sábado, 7 de agosto de 2010

Mãe, o que o bem?


Com uma corda grossa e um pedaço de madeira tres meninos preparavam o cepo de tortura para uma lagartixa. Um deles segurava a vítima, que com os olhos muito abertos e o corpo rígido, esperava seu martírio sem muitas esperanças de sobreviver. Nesse momento eu passei e intervi, como é lógico, em defesa do pobre animal: dei uma explicação sobre cuidar dos seres vivos e agarrei o bicho com as mãos. Muito feliz pela minha boa ação busquei uma árvore adequada para o seu bem estar e o soltei entre as ramas. Até esse momento tudo foi bem típico, os meninos fazem experiências com pássaros e pequenos animais e os adultos tratam de educá-los no amor à natureza.

O inusitado veio vinte minutos mais tarde quando a mãe de um dos meninos bateu na porta para exigir explicações. Decidi, então, expor à essa mulher os mesmos argumentos que havia dado ao seu filho, e aparentemente me entendeu, pois não disse uma palavra, agarrou o menino pelos cabelos e o levou. Senti-me um pouco culpada, nunca esperei tamanho castigo por uma lagartixa, porém intervir mais uma vez nas questões morais desta família haveria sido excessivo.

O incidente me intrigou, não porque os rapazes brincaram de martirizar um réptil, mas sim porque eram tão inconscientes da sua má ação que acharam "correto" buscar o apoio dos seus pais. Quando eu era pequena os meninos do meu bairro matavam pardais às escondidas, eles sabiam que aquilo era mal. O que aconteceu quinze anos depois para que essa noção simples do bem e do mal haja desaparecido?

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