segunda-feira, 13 de abril de 2009

O dilema da baratinha Martina


Foto: Lía Villares
Texto: La Salamandra Blanca

Neste dias me veio à mente o dilema da baratinha Martina, naquele conto que conhecemos desde pequenos, quando se perguntava: com essa moedinha o que comprarei? Essa pergunta é tão recorrente neste país, ainda que as vezes a resposta é tão obviamente prevalente que torna-se um desvario a possibilidade de pensar em algum "suposto luxo".

Esta associação com o conto surgiu conversando com alguns amigos, gente inteligente, com preparo e muita vontade de trabalhar, porém tristemente me dou conta que o pior é o desencanto que os cerca. Vêem chegar a idade onde, após anos estudando para uma carreira, não encontram um emprego onde desenvolver exatamente o que aprenderam, e inevitavelmente receber por ele as quantias irrisórias que não chegam a pagar nem sequer o elementar que lhes faria falta no mês. Isto se converte num desafio ao interesse de se viver neste país. Sem falar na acumulação de necessidades que vem herdada de pais que nada ou quase nada puderam fazer com seus respectivos salários em favor de cobrir carências, que nesta idade supõe-se que estejam resolvidas. Como para muitos pode ser ter uma casa minimamente adequada para viver.

Há quem talvez com muito esforço consegue juntar algum dinheiro, graças a trabalhos geralmente pela "esquerda", porque legalmente não se pode ter mais de um emprego. Então começa o debate de como utilizá-lo concretamente. Começa o dilema da baratinha Martina, o que fazer com quatro quilos a mais, não sabe se conserta um pouco a casa alheia ou se chegará para alugar um tempo e assim pode ter um pouco de privacidade para viver sua vida. Porque há muitos que vivem agregados com todas as gerações anteriores a eles e a casa paterna quase cai em cima, onde às vezes nem se tem espaço próprio.

Porém alguns não sabem se voltarão a ter a possibilidade de ter novamente essa soma para jogar fora num aluguel caro e decidem consertar um pouco a que talvez seja herdada, melhorando por sua vez a vida dos progenitores infelizes e antigamente crentes de um futuro melhor. Aí continua a contradição de alguns conhecidos, se começarem pelas janelas gastas, o banheiro antiquado, a cozinha desmantelada ou se compram um colchão para poder dormir comodamente com a parceira, com certeza deixando de lado o sonho de fazer descendência, dadas as condições de todo o tipo, apesar inclusive de terem talvez desejos e idade de serem pais.

Ao menos no caso da baratinha Martina a decisão era algo bem simples, a nossa tem outras implicações. Será que alguém acredita, todavia, que em Cuba é só o problema econômico que está marcando esta pequena mostra da grande lista de problemas, que cada um que reforça e decide dar solução ao seu modo e possibilidade? O que é a economia de um país senão a conseqüência de uma política de governo?

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