sexta-feira, 22 de maio de 2009

Tudo incluido...segregação também?


Texto: La Salamandra Blanca

Ver como na história o ser humano tem sido capaz de tantas formas de repressão e desprezo com os seus semelhantes é um desafio à própria sensibilidade. Sentir-se de uma forma ou outra desvalorizado e despojado de algum direito, por qualquer motivo que seja, é bem lastimável. É também um desafio para a equanimidade, para não converter-te rapidamente num violento agressor cada vez que te transformam em parte da humanidade segregada.

Poderíamos fazer mau juízo e acreditar que isto é um objetivo de quem divide para provocar algo maior se te agitas e descumpres a ordem dada. Pois atacar em tua própria defesa poderia converter-te em vítima ao dar motivo ao ente de poder que te segrega, acusando-te de agredir fisicamente ou verbalmente a autoridade.

Comento isto por que nestes dias senti-me muito irritada e chateada. Estive casualmente em Varadero e decidi dar um mergulho na praia, porém precisava de um banheiro para trocar de roupa comodamente. Tirar a de viagem, pegar na valise a roupa de baixo e pô-la, e ao passar por um hotelzinho, exatamente o Hotel Club Tropical, entrei pelo lobby procurando o banheiro e percebi que o porteiro me chamava, tratei de esquivar-me, porém era bastante insistente e quando me pergunta respondo-lhe com a minha necessidade, à qual se nega redondamente. Com certeza se tivesse sido estrangeira me deixaria passar sem nem olhar-me.

Como quase sempre acontece, terminei não estragando a tarde dos meus amigos e não arruinando as poucas horas em que estaríamos nessa praia. Decidi não promover o show que todos mereciam, dos turistas estrangeiros até o gerente, porém, sobretudo, o Yeti cumpre-ordens (que vêem de costas com uniforme na foto) por querer tirar-me "educadamente" dalí como se fosse um cão sarmento e não uma pessoa, turista nacional tão cubana como ele mesmo ou qualquer um de sua família. Então chamei a paz e resolvi sair dali em busca de outro lugar que acabou sendo um funesto banheiro de cafeteria onde o módico preço de um bocadinho de presunto e queijo é de 1.75 CUC, ou seja, quase 50 pesos em moeda nacional.

Saí daquele Club Tropical, principalmente, com a idéia fixa de, ao menos, escrever sobre isto, de modo a criticar ou denunciar o que significa o fato de ser segregado por nós mesmos, ainda nesta época. É incrível que algo tão simples e humano como ir para o banho e trocar de roupa não nos seja permitido, e que só depois de muito tempo, os nacionais possamos voltar a hospedar-nos num hotel (porém a que preços!), ainda que tampouco tenhamos direito a todos os serviços com que brindam os estrangeiros, como o uso de Internet, onde por exemplo, comentários como este ao exterior poderiam prejudicar mais a imagem do regime deste país. Este, onde os que têm o poder e nos controlam de dentro, tanto apreciam cuidar dos invioláveis direitos humanos. País onde ninguém pode vir inspecionar, porém oxalá ao menos eles inspecionaram com afã de melhoras reais para seu povo.

PD: xenofobia: (De xeno e fobia). f. Ódio, repugnância ou hostilidade a estrangeiros).

Se assim é. Como se chamará o mesmo dirigido aos nativos? Algum cubanólogo me diga por que talvez o termo já exista e ainda não o sei.

Olhem na foto os Letreiros de Clube Amigo (de quem?) e Tudo incluído... segregação também?.

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