terça-feira, 13 de abril de 2010

Cuidar do cérebro



Foto: Claudio Fuentes Madan

Vale a pena fazer exercícios, não fumar, não beber, não se chatear em excesso com as coisas da vida e nem se obsessionar com o amanhã. Ainda que eu não cumpra perfeitamente nenhuma dessas premissas, tenho uma receita - não tão saudável para o corpo, porém muito para a cabeça - que me salvou outras vezes: não deixarei que lavem meu cérebro, prefiro desejar a verdade do que viver me acostumando com a mentira.

A memória é traiçoeira e não consigo recordar o exato momento em que, provavelmente em frente a televisão, disse a mim mesma: "De fato estes senhores estão me mentindo". Por outro lado, e completamente contra a minha vontade, tenho gravados, como hieróglifos, os numerosos comunicados que lí quando era pioneira exemplar, os cartazes que colei "Sim, eu voto por Todos", inclusive as lágrimas que chorei por aquele desconhecido Che assassinado - segundo meus estudos no primário - para que eu pudesse ser feliz.

Depois destas estranhas evocações sobre mim mesma - a outra eu desconhecia e por sorte de pouco valor - tenho um buraco negro do tamanho do universo e minha próxima cena é bastante antagônica em relação ao capítulo anterior, um exemplo perfeito do picadinho de imagens de uma memória traumatizada:

Estou no corredor do técnico médio em que estudei, falo com um grupo de professores e lá está a presidenta da FEEM. A conversação está tensa, porém o caráter é afável, ela me diz:


-Eu creio que as coisas podem melhorar, nas reuniões eu digo o que penso, trato de fazer o que posso.
-Tu serás assim, porém me parece que estar na Juventude, em sua maioria, é puro oportunismo.

Gostaria de saber o que aconteceu exatamente, no meio. O que lí? O que viví? Tento e tento mas não consigo lembrar. Talvez não consiga ver nunca, embora tenha aprendido algo: somos o que pensamos, não podemos nos dar ao luxo de esquecê-lo.

Canção "Maniobras" del Ciro, del disco "Cuando amanezca el día"

Um comentário:

Jambalai disse...

Percebo que vocês cubanos parecem confusos com o excesso de propaganda política. São sempre chamados a defender o socialismo e a revolução de 1959.

Ou são sempre confrontados com a obrigação da defesa do socialismo.

Creio que as dificuldades materiais porque passam são maiores que imaginam, pois vocês estão habituados a um mundo de poucos produtos e serviços.

Vejo que ficam abismados com mais exigências e não podem se manifestar mesmo que de forma sutil, contra estas exigência por temerem ficar banidos da sociedade

O mundo que vocês vivem é surrealista. Muito bizarro para nossos costumes.