Outro dia ví o filme "Crossing over", que tratava de reunir num conjunto o tema da emigração nos Estados Unidos. Da minha perspectiva de cidadã "potencialmente emigrante" pareceu-me bastante chocante, apesar de não terem tratado diretamente do tema "cubano", senti-me muito tocada. Uma estranha coincidência de personagens "positivos" americanos e personagens "negativos" estrangeiros, ainda que sutil, deixou-me com sabor amargo na boca.
Quase todos os meus amigos agora vivem em algum país do mundo que não Cuba. Vejo ao meu redor que "ir-se do país" é o "sonho cubano". Não estou absolutamente julgando decisões, simplesmente penso que é extremamente triste que esta ilha se tenha tornado tão invisível para quase todos.
Minha mãe sonha com que um dia eu finalmente abra os olhos e suba num avião rumo "a qualquer parte", meus amigos "batalham" bolsas de estudos e pós-graduações onde for, uma doutora maldisse por vezes haver optado por uma carreira que não tem "a caderneta branca" destinada; porém mesmo que isso não bastasse, os em altos cargos do governo e muitas pessoas "comprometidas" com o "processo" anseiam para seus filhos e para eles próprios o mesmo destino.
Despedir-me de alguém ao menos tres vezes por ano faz parte do meu cotidiano, desgraçadamente não posso dizer o mesmo quanto a receber. Tenho saudades dos meus amigos, se é que eles tampouco encontram o que buscam, porque ser emigrante é quase tão duro como viver no totalitarismo.
Pergunto-me quando chegará o dia em que os jovens não tenhamos que sair dispersamente para começar a traçar um projeto de vida da obscuridade de emigrado. Pergunto-me quando o governo cubano assumirá a responsabilidade de nos haver separado e haver nos dispersado.
Falar de emigração é triste e complexo, como no filme, tratá-lo superficialmente pode ser doloroso e ofender aqueles que vivem longe da sua terra. Emigrar, desgraçadamente, não é uma opção: é uma saída.
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