sábado, 7 de novembro de 2009
Violência contra a não violência
Sexta-feira, academia blogueira, terminamos a aula de cultura cubana com Miriam. Ambiente descontraído: os Taínos e os mitos. Antes de ir-se Iván me disse - Nos vemos as cinco e meia. Soubemos por amigos, sabíamos que Aldo, Luis Eligio, Amaury e outros jovens iam caminhar hoje pela 23 e G até L com cartazes contra a violência. Uma marcha cívica num país onde o civismo foi isolado pelo totalitarismo, onde o poder envelheceu e os últimos estertores de um sistema que se esboroa são uma resposta cega, chilique puro.
Ficamos, Orlando Luis, sua noiva, Yoani e eu congregados e fazendo hora para a marcha. Saimos da casa nervosos porém convencidos de que não estariamos sós. Pela rua G Orlando ia dizendo piadas das quais não me lembro porém que me faziam rir as gargalhadas. Um homem se masturbava em pleno dia em Zapata, Havana era como sempre. A parada do P11 estava repleta, 27 e G, a unica esquina onde se pode pegar algo que te leve para Alamar.
O carro apareceu do nada, chapa amarela, modelo chines novo: dinheiro para reprimir. Vamos tranquilos, me disse Yoani de brincadeira e os tipos se abaixaram com cara de não estar tranquilos, deve ser triste ser um valentão. Negamo-nos a entrar no carro, eram tres e nos ameaçavam:
-Entrem no carro agora.
-Deixem-nos ver seus documentos ou tragam um uniformizado.
Orlando tinha seu celular na mão. "Pardo não graves" - disse o de camisa alaranjada -peguei o meu. Ninguém me deu importância, enviei o primeiiro twitt...
Em menos de tres minutos chegou uma patrulha, um casal de policiais - mulher e homem - olhavam estupefatos a cena. Cumpriam ordens ligeiramente em câmera lenta, a mulher me disse:
-Não resistas.
-Eles estão sem documentos - ocorreu-me esclarece-la.
Yoani se agarrava numa moita, eu na cintura de Yoani e a mulher me puxava por uma perna. Haviam arrastado Orlando, ficou fora do meu campo de visão. Um homem na parada olhava com cara aterrorizada, as pessoas não diziam nem meia palavra. A oficial, muito jovem, me deu uma chave que me deixou imobilizada, podia ter esperneado um pouco porém fiquei atônita ao ver as pernas de Yoani saindo pela janela de trás do carro da segurança do estado.
Enfiou-me na patrulha enquanto eu gritava:Yoani!, Yoani! Porém me dei conta de que ninguém poderia ouvir-me, tudo estava herméticamente fechado, a mulher de Orlando forcejava com o policial, o corpo de Yoani era enfiado a empurrões de cabeça no carro e o telefone de Orlando saiu voando pela janela...enviei o segundo Twitt, com a esperança de que alguém entendesse mal ou bem o que eu conseguia teclar.
A garota policial subiu na patrulha e me disse:
-Porque resististe? Não queremos golpeá-los.
-Quase me rasgas a camisa - disse o outro da PNR (Polícia Nacional Revolucionária) - enquanto enfiava a noiva de Orlando no carro.
Viam-se envergonhados, por um momento acreditei que nos pediriam desculpas:
-Vocês tem suas identidades em cima? - disse ela quase docemente - e nos entregou o telefone de Orlando que soava sem parar.
Desgraçadamente chegou o de camisa alaranjada, entrou e fechou a porta...ficou ao meu lado. Os policiais se calaram o começou o diálogo.
-Claudia, desliga o telefone.
-Esquece.
-Que nojo - disse a noiva de Orlando.
O resto puro insulto, bronca surrealista.
-Teu nome não passará à história - enfatizou.
-Não me importa, porém tu nem sequer tens nome.
Quando desci do carro virou para G.
-Então será pior.
-Tuas ameaças são o teu medo. Estão no fim.
-Palhaça.
Colocar o pé na esquina da casa de Yoani me deu vertigem, não havia luz no edifício, não podia ligar para o celular de ninguém e estava ficando sem saldo. Nisso recebi a primeira chamada com um 00 em frente e soube que nada havia sido em vão, inclusive se todos haviamos sido presos e a marcha suspensa. Quando mais tarde assisti o video que Ciro me trouxe soube com certeza: estão perdidos, a contagem é regressiva.
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