domingo, 27 de setembro de 2009
O cidadão independente
Foto: Omni-Zona Franca, Luis Eligio.
Umas lágrimas negras debaixo dos olhos e uma camisa, negra também, com dois dizeres impressos: na frente "Não há paz sem liberdade" e atrás "Bloqueio dentro -Bloqueio fora. Até quando?".
Chegou sozinho na praça no domingo e por segundos foi um a mais. "Fui ver meu concerto", disse-me um pouco surpreso quando lhe perguntei porque não havia me chamado. Como a performance faz parte de sua vida diária há mais de dez anos, novamente decidiu produzir arte.
Interagir com o público é um dos principais objetivos da arte comportamental, assim que a priori a performance foi um êxito. Lamentavelmente a Segurança do Estado, sempre tão egocêntrica, decidiu que o público seria só ela.
Meteram-lhe aos empurrões dentro de uma patrulha, com a inevitavel lesão no pescoço por selvageria. Várias delegacias de polícia , sempre pela porta de trás - a dos que não cometeram delitos mas que entram do mesmo modo. Várias sessões de interrogatório com perguntas absurdas que não conhecem posições moderadas: a PNR está na base da batalha, em alerta VERMELHO frente o inimigo invisível, que potencialmente é cada cidadão que habita esta ilha.
Luis Eligio teve o valor de chegar à praça com o cartaz que todos levamos dentro impresso em sua roupa. Teve o valor de assumir sua decisão livre e só com sua consciência. Teve além disso a imensa força de assumir-se como cidadão único e independente, responsável por suas ideias e obras. Com certeza, também teve a tremenda sorte de não sentir a força bruta dos corpos repressivos descarregarem toda sua fúria contra sua pele e isso é algo que, certamente, eu encorajo a evitar.Por favor Eligio, na próxima vez chame-nos, pelo menos para acreditarmos que se somos mais poderemos proteger-te.
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