sábado, 3 de outubro de 2009

Pastilhas para não sonhar*


Foto: Claudio Fuentes Madan

Entras pela porta do consultório e o psiquiatra já sabe - percebe, para solucionar o que estabiliza o tratamento: imipramina com trifluoperazina - cabe à ti o antidepressivo nacional. Poucos escapam: meprobamato, nitrazepam, amitriptilina, metilfenidato, fenobarbital, PV2 e os que tem posses, prozac. Há para todos os gostos, pastilhas para esquecer, para não odiar, para dormir, para não dormir, para rir, para não sonhar, para não pensar, para ficar forte, para ficar fraco e para viver permanentemente no nirvana mental, análogo de certo modo ao nirvana estatal dos nossos dirigentes.

Para um aposentado com uma pensão de 200 pesos o mercado negro está sortido porém caro. Com certeza a médica da família não tem coração para negar à ninguém uma receita de meprobamato, ela também tomou um antes de pegar o ônibus para chegar ao trabalho. Outros sobrevivem com estranhas misturas: PV2 (estimulante) com amitriptilina (antidepressivo) pelas manhãs; e meprobamato (sedativo e relaxante muscular) com nitrazepam (sedativo e hipnótico) pelas noites...uma bomba de felicidade.

Não pretendo fazer estatísticas, porém não conheço mulher de mais de quarenta anos que viva sem o meprobamato ou a trifluoperazina; entre os homens a imipramina tem mais demanda, embora o álcool faça estragos.
Casualmente aqueles que trabalham por 300 ou 400 pesos ao mes, de oito da manhã às cinco da tarde, empurrando dolorosamente a roda enorme da burocracia e da ineficência estatal, são os mais adictos. Uma amiga de menos de trinta anos disse-me outro dia ao chegar na minha casa:

-Não tens um meprobamato aí para me relaxar antes de sair para a festa?
-Com certeza que não, além disso na festa há bebidinhas, vais relaxar.
-O meprobamato me relaxa mais.

*tirado de uma canção de Joaquín Sabina

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