segunda-feira, 9 de novembro de 2009
Prefiro vítima do que carrasco
Foto: Fotos Cuba Hoy
Não queria escrever, minha paranóia me dizia que deveria esperar estar outra vez no meu juízo perfeito. Nestas últimas 48 horas tenho estado irascível, ferina, histérica, compreensiva, maternal e com instintos assassinos...quis matar e quis salvar. Senti-me agradecida à polícia por proteger-me da segurança do estado e quis arrasar esse corpo que responde ante ordens de desconhecidos. Desejei estar no corpo de Yoani e sofrer a dor, senti-me merecedora de cascudos ou digna de liderar o Juízo Final. Imaginei-me capaz de perfurar a cabeça dos que na sexta-feira golpearam Yoani e Orlando e a mim não, e tenho me perguntado por que. Perdoei e voltei a julgar.
Senti a culpa e culpei, tenho me perguntado tantas coisas que não tenho tempo de me responder. Tratei de reconstruir os fatos dois milhões de vezes porém creio que as lacunas são cada vez piores. Não recordo se twittiei da patrulha, não sei se o primeiro twitt foi quando me agarrava com fervor na cintura de Yoani ou quando via suas pernas pendendo do carro preto da segurança. Não lembro se chamei, se não chamei, à quem chamei. Nem sequer me lembro da cara do segurança que ia ao meu lado. O que sei é que aguentava a vontade de vomitar todo o tempo, arrependo-me de não haver lançado todo o café que tinha no estômago em cima do meu repressor...nesse momento tratava de parecer forte.
Uma escritora amiga me disse: Para que esperas, cada vez que escreves te desvelas, não há nada que possas ocultar. Tem razão, dá no mesmo que o saibam: a brutalidade me confunde, o abuso me dá vontade de chorar, a injustiça me abala e tenho tido que lutar nestas últimas horas com um Ódio profundo que me quer assumir.
Só uma imagem me libera, imagino o diálogo do quebra-ossos com seu filho:
-Papai, o que te ensinaram na academia?
-Ensinaram-me a bater forte sem que fiquem marcas.
Então acaba-se a fúria e o repúdio, porque uma profissão tão ruim e desprezível não desperta nenhum sentimento em mim.
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