sábado, 22 de agosto de 2009

Quem é mal interpretado?



Quando escuto uma análise que pretende colocar pontes entre o artista, a obra e o oficialismo, frases recorrentes como "fui mal interpretado", "não souberam entender minha mensagem", "eu nunca quis dar uma opinião política" são das que me revoltam o estômago, sobretudo se é suposto que eu deva levantar a mão e fazer uma pergunta, dar uma opinião. Outro dia estive num debate e saí deprimida: nenhuma pergunta real, nenhuma resposta real. Em algum momento alguém disse: "Imagina, podem pensar que sou um verme", e eu disse a mim mesma: a partir deste instante se levanto a mão e começo uma pergunta, por questões inerentes a minha personalidade serei obrigada a começar dizendo: "Como verme gostaria de saber se...". Porém no fundo me sentia mal e não estava para brincadeiras, arrependi-me desde o momento em que descobri que não levantaria a mão, juro que não foi covardia, foi decepção.

Com o passar do tempo as frases mudam e se ajustam a uma nova maneira de entender o mundo. Quando são princípios intransigentes e excludentes porém que não deixaram de ter vigência, suavizam as vezes sua construção sem por isso perder sua essência. Desde há alguns dias tenho minha cabeça dando voltas com esta incoerência: "Dentro da revolução tudo, fora da revolução nada", da minha percepção sinto uma mudança, poderia tratar de materializá-la desta forma: "Dentro da arte tudo, fora da arte nada".

Talvez uma nova estratégia governamental haja traçado uma nítida linha vermelha entre nós: a crítica a partir da Arte (válida), a crítica fora da arte (contrarrevolucionária). Não quisera que este post resultasse ofensivo para ninguém, é só a opinião de quem critica fora da arte e sem ânimo de "fazer cultura".

O governo cubano tem utilizado sempre técnicas rebuscadas de censura,faz pouco vi os documentários de Nicolás Guillén Landrián e pensei que seria bastante dificil para um estrangeiro compreender porque o censuraram nos sessenta. Sem tirar-lhe o valor e sobretudo com toda a humildade ante "a crítica a partir da arte", quisera sómente com este post recordar que a linha vermelha não foi colocada por nós, senão por eles; as vezes com os anos esses detalhes são esquecidos.

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