sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Os requisitos da UJC


Eu não vivenciei, porém me contam que pelos anos 70 entrar na União de Jovens Comunistas era uma façanha. Havia que se demonstrar uma integridade revolucionária impoluta, haver participado em quanta atividade política ou combativa que fluísse no ambiente e haver cumprido a perfeição com a tarefa do turno que o comandante houvesse ditado.

Porém os anos se passaram e aquela organização que era primordial para ser um bom estudante e revolucionário, obter um bom trabalho, uma boa garantia, perdeu o mais importante que dava sentido à sua existência: a ideologia. Se comparássemos, seria como o grave diagnóstico que um informata faz de um computador que quebrou o processador: perdeu o coração.

E sem coração chegou a UJC aos noventa, anos em que supostamente tocaria a mim injetar sangue jovem nas suas veias entupidas. Porém na minha época as coisas eram bem diferentes: sem combatividade, sem haver jamais participado de nada e inclusive tendo deixado de cumprir várias tarefas, chegou minha convocação quando tinha treze anos. Aceitei e comecei um processo que, por sorte, minha mãe decidiu suspender quando soube; considerava que antes dos 18 anos não se tem consciência nem necessidade de pertencer a uma organização política. Eu lhe agradecerei sempre, ainda que a equipe de proselitismo da UJC não leve em conta esses argumentos, aparentemente jogaram todo meu processo para trás e cheguei ao meu nível médio técnico acreditando-me livre: que ilusão!

Nunca me chamaram para uma reunião, jamais me deram uma tarefa, eu aparentemente não era da Juventude. Meus quatro anos no ensino médio transcorreram sem que ninguém me dissesse que no meu prontuário escolar, anexado à última página, um folheto escrito a mão dizia que eu não só pertencia a União de Jovens Comunistas, senão que havia, além disso, cumprido com todas as tarefas que me haviam designado.








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