sexta-feira, 29 de maio de 2009

Segregação

Foto: Claudio Fuentes Madan
Texto: Anônimo

Apesar do medo que me dá escrever esta correspondência (que certamente é fiscalizada) decidí fazê-lo, sobretudo confiando em que não divulgarão meu nome, se é que lhes parece interessante a história.

Faz umas semanas, fui visitar Cuba por uma semana com meu noivo, que é estrangeiro. Entre todas as coisas que nos propusemos fazer, estava a de ir à Cayo Coco ou a Cayo Largo, já que me haviam falado das belas praias, e ademais pelo fato de que os cubanos podíamos finalmente visitá-las. Meu noivo é louco por botes, barcos, e de fato, aqui tem um com que saímos às vezes em passeio. Vimos na publicidade da agência de viagens a possibilidade de sair no catamarã em Cayo Largo e de mergulhar, ver o fundo do mar... enfim...

Realizamos nossa reserva no Hotel Nacional por um bom preço para Cayo Largo, um bom pacote realmente, incluía transporte no aeroporto, passagem de avião, tudo incluído em Cayo e regresso. O catamarã tinha que ser pago a parte, porém não nos importamos. Graças a Deus a pessoa que fez a reserva sucedeu de perguntar-me se eu era cubana (meu sotaque já os faz duvidar às vezes, sobretudo quando me dou conta que me tratam melhor nesses lugares se pensam que sou estrangeira e não me olham com cara de prostituta). Respondi que sim, que eu era cubana, porém que morava fora faz tempo, ou seja, qual era o problema. Disse-me: “Há, se és cubana não podes subir no catamarã, tu o olhas da areia”.

O primeiro é perguntar-me por que. Não me havia ocorrido raptar o catamarã nem nada do gênero, só queria compartilhar a experiência junto do meu noivo. Também foi um pouco desconcertante isso de “o olhas da areia”. Tenho que me conformar em conhecer Cayo Coco sem pegar o catamarã? Estou acostumada ao mau serviço que oferecem lá, porém tampouco pensei que chegassem a tanto.

Talvez esta história não seja tão interessante para ser publicada, porém quero compartilhar com alguém a humilhação que sofri, de que em meu próprio país (porque é meu também) não possa subir num catamarã.

Não penso em relatar todas as discriminações que em razão da minha cidadania sofri lá, que me chocavam mais por ir com um estrangeiro, quando andas com cubanos quase não o notas, ou pior, te coíbes de fazer coisas por não se poder e ninguém se pergunta nada. Meu noivo tinha muitas perguntas e eu só lhe podia oferecer poucas respostas: por que é assim, por que não posso entrar, bem, imagina, por que sempre foi assim.

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