terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

O estranho caso do p4

Foto: Claudio Fuentes Madan

As 7 e meia da manhã no noticiário convidam personagens seletos de diferentes ministérios para que exponham critérios, expliquem situações, proponham soluções etc. Esta manhã um falava do transporte. A verdade é que comecei a vê-lo incrédula de suas palavras, passei do riso ao nojo, pedi minhas contas e acabei por desligar a televisão.

Faz tempo que falo sozinha com a televisão, tornou-se um hobby íntimo. É minha forma de estabelecer uma polêmica verdadeira com o status quo: eles falam e eu respondo-lhes, é muito divertido. O único com quem não falo é o Randy, porque seria descer muito.

O cara foi muito claro, falou inclusive a título pessoal. Casualmente ele toma o mesmo ônibus que eu e a mesma hora tambem. Todavia, paradoxo incompreensível, não tem nenhum problema para viajar nele, nunca se atrasa e vem meio vazio. Decidí que talvez o pegasse em sentido oposto ao meu, pois ao contrário, teria que assumir que vivemos, ele e eu, em mundos paralelos: em meu mundo o p4, se chega, vem lotado e as vezes não posso subir; no dele, o trajeto Vedado-Playa é um tour prazeroso.

Porém isso não é tudo, depois trouxe um assunto extravagante, segundo parece o número de passageiros que utilizam os transportes públicos aumentou em 50% em toda Cuba graças ao aumento de carros (não sabemos qual percentual representou o cálculo anterior, nem tampouco a data tomada para diferençar os dois). Logo que na Cidade de Havana o aumento foi de uns 48%. Não disse quanto havia aumentado para o resto de Cuba, o que me deixou na dúvida do que representava este 50% a nível nacional se tirarmos Havana.

Confessou, consternado, que de modo incompreensivel ainda e apesar do aumento de ônibus e das condições, as viagens interprovinciais haviam diminuido. Talvez os analistas, tão carregados de cifras, esqueceram que as passagens desses ônibus quase triplicaram seu preço e que viajar da província para Havana é muito complicado se não esclareces para que vais, por quanto tempo e onde ficarás.

O melhor foi para encerrar, muito compreeensivo concluiu que a gente chega tarde ao trabalho porque não planeja bem ( não é uma brincadeira, o disse textualmente ) e nos aconselhou sabiamente que tomássemos medidas ( supunho que tamanha inépcia não seja adequada a este povo ). Tem que ter muita cara de pau para dizer isso na televisão cubana. Sinceramente, espero que lhe deem imediatamente um carro, e que o promovam e lhe deem outra tarefa, que mesmo sendo mais obscura, ao menos nos livrará de suas absurdas reprimendas matutinas.

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