domingo, 10 de maio de 2009

Da conectividade aos comentários



Agora para cúmulo uma nova resolução parece não permitir que os cubanos nos conectemos de lugares públicos, aqui em Havana começou de modo incomum por aqueles lugares públicos que permitem uma navegação segura e um pouco menos censurada pela rede (conexões wi-fi). Ainda não me vi entre a espada e a parede para postear, porém no dia em que publicar um blog seja uma questão "cartão ou não cartão de Internet", planto na garupa do hotel um laptop para ver o que rola, como dizemos com tremenda bravata, e isso porque uma coisa sim é sagrada para mim (igual aos princípios da revolução): meu blog continua, octavocercoSIM. Porém esperarei uns dias com calma para ver como se desenrolam os acontecimentos, já sabemos que em Cuba as resoluções tem tres momentos fundamentais: primeiro mes, aplicação extremista e arbitrária; segundo mes, relaxamento da aplicação e desregulamentação no uso da lei; terceiro mes, que regulação?*

Evidentemente com estas preocupações em continuar publicando, a regulação dos comentários seria num escalão superior ao qual não posso aspirar. Porém tampouco quero, e aí entro na segunda razão: no meu país o que eu digo em meu blog não posso dizer em nenhum outro lugar, estou condenada a expressar-me virtualmente e como eu todos os que pensam diferente do oficial, todos os cidadãos e jornalistas independentes, todos os que se pronunciam a favor de uma mudança na política governamental, enfim, todos os que exercem a liberdade de expressão em maior ou menor medida são silenciados ou condenados. É por isso que os cibernautas idiotas realizam em Octavo Cerco sua tarefa, eles dia a dia demonstram que em Cuba não se pode dissentir, e não precisamente polemizam, mas insultam e atropelam, acusam e mentem, justamente como acontece na vida real, exatamente o mesmo que acontece quando uma pessoa comum desabafa na rua: são a prova irrefutável do caráter opressor ante a liberdade de expressão. Até me dão um pouco de pesar, condenados a ofender nos comentários, quando na realidade sua vocação seria dar-me uma sessão de repúdio ou bater-me num quarto em Vila Marista, porém os tempos mudaram, porém não tanto, é por isso que continuam aí, para que todos possam ver a imutável repressão que o governo cubano tem exercido e exerce contra aqueles que se expressam livremente, os insultos e as mentiras são o melhor espelho que podem dar em Octavo Cerco virtual do que sucede no Octavo Cerco real, em Cuba a polêmica não existe, não podemos pedir-lhes então que façam o que não estão autorizados a fazer: dialogar.

Considero, por outro lado, que cada comentarista é responsável pelo que diz, assim como La Salamandra Blanca, El Ciro e eu o somos.

*Quero esclarecer que quando alguem fala com o hotel Cohiba dizem-lhe que não há problema, que se pode entrar, porém Yoani Sánchez ontem de manhã não pode fazê-lo e não é uma questão pessoal: os cubanos alí não podem comprar cartões de Internet.

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