domingo, 10 de janeiro de 2010

Onde está meu frango?


Foto: Claudio Fuentes Madan

Tem 75 anos e uma pensão que supera sua idade em 100 pesos. Não sofre de nada exceto pobreza e fome. Faz tres anos deu duro para incluir em sua caderneta de abastecimento duas libras de leite desnatado e um pedaço de frango por mes, graças a uma dieta para diabéticos que um médico solidário e anônimo lhe prescreveu.. Não chegava para normalizar os níveis de proteina do corpo, porém - mal ou bem - ia levando: vender jornais, fazer mandados de alguma vizinha sobrecarregada de trabalho e filhos, vender cigarros da quota, conseguia - milagrosamente - não morrer de fome.

Como em cada ano esperava 2010 para renovar seu certificado. Todavia uma má notícia o esperava do outro lado do bureau da Oficoda: para renovar a dieta teria que passar por uma junta médica. Estava desconfiado e alerta nesta brincadeira com a sua vida, não se deixou vencer pela adversidade da nova disposição legal e preparou-se como se fosse para uma entrevista de emprego numa embaixada.

Graças a vários testes caseiros de urina pode conhecer seus níveis normais de glicose, uns copos de água com açucar mascavo o ajudaram a estudar o padrão ideal dos sortudos que tinham o direito de comer frango e a tomar leite no desjejum. Por último, uns soros comprados no mercado negro lhe permitiram alcançar o número mágico: 12.5 .

Depois de duas semanas de treinamento estava pronto. Apresentou-se com todos os seus exames de sangue ante uma comissão assustada que lhe aconselhou a cumprir cabalmente os conselhos do seu médico de família, pois sua diabete estava descontrolada e era perigoso. A última vez que o vi vinha sorridente das compras, com seu saco de leite em pó e sua coxa de frango congelado.

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