quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Mais outra crise?


Foto: Claudio Fuentes Madan

Caminho pela rua e a única coisa que ouço é o assunto: "as lojas", parece que a técnica é infalível. Ví alguns documentários sobre ações cívicas para pressionar o governo e em vários países as pessoas tem utilizado o boicote econômico para conseguir mudanças poíticas ou sociais (África do Sul e Chile).

O que acontece é que tenho a impressão de que em Cuba a coisa tem outra dinâmica: o governo usa o boicote econômico para nos pressionar. Faz cerca de um mes que algumas lojas em moeda conversível (as únicas onde se pode adquirir a cesta básica) fecharam e as que permanecem abertas vão se esvaziando pouco a pouco. Outro dia buscava desesperada qualquer tipo de detergente, e cheguei dando voltas numa loja onde o único que havia eram prateleiras e prateleiras de limpa cristais (com dez marcas diferentes). Quem compra cristais em Cuba?

O melhor são as conclusões das vítimas, escutam-se, como sempre, várias versões:

1-Todas as lojas vão fechar pouco a pouco para passarem a fazer parte das FAR (forças armadas revolucionárias).
2-O que acontece é que nenhum investidor estrangeiro radicado em Cuba está vendendo seus produtos porque não os deixam sacar o dinheiro que têem nos bancos e não podem fazer transações com seu país.
3-O problema é que Cuba já não tem dinheiro para comprar produtos, o que há nas lojas são os produtos que estavam armazenados e que não tinham saída.
Gosto das tres porque tem relação com os limpa cristais, e pergunto-me a quem pode ocorrer comprar tanto limpa cristal num país onde quase todas as janelas são de madeira.

Por outro lado parece que os estrangeiros não são os únicos que não podem sacar seu dinheiro do banco: disse-me um amigo que para cobrar uma conta de 5000m pesos que seu pai lhe deixou de herança, tem que fazer tanta burocracia, que já nem sabe se algum dia poderá ter o dinheiro em suas mãos.

Como nada disto se comenta no Granma não sei qual das versões é verídica, semi-verídica ou completamente falsa. Agora tenho que caminhar seis horas para poder limpar os pratos a noite. No que vou e venho pelas ruas me pergunto: o que ganha o PCC e Raúl Castro em terem a economia deste país neste estado? Na crise número qual estamos entrando? Porque não há papel higiênico numa só loja em toda Havana? Estes movimentos malabarísticos da economia são causados pela crise ou são o popularmente chamado bloqueio interno?

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