sábado, 19 de dezembro de 2009

A decepção


Foto tirada de Geração Y

Cada vez que dizem no noticiário: "Resposta do povo combatente às atividades de um grupúsculo contrarrevolucionário", chama-me aterrorizada. Eu lhe explico que todos os abusos e vexames que os paramilitares realizam nas ruas não são dirigidos à minha pessoa - não teria capacidade física para escrever isto - porém não entende, o amor de mãe é assim.

Nos 80 não estava em Cuba, quando chegou lhe contaram porém não acreditou. Com o tempo acabou recordando os comícios de repúdio como se recordam as fábulas antigas, reais porém não vividas, sujeitas ao ceticismo materialista: ver para crer.

Porém o materialismo a abandonou, em pleno período especial descobriu que a Fé pode evitar a loucura e a avitaminose. As reuniões do partido se foram transformando em reuniões espíritas, aulas de Yoga e cursos de curas com as mãos. Um dia se deu conta: as vezes o mundo inanimado é mais transparente e claro do que essa linguagem consciente que não leva à parte alguma. Ganhou uma Fé porém perdeu outra: já não crê nos humanos, em nenhum.

Na sexta-feira, 11 de dezembro, viu pela primeira vez, no programa das 8, o que eu batizei como A Multidão e seus sobreviventes: As Damas de Branco em meio a uma massa de mulheres deformadas pelo ódio. Um mar revolto e no meio um botezinho branco flutuando a duras penas: o regresso à animalidade, a lei da selva, a violência como primeiro recurso, a exaltação suprema da infinita estupidez humana.

Ficou tres horas em estado de choque. Fiz-lhe umas brincadeiras de humor negro - sei que ela gosta - porém não reagiu. Acreditei que tudo estava liquidado nela, com certeza me enganava, nunca saberei quanto de humanismo ainda lhe ficara, nesse instante tive a certeza de que o havia perdido. Olha pela janela e não entende nada, pergunta-se "quem" e só uma resposta lhe vem à cabeça, "todos". A partir de agora. eu sei, sua solidão será incomensurável, é o preço por haver se decepcionado muito, vezes em demasia.

Um comentário:

Jambalaia disse...

Lamento pelo que as damas de branco passaram.

Apesar do Brasil ter passado por uma época de regime de excessão, os militares eram autoritários e não totalitários.

Conseguimos voltar a normalidade democrática.

Infelizmente o nosso presidente da república e toda a sua turma admira muito Fidel Castro e torcem para que a ditadura da família Castro se perpetue no poder.

Os mesmos que estiveram presos durante o regime militar.

Infelizmente a influência de Fidel Castro agora se espalha pela América Latina.

Temos aqui também nossas decepções.

Porém hoje muitos de nós vigiamos Cuba pela internet. Daremos o apoio digital que pudermos oferecer.

Sabemos que este tipo de apoio é de pouca valia.