segunda-feira, 10 de maio de 2010

Coisas da polícia



Existem pequenos espaços na minha cidade para a catarse cidadã, são instantes que desfruto plenamente mesmo que não sejam numerosos. Pode ser uma parada de ônibus, uma fila interminável para algum trâmite burocrático e absurdo ou simplesmente um táxi de dez pesos.

A rota Havana Velha-Vedado-Playa é famosa pelas dificuldades e demoras dos ônibus - claro, nada tão impressionante como a Vedado-Novo Vedado onde pegar "algo" é agônico - é por isso que a presença dos motoristas particulares alivia muito a ineficiência do transporte público. Com a chegada brutal do verão faz alguns dias, os que tratamos de nos mover nos irritamos sob o sol e a espera torna-se insuportável. Quando já não dá mais estendes a mão e optas pela via privada, sempre mais eficiente.

Outro dia eu estava em pleno sol na 23 e decidí por um táxi particular. Estava repleto e as gotas de suor corriam por todas as caras, contudo senti a baforada de liberdade desde que entrei, a conversação era muito animada e o tema: os abusos policiais.

O chofer narrava as peripécias sofridas por sua esposa, durante horas, nos calabouços de Zapata com C, havia sido "presa" por dois uniformizados quando se dirigia para sua casa com dois litros de yogurt, confiscados - para cúmulo - como "mercadoria de mercado negro" durante sua detenção. Uma senhora no assento de trás detalhava as condições inumanas de sua estadia na delegacia de Zanja, chegou alí por posse ilegal de quatro garrafas de cloro e duas de ácido muriático. Outro senhor, ao meu lado, lamentava-se, haviam desapropriado, no Casco Histórico, sua quota de pasta de dentes e cigarros que tratava de vender infrutíferamente.

Eu, da minha parte, contei-lhes como uma vez, enquanto desfrutava com alguns amigos, do mar em Guanabo, roubaram-nos todos os pertences e nos deixaram só as roupas de banho que levávamos conosco. Fomos fazer a denúncia na delegacia da PNR e como não tínhamos carteiras de identidade, ficamos detidos até cerca das dez da noite.

Cheguei rápido ao meu destino, o calor já não me importunava tanto e me deleitei, ao menos por uns minutos, com a inefavel satisfação que se sente quando alguém diz bem alto o que pensa.

Um comentário:

Jambalaia disse...

Não há muito o que comentar. Vou ao supermercado quase todos os dias e quando lá eu estou, penso como seria diferente o Brasil, se os esquerdistas brasileiros da década de 1970 houvessem ganho a luta armada.

Aqui também acontecem certos absurdos, mas nada como ir ao mercado e fazer alguns compras para esquecer certos fatos da vida.