Nunca soube se as pessoas que punham este cartaz na entrada de suas casas estavam suficientemente esclarecidas no sentido de saber que não era uma metáfora. Suas casas eram de Fidel, e mais ainda, todas as nossas casas são da revolução, porque tudo que nos rodeia pertence a esse conceito abstrato. Em Cuba optamos pela antiga filosofia grega, todas as coisas são feitas de uma substância única e esta por sua vez é a origem de todas as coisas: Tudo é Revolução. A história do ocidente se divide no ano zero, antes e depois de Cristo; a história de Cuba se divide no ano de 59, antes da revolução nada, depois da revolução tudo.
Surpreende-me pensar que há pessoas, inclusive dentro de Cuba, que afirmem que é muito difícil desalojar uma família de sua casa. Não vou contar as histórias de outros porque tive a desgraça de brigar com uma brigadinha de despejo quando tinha 20 anos.
Meu pai vivia na casa da minha avó materna, minha avó decidiu por a casa em meu nome numa espécie de último ato de lucidez. Quando meu pai morreu vim para minha casa, como era lógico. Todavia, uma pessoa próxima do meu pai e com um pouco de poder considerou que não estava certo, que o correto era a casa ir para ela. Nesse mesmo instante começou uma batalha as cegas para mim, onde o golpe já não se sabia de onde viria: de arrancar o vaso sanitário em minha ausência, a pia, os fios de eletricidade e o encanamento de gás (sem mencionar as outras coisas que haviam dentro da casa), passando por uma falsa acusação de haver assinado o projeto Varela (não assinei porque não veio à mim, que se conste isso), o miní comício de repúdio dos membros da associação de combatentes, a ausência prolongada do registro de endereço, pessoas anotadas como residentes temporários na minha casa que eu nunca havia colocado, denúncias por aluguel ilícito e a assinatura dos agentes do terrível "despejo".
Não vou contar a história inteira porque não vale a pena: não puderam tirar-me graças a meu pai, que mesmo depois de morto tive que soar seu nome em minha boca, porque evidentemente, pelas vias legais me tiravam na porrada da minha casa.
Não obstante, seria coerente ir à Havana Velha e contactar todas as pessoas que nesses últimos anos foram despejadas de suas casas para que o lugar histórico seja um lugar apropriado para turistas; ou perguntar aos vizinhos do Vedado, por lá, pela 11 com K, porque o MINIT não lhes permite trocar suas casas nem deixá-las como herança para alguem da família?
Não sei se a cantora Bárbara Grave de Peralta finalmente foi depejada ou não, espero sinceramente que não. Porém tambem gostaria de dizer que seu caso não foi único nem isolado, senão que é um exemplo a mais do que sucede diariamente nesta ilha ideal. Espero que sua denúncia e a solidariedade que sua situação despertou tenham podido ajudá-la em algo, para ela meus melhores desejos.
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