sábado, 21 de março de 2009

Enterrados na areia



Não posso, as vezes, afastar a ideia de estar imovel no meio do tempo. Uma sensação parecida com a que ainda menina sentia quando meu pai brincava de enterrar-me na areia, não podia resistir-lhe por mais de uns segundos. O conceito de liberdade absoluta é uma ilusão , todavia, não é uma ilusão nossa capacidade para medir e compreender que não é a mesma coisa estar enterrado na areia sem poder mover-se e estar de pé frente ao mar olhando até o horizonte distante, tão distante que quase perde sentido chamar-lhe de limite.

Em meu país, enquanto que os pensamentos estejam bem aquecidos debaixo da areia, alguem pode sentir-se seguro de não estar literalmente aprisionado entre grades; todavia, quando decidimos colocar nossas ideias numa garrafa vazia e lançá-las ao mar, rumo ao horizonte distante, nosso corpo corre o risco de renunciar por tempo indefinido a um banho de mar.

Os amigos me falam de mudanças, recebo mensagens que dizem falta pouco e um "botero" comenta, estupidamente otimista, que estão consertando as ruas (depois, ante minha apatia e meu pessimismo, confessou-me que estava no programa para refugiados políticos, e de passagem, aconselhou-me por alguma estranha razão que tambem me envolveu). Olho ao redor e vejo uma expectativa da qual eu não sinto a mínima sensação: a verdade é que não tenho Fé, não creio nestas mudanças, não posso evitar.

Mais de 200 pessoas estão encarceradas por pensar diferente há seis anos, o noticiário é um vomitório de mentiras, o Granma é uma brincadeira de mal gosto, continuamos com os mesmos problemas, com a mesma falta de liberdade de sempre, com o mesmo partido, com as mesmas organizações de massas, com a mesma política e com a mesma ideologia. Sinto muito, porém a verdade é que não veio nada novo com uns ministros a mais e uns de menos, um irmão menor acima e um irmão maior abaixo.

Quisera poder dizer que o único responsável por esta situação é Fidel Castro, porém não posso. Lembro quando renunciou ao seu poder, no meio tempo antes que Raúl tomasse o mando, que Randy Alonso dizia na Mesa Redonda todo o tempo: "A direção da Revolução" se encarregou disso, "A Direção da Revolução" decidiu outra coisa, e eu me perguntava meio de brincadeira meio séria, sob qual conceito abstrato nos estavam governando.
Não me interessa se o modelo é chines, russo ou marciano: nestas alturas só posso pensar, e espero realmente estar equivocada, que até que toda "Direção da Revolução" deixe de estar no poder, não mudarão muito as coisas para nós aqui debaixo.

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