sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Com a sorte lançada



Ainda creio e sempre crerei que Boring Home foi uma vitória sobre a censura, gosto de pensar que foi sobre a segurança do estado inclusive, porque pela primeira vez não pôde baixar o pau nos "niños raros". Porém não creio que deva deixar-me levar pela euforia de um feito, não significa uma mudança na política de governo para conosco, os diferentes: que sonhamos com a mudança, que esperamos um dia ter a liberdade de pensar, de eleger, de dizer, de trabalhar e de dissentir.

Orlando continua recebendo chamadas, desta vez dizem que não se esquecerão dele, que ainda vão lhe quebrar a cara na primeira oportunidade. Yoani continúa vivendo o estado de sítio que implantaram em seu edifício, onde dois tipos com bíceps de halterofilistas deixam passar os dias com dois objetivos: intimidar, ela, sua família e de passagem tambem a todo o bairro, e registrar seus passos. Gorki recebe a informação, graças a um vizinho solidário, de que a segurança deu ordem de seguir todos os seus movimentos. Porém agora por último, ostentando uma técnica bem suja, citaram o esposo de Miriam Celaya do blog Sin_Evasion. Não somente interrogaram uma pessoa que nunca dissentiu, ao menos públicamente, senão que lhe ameaçaram: trabalho, família e filhos. Sei de outras pessoas que tem sido ameaçadas nestes dois últimos meses, porém que tem preferido dar uma oportunidade ao azar e não denunciaram, coisa que me parece um erro, porque com este governo já todos, penso, temos a sorte lançada.

E não somos só nós que temos lançado nossa sorte, senão que nossos amigos e nossa família caem no saco que com pesar arrastamos. Como disse Miriam "Um exemplo do desprezível e sórdido deste sistema, um total desprezo pelo valores familiares, que é o verdadeiro rosto do socialismo cubano."

Não obstante todas essas coisas continuamos sendo diferentes (a pedagogia governamental fala conosco): seguimos com nossos encontros blogueiros, que mais do que um itinerário blogueiro, parece-me já um itinerário blogueiro-cultural, se é que isto existe: vemos documentários de fotografia e na semana passada, no meio da preparação do nada aborrecido lançamento de Boring Home, os artistas de Omni-Zona Franca honraram nosso espaço com a première de um dos seus documentários, fotos escolhidas por eles para tirar um pouco da tristeza deste post.





Foto: "Três horas de discurso", Performance do grupo Omni-Zona Franca, 2004, Santiago de Cuba.

Um comentário:

Danielle Espírito Santo disse...

é triste ver que ainda usam do medo e técnicas tão sujas para manter as regalias de estar no poder. Contudo o desespero de algumas ações demonstra que eles já percebem o fim próximo e por isso utilizam de todas as cartas disponíveis em seu jogo sem regras.