
Texto: La Salamandra Blanca
Ir ao cinema pelo motivo do Festival ou simplesmente passar neste dias pela 23 é supreender-se com a presença cada vez mais crescente do pessoal militar. Já não sómente policiais, agora estão acompanhados por jovens vestidos de guarda ou trajes verde-oliva. Possíves cadetes ou mobilizados do Serviço Mliltar Geral?
Fico sabendo de alguns incidentes por comentários de amigos e conhecidos: comícios de repúdio, cancelamento de eventos culturais, anunciados inclusive pela televisão, como o Festival de Poesia sem Fim que celebram já há vários anos em Alamar. Para o cúmulo me contam os gritos ofensivos e humilhantes. Até golpes em cidadãos tiveram lugar nas respostas da autoridade, uniformizada ou não, para calar os atos de manifestação cívica.
Porém, além do que me contam, somente em duas noites pude comprovar com meus próprios olhos e muito perto, neste fim de semana, incidentes que deixariam boquiaberto qualquer transeunte que passasse por perto.
Um deles foi na entrada do cinema La Rampa, que terminou com o cancelamento do filme Anticristo, tão esperado por muitos. Todas as noites em seu afã de controlar a entrada da multidão se reunem uns policiais e militares, antes mencionados. Nesta sexta-feira entre o público e eles formou-se um "empurra-empurra" mais forte do que o de noites anteriores: caras agressivas se enfrentam, risadas ao ver como um agente se enrubesce sem poder dominar, queda de alguém, até uns chinelos perdidos no chão. Quando eles não bastam, pedem reforços para controlar a multidão e chega outra patrulha próxima com outra boa quantidade de guardas de todo o tipo.
Sem que se saiba o motivo, conduzem um rapaz de uns 20 anos até uma patrulha e lhe revistam o bolso. Alguns amigos exigem respeitosamente que expliquem porque fazem isso, que devem dizer para onde e porque o levam, além disso alguém próximo pergunta o nome e o cargo do oficial. Somam-se pessoas menos jovens exigindo a causa da detenção. Muitos começam a gritar com os policiais que isso é abuso de poder, violação da constituição, chamam-lhes de abusivos. Um jovem do MINIT pergunta quem grita tal coisa para mostrar-lhe o que é abuso, fico perplexa com semelhante advertência de valentia estúpida.
O oficial, um homem de uns quarenta e poucos anos, ao parecer estava muito chateado pelo rumo que estava se formando nesta parte da rua. Altera-se e percebo que diz algo ao jovem detido de maneira agressiva, em sua cara só se via ira, o jovem lhe responde algo e alí mesmo o policial o agride, o enfia sob empurrões fortes, quase golpes, dentro da patrulha e o leva. Os amigos pedem ao grupo aglomerado para marcharem até a unidade onde supõem que o levam, para exigirem os direitos do jovem. No final todos se vão diluindo e, como disse, o filme fica sem projeção nesta noite.
No dia seguinte, muito tarde, saio do cinema e passando pela 23 com G de volta à casa, olho pasma o muro recém forrado de pedras para evitar que aí se sentem os que alí se reunem. Porém na calçada da rua algo é mais supreendente ainda. Há uns cinco policiais, um deles com uma guitarra na mão, parece-me muito raro, pela cara que tinha não pensava em nos deleitar com alguma música, o caso é que a queria confiscar de um dos rapazes do grupo ao redor. Depois de ficar alí cerca de meia hora ouvindo as súplicas e queixas dos que foram se somando, chamaram uma patrulha para terminar levando a guitarra e seu dono à uma delegacia da região.
É incrível ver como algo tão inocente como tocar guitarra numa esquina onde se junta parte da juventude de Havana é um ato delituoso, e além disso se arrogam o direito até de confiscar o objeto de distração destes rapazes. Que algo tão cândido como sentar-se num muro para tocar canções na rua possa ameaçar a autoridade é algo preocupante. Que farão? Confiscarão todas as guitarras dos que passam distraindo suas noites e a de outros nesta cidade? Provocarão constantemente a impotência de alguns e o desafio de muitos para gritar-lhes na cara o abuso de poder que constantemente cometem?