sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

As lágrimas que não choramos

Foto: Leandro Feal

Poder de decidir sobre o outro, sobre a vida do outro, sobre as posses do outro, sobre os direitos de outro: essa é a doença do meu governo. Esperar para sair do país, para dizer o que pensa, para ganhar dinheiro decentemente, para viver sem medo: essa é a doença do meu povo.

Não sou uma pessoa nacionalista, não me considero patriota nem nada do gênero, porém amo minha terra e Havana nos dias cinzentos e nos amarelos. Gosto dos cubanos quando sem te conhecer dizem "meu amor", me fascina escutar as conversas das pessoas na rua e saber que se quisesse poderia fazer um comentário e "meter-me" minha opinião. Sou fascinada por alguns lugares específicos da minha cidade e ver as pessoas da minha idade vivendo vidas diferentes, únicas, vidas marginais.

Todavia existem outros dias em que sinto muita vergonha da terra em que nasci. As vezes olho as pessoas e não têm rosto, são todos iguais e todos de medo. Dias em que sei que ninguém se salvará, ninguém gritará, ninguém estenderá a mão e ninguém dirá "meu amor" porque o terror é muito grande. Dias de indolência, de lástima e de impotência com eles e comigo. Dias em que a espera se torna longa. Dias em que a dor me faz chorar e não entendo como é possivel que os outros não estejam chorando. Dias em que me parece absolutamente necessário que um mar de lágrimas corra pela Rua 12 até o Malecón, porque nosso olhos secos já não levam à nenhuma parte.

Desde a morte de Tamayo todos se tornaram assim para mim.

Um comentário:

Anônimo disse...

A morte do mártir da libertação cubana Orlando Zapata Tamayo é a primeira peça da queda do efeito dominó que derrubará essa ditadura monstruosa que assassina um pouco da alma cubana a cada dia. Liberdade aos presos políticos cubanos que resistem nas masmorras fétidas de raul e fidel, assassinos do povo cubano.