terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Estudar, estudar... e depois?


Foto: Claudio Fuentes Madan

Seus pais ensinaram-na a estudar, a ler e a amar o conhecimento. Quando era pequena frequentou aulas de muitas coisas: piano, artes plásticas, inglês, natação e ginástica. Estudou na universidade, graduou-se e começou o serviço social. Foram os dois anos mais irracionais de sua vida, ganhava 148 pesos por mes, trabalhava 40 horas semanais e mal conseguia pagar com aquele salário os produtos do livreto de racionamento.

Concluiu os dois anos regulamentares como pagamento de sua carreira, pendurou o tapete atrás da porta e negou-se a continuar. Decidiu-se por uns cursos como desafio e para passar o tempo, matriculou-se em outra carreira por um curso a distância. O pai pressionou: não é bom acostumar-se a viver sem trabalhar; a mãe o convenceu: melhor continuar estudando do que ficar sem fazer nada.

Porém ela não entendia; porque todos insistiam com que trabalhasse enquanto ninguém parecia preocupar-se com o que lhe pagavam? Seus pais estavam velhos e a família no estrangeiro há alguns meses não podia mandar dinheiro. Sabia que a crise viria, porém trabalhar ou não trabalhar não faria diferença, já não era uma menina e o sabia, com um emprego legal morria-se de fome.

Os trinta chegaram a galope: os velhos já estavam mais velhos e o teto descascado da casa a lembrava que nada era eterno. Vender roupa de vez em quando, fazer guia de turismo ilegal por Havana Velha ou limpar uma casa de aluguel era o melhor que podia aspirar. Os anos passavam e a vida estacionava, começou a ficar obsessiva. Colocou seu nome em todos os sorteios de visto para os EEUU, pos um anúncio no hi5 para encontrar um noivo estrangeiro, falou com seus amigos para colocarem uma carta-convite...porém nada.

Os quarenta a pegaram deprimida, como Penélope ficou esperando um dia que não chegou, uma saída que não lhe coube, uma casa que nunca consertou, um salário que nunca aumentou, um marido que não ficou, uns filhos que nunca teve e uma vida que nunca viveu.

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