sexta-feira, 18 de junho de 2010

Os cães

Foto: Claudio Fuentes Madan


Só desmaiei uma vez na vida: caminhava pela avenida 23 e vi um carro atropelar um cachorro. O chofer e seu acompanhante se abaixaram, pegaram o animal pelas patas e o lançaram, agonizando, num latão de lixo a um metro de mim. A última imagem que ficou antes que eu caísse: o cachorro agitado, sangrando entre os resíduos enquanto meus ouvidos captavam o cantar dos pneus do moscovich (carro russo) distanciando-se a toda velocidade. Quando acordei estava na minha cama: a amiga que me acompanhava deu um geito de me colocar num táxi e deixar-me sã e salva, ainda que não desperta, na porta da minha casa.

Talvez esse instante haja marcado minha obsessão com os cães de rua: partem minha alma, me dá impotência não poder recolher todos, tremo ao vê-los cruzarem as ruas. Outro dia um amigo meu - ultra pessimista a respeito do futuro deste país - zombava da minha apreensão pelos animais; contudo este povo carrega muita indolência sobre seus ombros e os cães tem sido vítimas diretas do fenômeno da apatia nacional: sarnentos, feridos, extra fracos e sujos, fazem parte da paisagem cotidiana da minha cidade, como as árvores e os passarinhos.

O terrivel da sua situação só é superado pelos seus compatriotas do mundo animal, vizinhos no zoológico da 26: além de fracos, sujos e meio doentes, vivem em jaulas muito pequenas para seus tamanhos (o teto que os falcões e as águias tem como céu é realmente desalentador) e as vezes estão sós, dá a impressão de que estão alí só para que nos eduquemos nos fundamentos do maltrato animal.

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