terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Para Heberto Padilla e Virgilio Piñeira


Quando ontem intitulei o meu post, ainda não sabia se a última ceia seria minha ou da censura, porém o fiz porque me agradou e porque, sobretudo, era meu desejo que fosse a última ceia deles.

Nunca nos conseguimos por de acordo, se levávamos as câmaras, se nos tomariam tudo (a segurança já tem graças a nós duas memórias flash de dois gigas cada uma e duas canções inéditas do Ciro) eu sinceramente não lhes presenteio com mais nada. Claudio sempre levou tudo, por sorte.

Traumatismos do protestródomo e das prisões de Ciro e Gorki, fui preparada: dois pesos cubanos para a guagua (ônibus tipo papa-fila) e a carteira de identidade no bolso da minha pior calça, tênis para correr e um maço de cigarros que jurei em vão não declarar em caso de interrogatório, para não me chantagearem com meu vício.

Porém os acontecimentos sempre me ultrapassam, a noite não tinha medo, porém hoje as 12 do dia senti a ponto de pedir uma bolsa de nylon para respirar dentro, como se vê nos filmes. Não obstante cheguei a Havana Velha, não dou mais detalhes por pudor, não posso mais me sentir vítima deste corpo que se nega a obedecer-me e não respeita minhas decisões.

Subimos na guagua depois de dar uma volta na maçã (despistar) porque o aparato era impressionante. A chegada em La Cabaña poderia ser comparada a aterrissar em Saturno, recordo que disse de brincadeira Bem vindos à Octavo Cerco, porém creio que os demais tampouco podiam ouvir-me. Ocorreu-nos nada mais nada menos que dar uma volta pelo Morro para matar tempo. Como disse Yoani mais tarde, entramos na ratoeira: a passagem para entrar e sair do Morro não deixa espaço para ficar parados, estreito e medieval, com janelas diminutas na altura da cintura, era, sem dúvidas, o pior que nos podia ocorrer. Porém assim, loucos e inocentes, entramos. Do outro lado foi que vimos o aparato, tipos com microfones nos ouvidos passavam em frente e nos olhavam nos olhos. Demasiado tarde nos demos conta que tínhamos que sair dalí, porém nesse momento Ciro, Gorki e Claudio decidiram que era melhor tomar sorvete, não importa quão grande seja o aparato: se há sorvete de morango a três pesos cubanos, que se acalme a polícia que o que há é apetite.

Yoani e Reinaldo saíram na frente, os segurosos não puderam alcançá-los. Eu fiquei atrás com os famintos, prêmio incluído, um sorvete de morango que Ciro me pôs entre as mãos no meio da minha: porém o que é que estão fazendo, há que sair daqui já! Assim é que o túnel me prendeu numa faceta digna de um parágrafo de André Bretón: enquanto eu mordia a casquinha, o seguroso dizia em frente a mim: sim, positivo, estão saindo, são uns cinco... e outro atrás de Orlando confirmava a informação. Ciro sempre com seu senso de humor a prova de fogo, entrou num corredor e pulou um pequeno muro para que o seguroso fizesse o mesmo, e, com efeito, assim o fez.

Quando chegamos na esplanada não havia nada, somente dois amigos que supostamente estavam incógnitos e não podiam vir nos cumprimentar, todavia quando nos viram vieram correndo alegres de ver-nos e a clandestinidade foi, sem dúvida alguma, pro caralho. O mais para mim continua sendo inefável, como quando Gorki saiu do tribunal de Playa.

Sentamo-nos na esplanada em câmera lenta, chegou uma escritora argentina e respirei: se há um só escritor estrangeiro não nos agredirão, ao menos. Porém de pronto os jornalistas começaram a sair, os segurosos acomodaram-se atrás de uns carros a 50 metros, Yoani tirou um papel, dobrou-o e voltou a abrir, começou a ler, Orlando pegou meu cigarro (ele não fuma) apareceu mais imprensa, apareceram escritores, muito, muito jovens, imprensa jovem da feira, amigos de Orlando, fotógrafos. Lentamente saíam da Feira e dispunham-se ao redor, não sei quantos éramos, não me importa, éramos mais do que havíamos pensado. Quando Yoani terminou de ler aplaudimos, tiramos umas cópias em cd, Reinaldo comentou que outras estavam espalhadas pela feira, umas garotas de técnico médio que se somaram ao grupo aplaudiram e gritaram, sim... tudo havia sucedido.
O livro de Orlando é dedicado à sua mãe, tendo em vista que tanto sofreu as terríveis e medíocres estratégias da segurança do estado. Assim é que dedico o dia de hoje à Heberto Padilla e a Virgílio Piñeira, ao primeiro por perder a prudência, por ficar completamente sozinho na esplanada; ao outro por levantar a mão e intervir no discurso de Fidel “Palavras aos intelectuais” e haver tido o enorme valor de Quando ontem intitulei o meu post, ainda não sabia se a última ceia seria minha ou da censura, porém o fiz porque me agradou e porque, sobretudo, era meu desejo que fosse a última ceia deles.

Nunca nos conseguimos por de acordo, se levávamos as câmaras, se nos tomariam tudo (a segurança já tem graças a nós duas memórias flash de dois gigas cada uma e duas canções inéditas do Ciro) eu sinceramente não lhes presenteio com mais nada. Claudio sempre levou tudo, por sorte.

Traumatismos do protestródomo e das prisões de Ciro e Gorki, fui preparada: dois pesos cubanos para a guagua (ônibus tipo papa-fila) e a carteira de identidade no bolso da minha pior calça, tênis para correr e um maço de cigarros que jurei em vão não declarar em caso de interrogatório, para não me chantagearem com meu vício.

Porém os acontecimentos sempre me ultrapassam, a noite não tinha medo, porém hoje as 12 do dia senti a ponto de pedir uma bolsa de nylon para respirar dentro, como se vê nos filmes. Não obstante cheguei a Havana Velha, não dou mais detalhes por pudor, não posso mais me sentir vítima deste corpo que se nega a obedecer-me e não respeita minhas decisões.

Subimos na guagua depois de dar uma volta na maçã (despistar) porque o aparato era impressionante. A chegada em La Cabaña poderia ser comparada a aterrissar em Saturno, recordo que disse de brincadeira Bem vindos à Octavo Cerco, porém creio que os demais tampouco podiam ouvir-me. Ocorreu-nos nada mais nada menos que dar uma volta pelo Morro para matar tempo. Como disse Yoani mais tarde, entramos na ratoeira: a passagem para entrar e sair do Morro não deixa espaço para ficar parados, estreito e medieval, com janelas diminutas na altura da cintura, era, sem dúvidas, o pior que nos podia ocorrer. Porém assim, loucos e inocentes, entramos. Do outro lado foi que vimos o aparato, tipos com microfones nos ouvidos passavam em frente e nos olhavam nos olhos. Demasiado tarde nos demos conta que tínhamos que sair dalí, porém nesse momento Ciro, Gorki e Claudio decidiram que era melhor tomar sorvete, não importa quão grande seja o aparato: se há sorvete de morango a três pesos cubanos, que se acalme a polícia que o que há é apetite.

Yoani e Reinaldo saíram na frente, os segurosos não puderam alcançá-los. Eu fiquei atrás com os famintos, prêmio incluído, um sorvete de morango que Ciro me pôs entre as mãos no meio da minha: porém o que é que estão fazendo, há que sair daqui já! Assim é que o túnel me prendeu numa faceta digna de um parágrafo de André Bretón: enquanto eu mordia a casquinha, o seguroso dizia em frente a mim: sim, positivo, estão saindo, são uns cinco... e outro atrás de Orlando confirmava a informação. Ciro sempre com seu senso de humor a prova de fogo, entrou num corredor e pulou um pequeno muro para que o seguroso fizesse o mesmo, e, com efeito, assim o fez.

Quando chegamos na esplanada não havia nada, somente dois amigos que supostamente estavam incógnitos e não podiam vir nos cumprimentar, todavia quando nos viram vieram correndo alegres de ver-nos e a clandestinidade foi, sem dúvida alguma, pro caralho. O mais para mim continua sendo inefável, como quando Gorki saiu do tribunal de Playa.

Sentamo-nos na esplanada em câmera lenta, chegou uma escritora argentina e respirei: se há um só escritor estrangeiro não nos agredirão, ao menos. Porém de pronto os jornalistas começaram a sair, os segurosos acomodaram-se atrás de uns carros a 50 metros, Yoani tirou um papel, dobrou-o e voltou a abrir, começou a ler, Orlando pegou meu cigarro (ele não fuma) apareceu mais imprensa, apareceram escritores, muito, muito jovens, imprensa jovem da feira, amigos de Orlando, fotógrafos. Lentamente saíam da Feira e dispunham-se ao redor, não sei quantos éramos, não me importa, éramos mais do que havíamos pensado. Quando Yoani terminou de ler aplaudimos, tiramos umas cópias em cd, Reinaldo comentou que outras estavam espalhadas pela feira, umas garotas de técnico médio que se somaram ao grupo aplaudiram e gritaram, sim... tudo havia sucedido.
O livro de Orlando é dedicado à sua mãe, tendo em vista que tanto sofreu as terríveis e medíocres estratégias da segurança do estado. Assim é que dedico o dia de hoje à Heberto Padilla e a Virgílio Piñeira, ao primeiro por perder a prudência, por ficar completamente sozinho na esplanada; ao outro por levantar a mão e intervir no discurso de Fidel “Palavras aos intelectuais” e haver tido o enorme valor de Quando ontem intitulei o meu post, ainda não sabia se a última ceia seria minha ou da censura, porém o fiz porque me agradou e porque, sobretudo, era meu desejo que fosse a última ceia deles.

Nunca nos conseguimos por de acordo, se levávamos as câmaras, se nos tomariam tudo (a segurança já tem graças a nós duas memórias flash de dois gigas cada uma e duas canções inéditas do Ciro) eu sinceramente não lhes presenteio com mais nada. Claudio sempre levou tudo, por sorte.

Traumatismos do protestródomo e das prisões de Ciro e Gorki, fui preparada: dois pesos cubanos para a guagua (ônibus tipo papa-fila) e a carteira de identidade no bolso da minha pior calça, tênis para correr e um maço de cigarros que jurei em vão não declarar em caso de interrogatório, para não me chantagearem com meu vício.

Porém os acontecimentos sempre me ultrapassam, a noite não tinha medo, porém hoje as 12 do dia senti a ponto de pedir uma bolsa de nylon para respirar dentro, como se vê nos filmes. Não obstante cheguei a Havana Velha, não dou mais detalhes por pudor, não posso mais me sentir vítima deste corpo que se nega a obedecer-me e não respeita minhas decisões.

Subimos na guagua depois de dar uma volta na maçã (despistar) porque o aparato era impressionante. A chegada em La Cabaña poderia ser comparada a aterrissar em Saturno, recordo que disse de brincadeira Bem vindos à Octavo Cerco, porém creio que os demais tampouco podiam ouvir-me. Ocorreu-nos nada mais nada menos que dar uma volta pelo Morro para matar tempo. Como disse Yoani mais tarde, entramos na ratoeira: a passagem para entrar e sair do Morro não deixa espaço para ficar parados, estreito e medieval, com janelas diminutas na altura da cintura, era, sem dúvidas, o pior que nos podia ocorrer. Porém assim, loucos e inocentes, entramos. Do outro lado foi que vimos o aparato, tipos com microfones nos ouvidos passavam em frente e nos olhavam nos olhos. Demasiado tarde nos demos conta que tínhamos que sair dalí, porém nesse momento Ciro, Gorki e Claudio decidiram que era melhor tomar sorvete, não importa quão grande seja o aparato: se há sorvete de morango a três pesos cubanos, que se acalme a polícia que o que há é apetite.

Yoani e Reinaldo saíram na frente, os segurosos não puderam alcançá-los. Eu fiquei atrás com os famintos, prêmio incluído, um sorvete de morango que Ciro me pôs entre as mãos no meio da minha: porém o que é que estão fazendo, há que sair daqui já! Assim é que o túnel me prendeu numa faceta digna de um parágrafo de André Bretón: enquanto eu mordia a casquinha, o seguroso dizia em frente a mim: sim, positivo, estão saindo, são uns cinco... e outro atrás de Orlando confirmava a informação. Ciro sempre com seu senso de humor a prova de fogo, entrou num corredor e pulou um pequeno muro para que o seguroso fizesse o mesmo, e, com efeito, assim o fez.

Quando chegamos na esplanada não havia nada, somente dois amigos que supostamente estavam incógnitos e não podiam vir nos cumprimentar, todavia quando nos viram vieram correndo alegres de ver-nos e a clandestinidade foi, sem dúvida alguma, pro caralho. O mais para mim continua sendo inefável, como quando Gorki saiu do tribunal de Playa.

Sentamo-nos na esplanada em câmera lenta, chegou uma escritora argentina e respirei: se há um só escritor estrangeiro não nos agredirão, ao menos. Porém de pronto os jornalistas começaram a sair, os segurosos acomodaram-se atrás de uns carros a 50 metros, Yoani tirou um papel, dobrou-o e voltou a abrir, começou a ler, Orlando pegou meu cigarro (ele não fuma) apareceu mais imprensa, apareceram escritores, muito, muito jovens, imprensa jovem da feira, amigos de Orlando, fotógrafos. Lentamente saíam da Feira e dispunham-se ao redor, não sei quantos éramos, não me importa, éramos mais do que havíamos pensado. Quando Yoani terminou de ler aplaudimos, tiramos umas cópias em cd, Reinaldo comentou que outras estavam espalhadas pela feira, umas garotas de técnico médio que se somaram ao grupo aplaudiram e gritaram, sim... tudo havia sucedido.
O livro de Orlando é dedicado à sua mãe, tendo em vista que tanto sofreu as terríveis e medíocres estratégias da segurança do estado. Assim é que dedico o dia de hoje à Heberto Padilla e a Virgílio Piñeira, ao primeiro por perder a prudência, por ficar completamente sozinho na esplanada; ao outro por levantar a mão e intervir no discurso de Fidel “Palavras aos intelectuais” e haver tido o enorme valor de dizer: "o que eu tenho é muito medo".
Desculpem-me que não tenha fotos do momento, porém só uma câmera e cinco blogs requer de qualquer um atos de altruísmo.

Um comentário:

Danielle Espírito Santo disse...

Dizem que uma imagem vale por mil palavras, mas é também válido que palavras bem usadas e perícia na descrição valem por qualquer boa fotografia.
Bravos!