domingo, 29 de agosto de 2010

Impensável


Foto: Reina Luisa Tamayo e sua filha, por Claudio Fuentes Madan
Existem coisas que descartei no baú do “incompreensível”. Diria que renunciei, venceram-me, não agüentei, superaram-me. Nego-me a gastar meu cérebro um instante a mais tratando de encontrar alguma lógica, alguma, ao menos um mínimo sentido. Em sua maioria – confesso que são várias, demasiadas – ressaltam o regresso de Fidel Castro, as “medidas” de Raúl Castro, os signatários das cartas abertas da UNEAC, a sessão extraordinária da Assembléia Nacional, a fofoca com Elián González, a mente de Randy Alonso, os mortos de Mazorra, a permissão de saída, a utilidade “ideológica” da Mesa Redonda, a ética do médico de Orlando Zapata Tamayo, a vergonha dos que usam o uniforme verde-oliva hoje ou a moral dos militantes do Partido. A lista, juro-lhes, pode se tornar extremamente longa.
Contudo, existem outros tipos de eventos rebeldes para serem postos no saco, tampouco os entendo – inclusive os entendo menos -, porém não posso deixar, vez por outra, de voltar à eles, de analisá-los, desmembrá-los. Obsessionam-me, tiram o meu sono. Sinto que não deveriam ser, ou melhor, que Não podem ser. Minha racionalidade me diz que são impossíveis, meu cérebro grita desesperado que não existem pessoas que se prestem para espancar e impedir uma mãe de ir ao cemitério colocar flores ou render homenagem ao seu filho morto.
Ponho-me científica, quero analisar como num reality show: eu quero saber o que fazem cada um dos repressores (atores e diretores) de Reina Luisa Tamayo quando chegam em suas casas. Põem a panela de feijões? Abrem as janelas quando a tarde cai? Abraçam e beijam seus filhos antes de dormir? Dormem com sonho inocente ou os pesadelos atormentam suas madrugadas? Riem as gargalhadas? Olham-se no espelho, o que vêem? Gostam da chuva? Conversam com os seus vizinhos? Não consigo evitá-lo, minha mente faz seus cálculos e descobre que é irreal: ou melhor, não respiram oxigênio ou talvez não sejam mamíferos, sentencia. Então eu protesto: Não, já te disse, são humanos, humanos como os demais! Porém a outra eu, imparcial, não se deixa comover: têm que ser de outra espécie, têm que ser de outra espécie, têm que ser de outra espécie.

Um comentário:

Nelson Luiz Pedra disse...

A estupidez e maldade humana não tem limites.Como conseguem dormir?
Um abraço caloroso para você,seus textos viajam pelo Brasil.Um dia os monstros passarão!