domingo, 20 de setembro de 2009

Santa Clara - La Habana (2)


Imagen: Hamlet Lavastida, exposición agosto 2009 numa galeria particular.

As seis começaram a chamar pela lista de espera. Em favor do terminal de Santa Clara tenho que dizer que tem luz elétrica. O de Havana, certamente, nos dias em que passei por ele (para ir e regressar) sofria de um apagão generalizado que impedia, por exemplo, de ver o vaso sanitário do banheiro, que se encontra no porão.

As seis e meia saiu o ônibus, meu assento lamentavelmente tinha a alavanca quebrada e ainda que houvessem outros assentos vazios, o chofer não me deixou trocar. No momento estava dormindo.

No meu sonho comecei a sentir um estranho fungar nos meus pés e mãos, acompanhados de um calor insuportável. Abri os olhos para comprovar que era dia, que o ônibus estava parado debaixo do sol, que tudo estava trancado e que um cachorro da polícia farejador de drogas enfiava a cabeça por todos os lados. Levei uns dois minutos para entender que não era um pesadelo.

Um delator havia chamado a delegacia de polícia de Cólon, em Matanzas, para advertir que em nosso desafortunado ônibus algum infeliz havia tido a péssima ideia de levar carne de vaca. Não podíamos descer, porém o policial não compreendia que tampouco podíamos respirar. Não sei nada sobre carros, porém me parece um pouco estranho que pelo motivo de um veículo estar parado o funcionamento do climatizador cesse; todavia tampouco quis perceber alta dose de sadismo no chofer e nos policiais.

Tiraram a bagagem do porta-malas para que o animal metesse o focinho sem obstáculos. Parecia que estávamos num filme mexicano e que iam tirar 100 libras de heroína pura do baú. Prontamente o cachorro reagiu, havia encontrado o que parecia ser o objetivo da busca: A CARNE. Um rapaz de gorro branco foi apontado temporariamente como suspeito principal do delito (possuía uma valise), desceram-no do ônibus e o cachorro deu uma investida profunda para cheirá-lo.

Má sorte para os policiais, oxigênio para nós e frustração para o cão: a carne descoberta mostrou-se ser de porco. Ciro inevitavelmente buzinou para todos os viajantes: quem haveria sido o delator...hein?. O rapaz ria-se nervoso, a gente se entreolhava com os olhos esbugalhados e gotas de suor na testa, eu voltava a dormir enquanto pensava que entre a minha vida real e meus sonhos, o absurdo não está tão defasado.

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