terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Meu amigo o argentino


Foto: OLPL

Meu amigo argentino nasceu em Marianao. Era escritor, fotógrafo e friki, casou-se pelo ano 2000 com uma argentina e foi-se para Buenos Aires, então foi que ela descobriu o engano: ele era argentino de pura cepa e não um pobre artista cubano.

Uns anos depois veio de visita, só esteve em minha casa uma vez porque um amigo o trouxe: confessou-me que tinha muito medo de pegar boteros (taxis particulares de 10 pesos), porque como era estrangeiro podia acontecer-lhe qualquer coisa. Tambem comentou comigo que estava muito emocionado com o o novo congresso da Assembléia Nacional ( nossa mui original assembléia, para ser parte dela deve-se ter mais de 80 anos e haver pertencido ao partido comunista desde os 3) e me assegurou que haveriam mudanças, porém não disse quais. Fez alusões a nossa situação, pensava que não estavamos tão mal, para demonstrá-lo me disse que até se podia economizar um pouco para comprar um computador e que os trabalhadores eram uns imbecis porque faziam greves por qualquer coisa e vestiam camisetas do Che por puro esnobismo, sem saber na realidade quem era o Che, sem conhecer sua ideologia e sua heróica trajetória. Assegurou que o socialismo era o melhor para o país e que Cuba ia por bom caminho, que apesar de tudo tinhamos educação e saúde gratuitas e que mal ou bem, se comia...gostaria de assistir com ele o documentário "Buscándote Habana" de Alina Rodríguez, porém na época não o tinha a mão.

Quando Ciro chegou tornou-se crítico, disse que odiava Porno Para Ricardo e que eu estava na obrigação de o advertir. Com certeza eu estava sendo monitorada e não era conveniente que o vissem comigo (queria fazer negócios com Cuba), não quis ir à G (nunca havia ido e pensei que ele gostaria de ver o novo lugar dos frikis), tampouco quis ir conhecer meus amigos. Privadamente aventurou-se propor ir tomarmos umas cervejas, porém me pediu que prescindissemos do meu namorado.

Despedimo-nos como dois estranhos, com a certeza de que não voltaríamos a reencontrar-nos, porque não se pode voltar a encontrar quem não se conhece. Não o estranho, ainda as vezes o recordo; não me dói que haja mudado tanto, sem embargo me dá tristeza que já não escreva, que já não tire fotos.

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