Cheguei calma e elegante as seis e quinze ao concerto de Pedro Luis Ferrer no Museu Nacional de Belas Artes em Havana Velha, acompanhada de duas amigas. Uma delas estranhou ver "civis, aparentemente" colocados em posições militares atrás dos uniformizados da segurança do museu...eu não os ví.
Quando estávamos comprando as entradas veio um homem que se apresentou como diretor do teatro e nos pediu sorridente que o acompanhássemos. Já sabia o que era, porém algo dentro de mim dizia que não, que não era possível, senti pena pelas minhas amigas que sem comê-la nem bebê-la olhavam com os olhos grandes o que se chama por aí de "os burocratas da cultura cubana".
O homem nos disse que a instituição se reservava o direito de admissão e que não podíamos entrar por haver participado de uma ação provocadora "contra este" durante a Bienal de Havana. Minhas amigas não tinham ideia do que falava porém lhe pedi que fosse mais específico e disse que nos negava o direito de entrar por haver falado ao microfone do Wilfredo Lam, durante a performance "El susuro de Tatlin" de Tania Bruguera.
Eu lhe disse que havia estado lá porém que era um erro certamente pois muitas pessoas estiveram alí nesse dia, pediu-me um instante e foi "consultar". Uma mulher veio e me perguntou:
-Quem de vocês é a Claudia?
Levantei a mão como na escola primária, nisso chegava o homem com outra mulher que ficou um pouco atrás:
-Claudia, sinto muito, o museu se reserva o direito de admissão e nos disseram que tu não podes entrar.
-Você se dá conta do papel triste que lhe designaram?
-Sim, sinto muito.
Nisso se meteu a que havia ficado mais atrás:
-Nenhum papel triste, tu és uma provocadora e não podes entrar.
-Senhora, em que você se baseia para dizer que eu venho aqui para provocar?
-Tu participaste da performance de Tania Bruguera, eu estava lá.
-Sim, eu falei por um microfone que estava aberto para todo mundo durante um minuto, todos que quisessem podiam fazê-lo.
-Podes fazê-lo aqui.
-Você sabe o que é uma performance?
-Sim
-Não parece. Você está agindo como um agente segregador e discriminador da cultura cubana, não se dá conta disso?
-Tu estás me faltando com o respeito.
-Senhora, você me falta com o respeito desde que entrei aqui.
Não estava para ficar de prontidão até que acabasse o concerto, assim é que fui embora, além do mais não queria pedir às minhas pobres companheiras que pagaram por aquilo que elas não haviam disfrutado, durante um minuto, em pleno exercício da pós-modernidade comunista: liberdade de expressão por 60 segundos na eternidade da revolução.
Durante o regresso me perguntava se nossas fotos estarão em todos os museus como as fotos dos procurados pela polícia ou dos desaparecidos. Adoraria saber se para graduar-se no curso de CVP (Comitê de Vigilância e Proteção) tem que se reconhecer todos nós por imagens e demonstrar que em qualquer lugar e a qualquer hora, um CVP de fato sabe se você falou no microfone ou não.
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