domingo, 5 de julho de 2009

Tres linhas de telefone em Aldecoa



Lá no bairro do Ciro estão instalando telefones, a lista de pessoas que não tem o serviço é de 20 porém só há tres linhas disponiveis. Descubro, com tristeza progressiva, todo o processo através de uma das interessadas. Etecsa não decide quem vai ter o telefone, mas sim uma comissão nomeada pelo CDR que "faz um estudo do terreno" e nomeia os eleitos.

A comissão inicial, de tres pessoas, elegeu primeiramente o presidente da CDR e em segundo lugar o delegado da circunscirção , o terceiro lugar ficou dividido entre dois vizinhos próximos da comissão. O litígio extendeu-se até chegar em escândalo na Etecsa, que os mandou para casa para entrarem em acordo.

Outros vizinhos, ao verem o problema, somaram-se a inconformidade. A mulher que me contava a história, por exemplo, explicava-me que ela estava esperando para fazer sua reclamação porque ela achava que tinha mais méritos no CDR que os do litígio. O assunto
ficou tão cruel que a comissão foi dissolvida e outra nova posta no lugar.

A nova comissão junto aos vizinhos convocou uma nova reunião extraordinária para uma nova seleção, que ainda não teve lugar, porém que será feita sem a presença dos implicados no problema. De todas as formas, sempre que se faz uma seleção e se toma uma decisão, alguém pode depois fazer uma reclamação para que se revise novamente todo o processo: argumenta-se porque alguém não está de acordo e se enumeram os méritos daquele que se quer beneficiar em cima do que foi beneficiado.

Lembro quando dividiram televisões e as pessoas de Havana estavam abaladas pelas brigas entre vizinhos; sei de amigos que não tinham televisão e preferiram não participar a ter que disputar com seus vizinhos: trapos sujos, histórias velhas, família nos Estados Unidos, comentários contra o governo, quantidade de plantões feitos, trabalhos voluntários, qualidade ideológica dos familiares, enfim, qualquer argumento é válido na hora de explicar para o CDR que a televisão ou o telefone cabe à um e não à outro.

Porém o pior de tudo é que há gente, como a mulher com quem falei, que acha o processo justo. Gente que não ve o triste e doloroso resultado de um sistema que põe seus cidadãos como cães pegando um osso no lixo, que sádicamente lava as mãos e displicentemente promove com orgulho a responsabilidade de haver convertido a inveja e a delação em novos valores da revolução socialista.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Os paradoxos de Randy Alonso



Foto e vídeo: Lía Villares

Um amigo me disse que pela primeira vez Cuba e Estados Unidos estão de acordo numa coisa: o golpe de estado em Honduras é um risco para a democracia. O único problema é que localizaria a Cuba atual, no passado, porque nós faz tempo que renunciamos a historicidade e a sucessão dos acontecimentos, mais além da democracia, em meu país já ninguem concorda de que ontem, hoje e amanhã não são sinônimos.

Pois Randy estava fazendo seu inefável labor na Mesa Redonda de quinta-feira. Tratava, dentro da medida das suas possibilidades, de explicar-nos as razões pelas quais o golpe de estado não podia ser aceito nem estabelecido, o que é bem claro para todo aquele que considere que o poder imposto pelos militares degenera quase sempre em tristes ditaduras ou governos corruptos e militarizados (se alguem vive a experiência não tem nenhuma dúvida).

Com certeza ele considerou necessário detalhar alguns direitos que a sociedade civil deve manter antes de tudo se é um Estado de direito e que já, em Honduras, disse ele, estão sendo violados:

-Direito a livre associação.
-Direito a imprensa livre.
-Direto de manifestar-se contra o governo.

Concluiu o programa com uma frase arrojada: nenhum déspota tem o direito de estar a frente de um povo trabalhador.

Não é brincadeira, Randy disse isso...eu quase chorava de rir, tem que ter cara de pau. Suponho que talvez excedeu-se um pouco. Ponho-me a imaginar que pode ser que no final da transmissão recebeu uma amistosa "chamadinha" de "cima":

-Randy, por favor, há muitas maneiras de argumentar que o governo civil de Honduras tem que ser restituido, poderias na próxima evitar os "detalhes desnecessários"?

Depois fiquei pensando que talvez a idéia não é tão desatinada, Pánfilo foi chamado por muito menos.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Perico, em Matanzas



Outro dia passei por Matanzas e visitei Alejandrina, esposa de Diosdado González Marrero, prisioneiro de consciência desde a primavera negra de 2003. Ele participou da greve de fome e encontra-se só numa cela da prisão de Pinar del Rio "Quilômetro cinco e meio" (as prisões cubanas não deixam de me surpreender com seus horrendos nomes, tão horrendos como as condições existentes, claro). Alejandrina estava me contando as vicissitudes de chegar em Pinar del Rio para as visitas, porque viajar em Cuba é uma odisséia.

Nessa mesma odisséia eu andei para poder chegar em sua casa em Perico, um povoadozinho bastante escarpado. Havia perguntado à várias pessoas com muita paranóia porque temia ser interceptada pelos guardas. Com certeza ninguém parecia conhecer o nome de nenhuma rua e eu me negava a dizer quem ia ver...logo me dei conta de que não era tão grave, as pessoas respeitam muito as famílias e as apoiam.

Na casa que vêem na foto, justamente na esquina da casa de Alejandrina, fiz minha última pergunta e recebi um "não sei" que me pareceu grosseiro...talvez por levar muitas horas dando voltas daqui para lá e estar alterada.O caso é que ao me dar conta de que estava justamente ao lado de meu destino, uma onda de censura apertou meu peito em direção àquela mulher que, evidentemente, havia mentido.

Porém me enganei, toda essa triste família tem problemas de retardo mental e vivem em péssimas condições, alheios a realidade e esquecidos pela "segurança social?". No ano passado o ciclone os deixou sem casa e ainda não puderam terminar de reconstruí-la graças ao esquecimento do governo e apesar da ajuda dos vizinhos.

Uma mulher num portal, com o teto meio terminado e as paredes no tijolo, com um trapo vermelho no ombro que não sabe a rua onde vive, são as coisas que "A Revolução Socialista" não tem em conta.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Zona com flanelinha



Faz pouco em "Deixa que eu te conte", meu programa preferido na televisão cubana, falaram dos flanelinhas. Rí muito com a descrição das tarifas de estacionamento, diretamente proporcionais ao tipo do carro e a nacionalidade do motorista, com certeza.

Porém o mais incrivel de tudo é o alívio que um chofer sente quando vai estacionar e percebe a distância o flanelinha, se não existe, corre alto risco. Existem estacionamentos sem flanelinhas em Cuba? A verdade é que não acredito, os espaços de estacionamento tem sido lentamente tomados por estes trabalhadores. O engraçado é que já não se possa estacionar sem eles, pois então o carro corre o risco de sofrer danos variados e severos. Nada mais normal que ver choferes com seus CD players na mão caminhando pela rua, ninguém pensa em deixar o CD player no carro.

Num outro dia roubaram o carro do meu vizinho as duas da tarde. Ele estaciona bastante longe de casa porque foi o que "conseguiu", assim é que durante o dia deixa o carro na "zona desprotegida": em frente ao edifício. Uns rapazes num Lada pararam em frente e um deles abaixou-se para forçar a porta. Nisso um dos vizinhos o viu e anotou a placa, correram e não puderam levar nada.

Acontece que a chapa era azul, o que significa que pertence a um ministério ou instituição estatal, logo na polícia soube-se que pertencia à sede da UJC. Meu vizinho fez várias tentativas com a polícia porém nada, numa dessas o investigador do caso lhe disse:

-Olha compadre, eu te aconselho que se queres resolver isto, tire um mes de férias no trabalho para que possas ocupar-te das investigações e das entrevistas.

Meu vizinho, com certeza, desistiu de pegar os culpados...no fim das contas, não lhe levaram nada.

sábado, 27 de junho de 2009

Communication breakdown no Capitólio



Outro dia estava esperando Orlando no Capitólio. Cheguei uns 10 minutos antes, então sentei-me na escadaria para fazer hora. Foram uns minutos muito intensos: presenciei duas discussões por dinheiro, uma delas bem escandalosa e em dois idiomas.

Um dos fotógrafos que usam câmeras caixote para fazer fotos dos turistas tratava de tirar 2 CUC de um homem que aparentemente os haviam roubado. O cara escapuliu de algum modo e então atirou-se sobre o turista de quem tinha feito a foto. Ele não falava ingles e ela não falava espanhol. Ele gritava que não havia recebido seu dinheiro e ela respondia que lhe havia dado 3 CUC , porém não se entendiam e repetiam as mesmas coisas varias vezes. Quando o assunto terminava, uns rapazes tratavam, sem conseguir, que os estrangeiros pagassem umas caricaturas que eles faziam no momento e sem perguntar, porém que aparentemente não agradavam e não as queriam pagar.

Em alguns momentos não posso evitar de sentir uma profunda lástima por nós: os cubanos mendigando para que estrangeiros paguem os trabalhos que eles criam, porque o Estado não lhes paga de verdade, e os turistas brincando de turistas ingênuos que não entendem nada. Na televisão continuo vendo os spots que falam de nós como se fôssemos escória. Há um que me chateia especialmente, um em que aparecem Fidel e Raúl e outros na Serra caminhando com os fusis no ombro. Então uma voz em off diz: Eles deram tudo...e tu? O que tens feito? Então trabalha! Ou algo no gênero, por sorte não sei de memória. Na verdade eu penso: não faremos nada até que nos paguem...é tão lógico que parece piada.

Quando os estrangeiros me perguntam se é verdade que os cubanos não gostam de trabalho eu simplesmente digo: tu trabalharias 8 horas diárias por 20 dólares ao mes, ou por 30, ou por 50 até mesmo por 100? Nunca recebi uma resposta positiva.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Faz falta cooperar?



Foto: Claudio Fuentes Madan

Quando tens uma licença para alugar para estrangeiros em Cuba tua vida muda radicalmente. Econômicamente consegues, depois de sonhar durante anos, ser independente: já não tens que contar a grana para pagar a luz, não tens que te preocupar por não poder pagar o telefone, podes consertar tua casa, comprar eletrodomésticos, ter um ar condicionado e alugar vídeos para o DVD. Então és "independente" do Estado, tens o "teu" negócio...Qual é o preço?

Quase todos os dias vem inspetores, eles se encarregam de conferir se todos teus papéis estão em ordem: que nenhum estrangeiro tenha ficado menos de 24 horas, que não haja mais de duas pessoas por quarto, que todos os dados de todas as pessoas que tenham vindo ver os turistas estejam anotados em tua caderneta. Além disso são os agentes da imigração: MININT, aos quais há que se entregar religiosamente os nomes e o número da carteira de indentidade, assim como os detalhes de tempo e frequencia das visitas, de quais cubanos tenham tido contato em tua casa com o inquilino. Então eu me pergunto: até onde temos que chegar? Tem-se que anotá-lo? Não há algum modo de quebrar essa regra? Só se pode alugar dois quartos por casa, quase todos os arrendatários alugam 3 e até 4 quartos, o que me parece genial, com certeza. Não há modo humano de que possam deixar de denunciar cada cubano que se relaciona com um estrangeiro? Qual é a diferença?

Lembro que faz uns dois anos estava na casa de uma amiga onde se aluga, ela havia saído e eu estava com sua mãe. Haviam alugado para um estrangeiro por umas horas na noite. O homem chegou pelas 11 da noite com uma prostituta (em Havana sempre e quando tenhas licença pode vir qualquer um) após 2 horas sairam do quarto. O cara foi até a varanda enquanto a mãe da minha amiga priorizava a anotação do nome da pobre prostituta. Ouvimos a batida, levamos, as tres, uns tres segundos para darmo-nos conta do que havia acontecido: foi-se sem pagar ninguém.

A dona da casa correu atrás do homem, porém com certeza, não o alcançou; a pobre garota quase se atira chorando em cima da mesa, ao sair murmurou algo que não entendi: estava chorando. Eu fui para a varanda, pude vê-la com seus saltos altos dobrando a esquina, vi a patrulha que parou ao seu lado e a levou

terça-feira, 23 de junho de 2009

Do Golfito à terapia intensiva


Rolando tem 42 anos e sua filha 19, gostam de dançar e as vezes iam à discoteca juntos, embora já não vão mais. Em 16 de dezembro de 2008 haviam ido ao Golfito, uma disco em Rio Cristal; as 2 e meia da manhã sairam e pegaram um ônibus que os levaria para casa, o 160. Com eles subiu um grupo de rapazes que também estava na discoteca.

Eu recordo que nessa época as pessoas tocavam rumba nos ônibus, também haviam muitos assaltos, sobretudo de madrugada, aos passageiros e inclusive aos motoristas. A polícia então decidiu que em cada ônibus que andasse depois do ocaso, haveria um policial armado que cuidaria da ordem. A idéia, ao menos para mim, era bastante animadora (exceto pela pistola), porém o que acontece em Cuba é que ordem civil e disciplina militar são sinônimos. A gente começou a protestar porque já não se podia tocar rumba e inclusive uma vez Ciro foi proibido de tocar uns acordes (sem letra) na guitarra.

Assim mesmo tocavam um reggaetón e cantavam os do 160 de Rolando. O azar nessa noite é que os policiais estavam disfarçados de civis, ainda que mantinham o principal do uniforme: o revólver. Começaram a discutir com os rapazes e armou-se um "arranca rabo", o ônibus estava cheio e quando o ambiente tumultua geralmente as pessoas entram em pânico: não foi diferente. A polícia mandou parar o ônibus porém não deixou que abrissem as portas, queriam encurralar os culpados para que não escapassem, de madrugada em Boyeros qualquer um se perde. Todos queriam sair e a coisa ficou feia, um dos policiais (eram dois) sacou a pistola e disparou dentro do ônibus, várias vezes.

O terror foi incontrolável, as pessoas sairam pelas janelas e finalmente abriram as portas e todos trataram de sair ao mesmo tempo. Rolando tirou sua filha primeiro e quando pôs um pé no asfalto sentiu uma dor forte na perna esquerda e desmaiou.

No dia seguinte despertou na sala de terapia intensiva do hospital militar, tinha dois policiais de cada lado e ouvia longe a voz de sua mãe que dirigia-se aos uniformizados do quarto. O tiro entrou pela frente da coxa esquerda e saiu por trás, haviam lhe reconstruído a artéria femoral e o médico assegurou-lhe que estava vivo "por milagre". Outras cinco pessoas também tinham ficado feridas.

Esteve um ano sem poder trabalhar, deram-lhe uma licença sem pagamento que não logrou reclamar. Tratou de contatar advogados porém não avançou muito, aos policiais que dispararam, segundo sabe, não aconteceu nada e me afirma que uns dias depois leu no Granma um artigo falando de como estava funcionando bem a nova medida da PNR nos ônibus urbanos...aparentemente haviam condecorado alguns oficiais segundo o órgão oficial do partido. Parou de mancar há poucos meses e está convencido só de uma coisa: ele, e todos nós, estamos desprotegidos neste país.






segunda-feira, 22 de junho de 2009

O Robot



Tirado da Saga: El Ciro vs a Segurança do Estado

Seus olhos amarelos de cristal apontavam o olhar para meu esbelto corpo, sua couraça metálica parecia blindada e suas armas laser ameaçavam lançar sobre mim sua mortífera carga de luz mono-lándica. Era o novo Robot do G2 fabricado na empresa de ônibus Girón e os estaleiros Shuyima, enviaram-no para me destruir após o fracasso dos humanos. E naquele infinito lapso de tempo eu não podia mais deixar de pensar numa só coisa:

"... os parafusos de suas joelhos são ideais para consertar o pé da minha cama..."

Falou então o robot:

-Cacete! - disse - Voltaram a encher o meu tanque com gasolina comum do CUPET de Boyeros.

Nesse momento me soube muito superior, a vitória estava nas minhas mãos, os frentistas desse CUPET colocam muita mas muita luz brilhante na gasolina comum e depois vendem a que desviam no mercado negro. O robot estava envenenado.

Ainda assim não queria provocar um desnecessário derramamento de óleo de modo que tratei de negociar com ele.

-Ei tu, robot, os parafusos de teu joelho e te deixo ir claudicando, senão terminarás na empresa provincial de sucata e como tu bem sabes...nunca reciclam.
-10 CUC por todos os parafusos da perna esquerda - disse-me.

É verdade que em Cuba todo mundo está se lixando para a propriedade estatal e certamente não era muito dinheiro para evitar que demolisse 70 toneladas de óxido (FeO2), porém a última grana que Bush me mandou gastei comprando feijões no agro da EJT.

Aquele robot (pensei) estava economizando para ir-se para Miami, teria ido voando porém, como muitos outros veículos estatais, lhe haviam desativado as asas e o ar condicionado. Ao pobre só restava ir-se numa balsa. Como tantos outros trabalhadores do MININT sonhava em aparecer no programa de Oscar Haza: A mão limpa, para revelar alguns dos seus segredos.

-Para que queres o dinheiro? - perguntei
-Para isso mesmo que (pensaste). O que? Agora és do G2?
-Fui uma vez porém me deram baixa por peritagem, adoeci quando todos cantavam o hino ao meu redor de manhã. Foi horrível
-Nem me contes, o que me dizes das palavras de ordem revolucionárias?
-Não podia repetir nem uma, provocaram dermatite aguda.

Identificava-me muito com o robot, assim foi que o chamei à Casa Branca e pedi para falar com o presidente. A secretária passou a chamada para seu escritório e me respondeu uma voz desconhecida.

-Good morning Ciro, is Obama in this side.
-Quem!?...E onde caralho está o Bush?
-Eu ser o novo presidente. eu pedir à CIA para recortar o seu orçamento para dá-lo à General Motors.
-AAAAAAAHHHHHHH!!!!!!!!!!!!!!!!!!

(Não perca o próximo episódio da Saga do Ciro versus o G2: "A guerra robótica contra a CIA.")

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Um povoado fantasma


Uma amiga chegou de Moa e me trouxe estas fotos. O níquel baixou de preço no mercado internacional...porém ao povo de Moa isso não importa, faz tempo que renunciaram a isso que se chama "qualidade de vida". Aqui lhes deixo estas fotos, que quando foram vistas por Ciro, disse: "Parece Minas Morgul, do Senhor dos Anéis".
Moa, um povoado sem paisagem, onde tirar uma foto pode custar-lhe a câmera. Segundo me conta uma amiga o ar é empesteado, e quando perguntou à uma enfermeira se era daninho, ela respondeu que não e que sim ao mesmo tempo (medo?).






quarta-feira, 17 de junho de 2009

Concerto de Cafe Tacuba


Estou acostumada a chegar aos concertos massivos e não conseguir ver nada do que sucede no palco porque sou pequeninha e as telas que põem, por alguma estranha razão, são vistas com dificuldade. Porém o realmente triste da terça-feira no protestródromo com Cafeta Cuba não era vê-los, senão que da minha perspectiva o único que se lia era: Tudo pela Revolução. Como cheguei um pouco tarde, uma amiga ironizou dizendo que Raúl Castro havia dado início ao "concert" com um discurso friky.

Atrás do cartaz as bandeiras negras, e detrás das bandeiras negras, os letreiros em vermelho da oficina de Intereses...que desagradável! Todos os que como eu medem menos de 1 metro e 70 recordaremos só essa imagem deste concerto em Havana, a única que conseguíamos ver. Não critico ninguém, porém se eu fosse um músico estrangeiro e viesse tocar em Cuba, nem morta iria para o “Prote”(protestródomo), melhor seria tocar para o Comitê Central junto com os envolvidos na celebração do “50º aniversário da existência dos órgãos da segurança do estado”.

Porém o pior foi no final, uma turba de policiais com apitos começou a silvar atrás de nós para que "desocupássemos” o lugar. Fui ficando sozinha na plataforma até que uns 10 silvos me guincharam pelas costas, então virei-me e lhes disse:

-Não me vou por a perguntar as razões pelas quais tenho que ir daqui, porém já que vão me tirar, ao menos tenham a decência de não me tratarem como uma vaca.

Uma garota e dois rapazes policiais me pediram por favor, ainda que um que parecia ser o chefe disse que já estavam há muito tempo tirando as pessoas e que tínhamos que ir, não importa como, se com apito ou empurrões, porém ir.

-Pagam você para tirar-me? Não? Então este tempo que você passa aqui inclui seu salário, não é minha culpa que seja um trabalho lento, me pede por favor que me vou, apita de novo e fico.

Não apitou mais, porém ficou resmungando umas maldições, suponho que à juventude em geral... amargura dos corpos repressivos.