domingo, 9 de novembro de 2008

A Mesa Redonda







Fotos: Claudio Fuentes Madan

Tive uma época radical com a Mesa Redonda (programa de debates políticos) e com a televisão entre os 15 e 20 anos. Ao mínimo decibel que meus ouvidos captavam, tornava-me histérica e buscava com desespero o radio ou televisor fonte de meu mal estar para apagá-lo no momento. Inclusive um dia, minha intolerância venceu meu terror e apaguei o televisor do meu pai que estava assistindo uma marcha de Elián da qual eu acabava de escapar depois de 7 horas de ensaio de fuga malsucedida. Ficou tão surpreendido que não me disse nada, enquanto eu gritava: hoje sim que não...hoje sim que não aguento!

Porem por sorte essa época passou, sempre com a ajuda da deterioração mental de Fidel Castro, até o ponto em que cheguei a ser uma fã de seus discursos, porem isso foi depois.
Minha avó esteve cinco anos com demência senil, poderia escrever 100 posts do inferno que vivemos nos hospitais, em casa, com o médico de família que não existe, com o meprobamato e alem disso no mercado negro...enfim uma odisséia. Porem antes de ficar muito mal, minha avó, que era uma mulher muito prática, saída da classe baixa de Luyano e com um nível escolar primário, chegou conclusão de que nunca havia passado tanta fome como depois do triunfo da revolução, e chamava irônicamente O Norte Revolto e Brutal que nos espreme aos Estados Unidos, para desonra de minha mãe e meu pai, militantes do PCC ( por sorte minha mãe recuperou-se deste baque ideológico). Porem foi envelhecendo, quase não ouvia, não podia sair e o único que podia fazer era ver televisão. Passado uns meses começou a mudar. Já não se podia falar mal do governo diante dela, ela citava o comentarista de TV Randy, colocava exemplos da "batalha de idéias" e não entendia porque minha mãe e eu, que passávamos o dia trabalhando, nunca tinhamos dinheiro para nada. Começaram as broncas em uma casa onde a política havia deixado de ser tabú depois do politiquíssimo divórcio dos meus pais. Minha avó, que contudo percebia um pouco da realidade, decidiu que renunciava a assistir televisão porque lhe parecia que já não podia discernir bem e que estavam lhe lavando o cérebro: preferia aborrecer-se a ficar discutindo com minha mãe e comigo.

Por essa época foi que comecei a ser atraída pela Mesa Redonda. Com um pote e uns bules, o Comandante explicava à população como fazer café, maltratava Randi (que só dizia Sí, sí, sí sí, sí, sí, Comandante), dizia que era melhor esquentar a água no fogão que ter um chuveiro elétrico e dissertava sobre o conceito, dizia à Rubiera por onde iam passar os ciclones, zombava ao vivo dos General Electric (como é possível que a gente ainda tenha esta sucata?), e uma vez até deu um sopapo no microfone que o importunava porque roçava sua mão. A primeira Mesa Redonda que vi me pareceu humoristicamente inferior a realidade.

Chegamos a ser uns quantos fãs. esperávamos as seis da tarde para ver o show, e se havia intervenção especial de Nosso Comandante em Chefe, muito melhor. Os amigos ainda radicais, como eu na adolescência, trouxe-os e os sentei diante da televisão, ao me verem chegando às lágrimas começavam a rir-se tambem e terminavam, se não como fanáticos, ao menos baixando o nível de intolerância a quase zero.

Uma vez conheci um espanhol, lutador contra Franco, que me contou que quando chegou em Cuba, do aeroporto pegou um táxi para o centro e o motorista tinha sintonizado o rádio na Mesa Redonda. O tema: as panelas dominantes. O turista perguntou intrigado ao taxista como conseguia captar as rádios de Miami num táxi estatal, pensava que era um programa humorístico irradiado. O pobre homem teve que parar o taxi no meio de Boyeros, porque o ataque de gargalhadas era insuportável, enquanto explicava ao turista que não era nenhuma paródia, que era Ele, ao vivo e direto para toda Cuba. O espanhol nunca acreditou, até que viu na televisão o que lhe parecia completamente impossivel.

Quando me contou disse-me: ouve Claudia, este não dura nem um ano, é impossivel.

Desgraçamente, a anedota já tem mais de três anos.

Um comentário:

DUARTE SILVA disse...

Interessante essa do coma-andante gostar de panelas.
Como já está mais para lá do que para cá, será que o capeta estará a preparar algum caldeirão especial para ele? kkkkkk