domingo, 11 de outubro de 2009

Os imprescindiveis


Grafiti em Novo Vedado

Tenho vivido confusa pelo ideal do momento: O cidadão imprescindível. Ao longo da pequena história da minha vida chegaram a refletir-se, sem voz e sem rosto, os diferentes tipos de indispensáveis que o país tem necessitado. As vezes foram os que votavam mais cedo, os que denunciaram o mal feito, os que se sacrificaram em nome da revolução ou os que pegaram o fuzil para ir à outros lugares a fim de morrer ou serem mortos. Como cada um foi previamente escolhido em algum momento a partir de um discurso de Fidel Castro, teve seu respectivo spot publicitário na televisão, onde nos convidavam - os prescindiveis - à nos unir ao estranho coletivo eterno.

Porém as qualidades dos imprescindiveis tornaram-se cada vez mais ambíguas, até que chegaram a ser completamente obscuras e o único indispensável que restou no reino do tangivel foi manter a boca fechada a qualquer preço. Resultou tranquilizador para mim esta mudança do suposto "homem novo", que anualmente se metamorfoseava dependentemente da dissertação imperante e que jamais existiu.

"Esses são os imprescindiveis" soou ontem na televisão e eu me perguntei quem seriam esses que se sacrificavam em nome de uma ideologia de que já ninguém recorda. Porém os tempos mudaram, agora os imprescindiveis são os que trabalham por um salário de 400 pesos ao mes sem gracejar, os que lavram a terra para presentear o estado com suas colheitas e os que não pretendem viver do fruto de seu trabalho. Os idealistas, os defensores do bem a todo o custo, os que acreditaram num futuro luminoso, esses, já não são indispensáveis.

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