SINA) que mantiveram sua decisão mesmo depois da discussão política argumentada que se manteve com eles."

A frase me transporta à uma aula sem ar condicionado na Colina a 1 da tarde: uns "combatentes" de 60 anos tratam de convencer uns rapazes de 23 para não viajarem por um mes para Washington DC com o fim de estudar história porque isso é "mau". O triste é que depois de não poder convencê-los, papai estado lhes negou o visto. Com certeza essa não é a única razão concreta para que o partido inclua em seu informe esta frase: "É necessário estremecer o sistema de educação superior, persuadir e convencer seus quadros, professores, estudantes e trabalhadores do risco que a Revolução corre" (...); contudo é lembrado aqui em Havana que a União da Juventude Comunista (UJC) não foi capaz de fazer com que seus membros gritassem obscenidades às Damas de Branco na escadaria durante seu desfile, que em Santiago de Cuba a Universidade esteve tres dias fechada por um movimento estudantil auto intitulado "Soma-te e não sobressaias", e que Eliéser Avila, da Universidade de Ciência da Informação, conseguiu que Alarcón* fizesse um "Discovery Channel" sobre a contaminação dos céus.

O documento de trabalho discutido intitula-se "REORDENAMENTO DO TRABALHO POLÍTICO-IDEOLÓGICO NAS UNIVERSIDADES" e incluiu nas suas densas seis páginas uma pequena lista: Ideias chaves para o trabalho educativo e político-ideológico. Pensava fazer um post sobre alguns dos tópicos do documento, porém é muito grande e genérico (típico dos panfletos do PCC) por isso decidí colocá-lo aqui para os interessados.

Nota do tradutor:

Numa reunião de portas fechadas entre Ricardo Alarcón, Presidente da Assembléia do Povo, e estudantes da Universidade das Ciências da Informação, um representante estudantil, Eliéser Avila, colocou uma série de questões que foram gravadas num vídeo não oficial e depois disponibilizado para todo o mundo. Somando-se questões como a falta de acesso a Internet para os cubanos e o porque de uma escova de dentes custar o salário de 2-3 dias de trabalho, Alarcón foi perguntado sobre as restricões para viajar. Ele retrucou que se cada um em Cuba decidisse viajar haveriam muitos aviões no céu e eles poderiam colidir uns contra os outros e cair.