terça-feira, 7 de abril de 2009

Itinerário da segurança


Foto: Claudio Fuentes Madan

Todo dia batem na minha porta, várias vezes, diferentes representantes do Ministério da Saúde Pública. Antes eu sempre os deixava entrar, revistavam toda a casa, anotavam num livreto em mal estado a quantidade de ralos, de vasos espirituais, de cubas , de baldes, de vasos de flores e de qualquer coisa que pudesse conter água.

Com o tempo comecei a me aborrecer, é bastante desagradável que quatro pessoas diferentes num mesmo dia venham à casa de alguém para anotar exatamente o mesmo, dia após dia... durante anos. Assim foi que numa manhã, faz uns dois anos, levantei-me e disse: Acabou-se a desordem, nem um mais. Agora lhes digo do portal, as já sabidas informações: 5 ralos, dois vasos espirituais, 3 baldes de água, um refrigerador Haier, não há água acumulada, não tenho tanque. Quando se tornam muito chatos e ameaçam-me com uma multa (só ocorreu duas vezes) os esclareço dessa exigência de que entrem todos os dias 5 pessoas diferentes na minha casa, que isso não pode ser que não é seguro para mim etc., e se acalmam: eles devem sofrer o mesmo itinerário de estranhos em suas casas também. Quando querem revisar se há foco, mostro-lhes que sei perfeitamente identificar um foco e até lhes peço o abate (veneno para larvas de mosquitos), que disciplinadamente coloco em todos os ralos e na parte de trás do refrigerador.

Meses mais tarde descobri que com meu impulsivo “Nem um mais”, havia tomado uma das sábias decisões não consensuais que a gente vai impondo na base de comentários: Os ladrões se disfarçam e assaltam a gente que lhes abre a porta e os deixa entrar; os rapazes dos mosquitos (assim os chamam), estão fazendo o Serviço Militar, anotam tudo o que tens, para depois informar à segurança e se vêem algo subversivo (livros, revistas, etc.) em seguida o levam; quando da “Operação Windows”, lá pelo ano de 2003, a maioria dos computadores que confiscaram foi através dos informes do Ministério da Saúde Pública.

Não tenho nem idéia da veracidade destes comentários, porém se a segurança do estado quer recensear os conteúdos de nossas casas, que venham eles mesmo com a ordem, de qualquer modo, tem poder de sobra para isto (o melhor é que não tem orçamento para fazê-lo em nível nacional).

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