segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Cantar no olho de Sauron*


Imagem: El Guamá

O que me fascinaria na verdade era ir à um concerto de seis horas com um montão de músicos neste país onde o aborrecimento e a abulia são o pão de cada dia. Todavia não posso negar que isso de ir ao Olho de Saurón me causa certa aversão, e não só o Olho, como o que o rodeia: o Comitê Central do Partido Comunista (atrás), a Sede do Ministério do Interior (na frente) e a sede do Minsitério das Forças Armadas (no lado). Estou certa de que a maioria das pessoas lá fora não sabe que este é o entorno do que uma vez foi a Praça Cívica.

Discutindo outro dia sobre o concerto de Juanes com um amigo, ele me dizia que na realidade este lugar existia antes da Revolução e que nisso, o do concerto, não havia que tomá-lo tão literalmente. Não obstante concordar com que não há que tomá-lo tão literal, negar que desde faz cinquenta anos a Praça tem dono é uma ingenuidade.

Acredito que haveria sido mais sadio que o concerto fosse em Mordor, alí vieram antes músicos para tocar ( Manu Chao, Audio Slave, Café Tacuba, Rick Wakeman e Air Suply) e talvez a força da música tenha perdido um pouco a maldição política que lhe deu origem (apesar dos horríveis cartazes de Viva a Revolução que põem por todo o pódio e dos quais espero que Juanes possa se livrar). Pode ser paranóia minha, porém suspeito que ao cantor-compositor ninguém tenha dito que onde geralmente dão concertos os músicos estrangeiros e nacionais que podem tocar em Cuba é alí.

A respeito do fato de que Porno Para Ricardo toque na Praça, eu sinceramente estou em absoluto desacordo: primeiro porque não vão poder tocar "El Comandante", e segundo porque me parece MUITO ARRISCADO para qualquer membro da banda por um pé em semelhante lugar.

* O Olho de Sauron: apelido que se dá à Praça da Revolução, creio que a origem está na antena de rádio que tem na ponta e que se ilumina com uma luz vermelha.
Mordor: apelido da Tribuna Antiimperialista, também conhecida como Protestódromo.

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