quarta-feira, 1 de abril de 2009

Não vivas na mentira*



Lendo esta *carta que Alexander Solzhenitzin escreveu para a União de Escritores da URSS, sinto-me um pouco mal porque incorri, em diferentes momentos da minha vida, em todos e em cada um de seus enunciados, que reproduzo abaixo. Não obstante, trato cada dia de escapar um pouco mais, de cravar agulhas na minha bolha de medo, de sentir-me mais livre, de ser cada vez mais independente do sistema.

O primeiro é o que mais gosto: é minha meta e solto uma gargalhada de ironia cada vez que o leio. Se o adoto, posso renunciar por completo a graduação na Universidade de Havana. Recordo perfeitamente minha pergunta número 5 de Filosofia e Sociedade II: "Argumente porque a Batalha de Ideias representa um motor intelectual para a cultura revolucionária". escrevi meia página, empenhei-me- para que não aparecessem os seguintes têrmos: batalha de ideias, revolucionária e revolução, falei da cultura como instrumento da sociedade para evitar a alienação e da arte como não sei o que. Obtive o máximo.

-Abster-se totalmente de escrever, subscrever ou imprimir uma só frase que contenha opiniões falseadoras da verdade.

- Não pronunciar tais frases nem em conversações privadas, nem em dissertações públicas; nem de motu proprio nem por meio de notas; nem na qualidade de agitador, nem de professor, nem de preceptor, nem em representações teatrais.

-Não manifestar, nem corroborar, nem comunicar, seja mediante pintura, escultura, fotografia, técnica ou musicalmente, nem um só pensamento falso, nem uma só alteração da verdade que salte aos olhos.

Não citar de viva voz, nem em correspondência, nem num artigo de fundo, para agradar alguem ou para manter-se num posto de trabalho ou alcançar êxito no mesmo, determinados juízos de autores, quando não compartilhe plenamente das opiniões expressadas neles, ou quando não se adequem estes ao que aqui se expõe.

-Negar-se a assistir, por força, uma manifestação ou comício, se este contraria a vontade própria. Não aceitar em mãos, nem divulgar, bandeiras ou palavras de ordem que não condigam com a verdade.

-Não levantar a mão para votar a favor de propostas com as não se esteja sinceramente de acôrdo; não votar, nem aberta nem sub-repticiamente, em pessoas que se considere indignas ou suspeitas.

-Não concordar em intervir em assembléias, onde se suspeite que vão submeter a discussão certas propostas, de forma coerciva e falaciosa.

-Abandonar no mesmo instante toda reunião, assembléia, conferência, espetáculo ou sessão cinematográfica, na qual o orador só profira mentiras, disparates ideológicos ou propaganda descarada.

-Não subscrever nem comprar números avulsos de revistas ou jornais nos quais a informação esteja falsamente construida ou se escamoteiem feitos fundamentais.

Nenhum comentário: