quinta-feira, 12 de novembro de 2009
Regresso à cotidianeidade
Foto: Claudio Fuentes Madan
Os dias passam e tudo vai voltando a ser como antes. Yoani ainda de muletas e Orlando que se nega de ir ao médico, mesmo assim as ruas vão se parecendo de novo as ruas da minha cidade. Havana dos medos dissimulados, da pobreza que ninguem quer ver, da polícia reprimindo e corrompendo, da segurança trapaceira, da gente sem Fé e da arte decadente.
De novo os minutos de liberdade são contados no turno de hora e meia no Chaplin durante o ciclo de cinema polones. Outra vez vem meu amigo me pedir a versão atualizada de Voces Cubanas. A gente fala da situação econômica muito baixo, olhando de soslaio, a política fracassada do govêrno.
Vou no ônibus e vejo os meninos do MININT, creio que não chegam aos 18, com a mesma cara de abulia que têm todos os demais. Não posso deixar de me perguntar até onde chega a irracionalidade dos pais. Sorrío cada vez que os protagonistas da indisciplina social em pequena escala (no P4 somos a maioria por larga margem) dão o dinheiro ao chofer e não o jogam na caixinha, jogando-lhe na cara todos estes spots televisivos que dizem que ao pobre chofer não há que se dar nada: tudo para Papá Estado, Senhor Absoluto.
Vou caindo de novo em mim e olho as pessoas ao meu redor. Cansados e suados regressam às suas casas, uns rapazes diante de mim explicam como conectar dois computadores em rede, guardo porque se um dia me faz falta: cortar o cabo, unir o primeiro com o sexto e o segundo com o quarto. Imagino-os salvando uns civis de sequestradores sem documentos que dizem ser o poder supremo. Algo me diz que não falta muito para que cheguemos neste ponto, para que a solidariedade cidadã floresça nesta ilhota.
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