segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
As mesmas técnicas e o mesmo final
Os abusos que o poder absoluto e onipotente perpetrou ao longo da história se repetem como se o eterno retorno não fosse só uma teoria, senão uma certeza do mundo em que vivemos. Assim, muitas vezes as histórias das biografias daqueles que se outorgaram o poder supremo saem das páginas dos livros e se misturam com nossas vidas, levando o medo ao centro da nossa existência.
A perseguição aos rapazes que participaram da Marcha pela Não Violência tem sido uma constante desde seis de novembro. Há dois dias chegou ao seu grau máximo e alguns foram sequestrados pela Segurança do Estado. Sequestrados porque ainda que a Polícia Nacional Revolucionária acompanhasse os incógnitos companheiros do DSE, não tinham a Citação Oficial correspondente segundo o Código Penal. Assim, estes rapazes que em sua maioria não passam dos vinte anos, viram-se sentindo na própria carne - num quarto desmantelado da delegacia de polícia da 21 com C - as cenas vistas em documentários sobre aqueles que uma vez estiveram a mercê de outras polícias políticas: ativistas chilenos, poloneses, checos...
O mais terrivel de tudo é a repetição exata do roteiro, com um crescendo arrepiante de violência:
-Convencer-te.
-Comprar-te ou comprometer-te.
-Desacreditar teus amigos.
-Fazer te sentir sozinho.
-Tirar tuas coisas (celular, laptop, discos ou memórias flash) sem nenhum documento de confisco.
-Ameaçar-te teu futuro, tua família e tua integridade física.
Eles, os seguranças, tem estudado uma triste carreira universitária: técnicas de coação e repressão da cidadania. Nós, os civis, os enfrentamos sem o menor ABC de como sobreviver ao tsunami do poder. Com certeza temos só uma coisa que - no final - será a arma mais poderosa: a consciência. Essa que eles perderam, porque para graduarem-se como "árbitros da injustiça", a primeira matéria em que se deve ser aprovado é a "amnésia de valores cívicos".
O medo é uma arma de dois gumes. Hoje meus amigos duvidam e não querem que escreva seus nomes, ainda pode ser que mudem de ideia. Parece-me que se esconder quando aqueles que te buscam são os únicos que sabem onde estás, não tem muito sentido. A roleta do destino sempre volta e a memória dos reprimidos não se apaga: amanhã serão os seguranças os que não poderão evitar - como meus amigos - que sejam publicados seus nomes e rostos.
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Um comentário:
Olá Cláudia, parabéns pelo seu blog. Ele é de grande valia para a crítica social que tanto precisamos em tempos de desstruição de valores éticos.
Sou professor de história e vivo no Rio de Janeiro e accredito que a verrdadeira cuba vive em pessoas com você!! Mais uma vez parabéns deste seu fiel e novo fã brasileiro, Marcos Barbosa!!
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