sábado, 24 de outubro de 2009

Minha Suzuki


Foto: Claudio Fuentes Madan

Tirado da Saga El Ciro versus La Seguridad del Estado

Fui visitar minha avó em Santa Fé. A velha tem 193 anos e pensa que é hora de beneficiar sua família com bens que já não usa. Assim foi que me deu a notícia de que deixava para mim a moto do seu sobrinho, que saiu ilegalmente do país fazem tres anos e não lhe permitiam regressar pois estava acusado de deserção das fileiras do MININT.

Qual não seria minha surpresa quando vi que se tratava nada mais nada menos do que uma Suzuki (veículo clássico da segurança do estado). Meu Deus! Agora que caralho faço com isso? Não podia desdenhar o presente da minha avó, podia lhe infartar, assim lhe agradeci.

-Obrigado avó, vou chamar um caminhão para que venha pegá-la.
-Não meu neto, a moto está tinindo, podes ir nela.

Aquelas palavras retumbaram na minha mente. Pilotando uma Suzuki de Santa Fé até o Vedado. E se alguém me vê pilotando por aí? Vá lá!

-Monta, monta - dizia minha avó - e depois me dizes como chegaste.
-Está bem avó.
-Porém porque choras netinho?
-De emoção, avó, de emoção.

Montei naquilo e saí chispando pela 5a Avenida. Todas os rostos me pareciam conhecidos, assim eu acelerava cada vez mais. Um policial acenando a mão...merda...paro e me disponho a puxar a carteira porém de um pulo - Pum! - ele monta atrás.

-Deixa-me alí na frente que estou atrasado - disse tranquilamente.

Do caralho isso, numa Suzuki e com um policial montado atrás. No sinal da rotatória o vermelho me pega. Ao meu lado para um táxi particular com passageiros e ouço uma voz:

-Olha, você não é do Porno Para Ricardo? - tres rapazinhos se amontoavam na janela olhando estupefatos.
-Não, não, não, não sou eu - respondi.
-Acho que é - disse o outro.
-Que nada, não sou eu porra!

Acendeu a verde e me fui como um bólido.

-Ha, você é do Porno Para Ricardo, sempre soube que tinha que haver alguém alí dos nossos.
-Sim, bem...você sabe... nós sempre nos infiltrando em tudo.
-Olha deixe-me por aqui que já estou perto e sucesso com o trabalho.

Desceu e foi-se. Isso não podia continuar. Desci da Suzuki e parei um caminhão que me levou para casa.

-Quanto devo? - perguntei ao caminhoneiro.
-Ha vai me pagar, oficial?
-Puta que o pariu! Pega! - e lhe pus uma cédula no bolso.

Entrei com a Suzuki e imediatamente chamei a CI (orgão de inteligência):

-Venham, venham, tenho algo urgente para falar com vocês.

Chegaram em 2 minutos e 25 segundos, parecia que estavam a 20 metros.

-Bem Ciro, nos alegra que por fim estejas disposto a cooperar, queremos saber c...
-Não é isso. O que preciso é passar isso pra frente - interrompi indicando a moto. - É que me aflige ser visto montado nessa coisa e como vocês não se importam talvez queiram trocar por algo mais modesto, não sei...uma Carpati...qualquer merda.

Entreolharam-se.

-Ouça-me, nós não estamos aqui como traficantes de moto. Escutou? - gritou um.
-Uma Carpati você disse? - perguntou o outro - Eu tenho uma Carpati.
-Porém Alejandro! ou melhor...Rodney!
-Veja esse câmbio, é gato por lebre - retrucou Alejandro, ou melhor, Rodney.- Olhe Ciro, deixa isso aqui, amanhã mesmo lhe trago a Carpati e levo a Suzuki.
-Negócio fechado. E agora, fora da minha casa!

Fecha-se a porta e soa o telefone: Ring!

-Alô.
-Olá, Ciro por favor.
-É ele que fala.
-Me disseram que te viram hoje na Quinta Avenida...

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