quarta-feira, 23 de junho de 2010

No hospital

Marta está cansada dos hospitais. Tem - como a maioria dos seus conterrâneos - má sorte com a saúde pública. Um dos pilares da revolução nascente, não deixa de parecer um edifício carcomido numa estatística milagrosa, um pilar da destruição.


Faz algumas semanas esteve cuidando de um familiar em Calixo García. Entre outras vicissitudes, os soros que seu paciente necessitava foram comprados no mercado negro, a maioria dos medicamentos "decididos" e o tratamento supervisionado pelos próprios familiares. A força de averiguar aprenderam a lembrar a enfermeira da hora exata dos tratamentos, do nome de cada pastilha e o tratamento - levado a cabo por eles mesmos - para evitar escaras.

Como raramente havia água, trouxeram baldes; como não havia como esquentá-la para o banho, compraram um aquecedor; como o quarto era muito quente, pediram um ventilador emprestado. Levaram tudo: o sabonete, os lençóis, a comida, a poltrona do acompanhante, o creme, o álcool, as vitaminas e o algodão.

O único problema que ficou sem solução foi o assunto do entupimento do banheiro; ainda que o vaso sanitário tivesse sempre uma água verde-avermelhada pestilenta e que a torneira da pia tenha se arruinado irremediavelmente, poderiam ser considerados problemas menores tendo em conta a camada de imundície de todo o local, a destruição das janelas e os fios soltos do teto falso.

Marta me conta que terminou sua estadia esgotada: a única coisa que pede ao céu é morrer de infarto em sua própria casa, sem ter que desfrutar das comodidades da saúde pública cubana.

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