segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Não quero ficar encatarrada



Frequentemente escuto as pessoas julgarem generalizando todo um povo e me revolve a bilis. A cada momento tenho que ouvir , tanto de amigos como de completos desconhecidos, frases como: este país está assim por culpa do povo, aqui só há covardes, vocês escrevem na Internet porque sabem que não vai lhes acontecer nada, os dissidentes são todos da segurança do estado, em todo o país não há um lider que valha a pena, etcétera até o infinito.

A maioria das vezes não respondo porque quase sempre termino esgotando todos os meus argumentos sem conseguir convencer ninguém de nada. É dificil enfrentar alguém que meteu um grupo de cidadãos dentro de um saco de absolutos e que além disso, julga o saco pelo material do que é feito e não pelo que contém. Porém ainda assim - quando o comentário chega muito perto de mim - não posso evitar de arranhar o vime da canastra em que me meteram.

Eu estava muito contente porque uma amiga médica havia prometido me presentear com uma máscara para quando eu entrasse num ônibus, quando uma estrangeira que escutava minha conversa interveio para dar sua opinião sobre o H1N1:

-Hoje lí na Internet que parece que os cubanos não tomam consciência do problema.

A primeira coisa que fiz foi contar até dez, porque não se pode começar o convencimento de alguém com uma cantilena de argumentos ditos com paixão, mas quando desde fazem meses vivemos nesta espécie de ambiguidade médica: há epidemia. sim ou não? A televisão e o rádio calam, depois de dois concertos massivos - primeiro Juanes e depois Manu Chao - os aeroportos continuam abertos, na farmácia não há nada para prevenir catarros e se tens febre te mandam para casa e arranjas-te como possas.

-Como os cubanos podem estar conscientes se nos meios de difusão em massa não dizem nada claro? Não só há H1N1, senão que também há dengue e conjuntivite hemorrágica, lamentavelmente isto que lhe digo não posso confirmar porque o ministério da saúde cala.

Não creio que informar seja o pior - temos aprendido a inteirar-nos das coisas sem eles - com certeza não foi dito. Acredito que o mais triste é que não fazem nada: os ônibus continuam abarrotados de gente, o sabão e o detergente continuam oferecidos só em CUC, o repelente é um objeto de luxo e se amanhã fosse primeiro de maio, iríamos todos à praça desfilar para superar a última cifra de não sei quantos mil que estiveram no concerto do dia 20.

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