Imagem: Ares
"As coisas vão mudar, já vais ver" disse-me uma amiga. Não se refere à liberdade de imprensa, nem de expressão, nem de opinião, nem nada relacionado com os direitos elementares; mas sim me fala da cebola e da carne, de ganhar um pouco mais de dinheiro e de aumentar o nivel de vida. Para me convencer disse inclusive que estão dando permissão de saída para todo mundo, eu lhe explico que não estão dando a permissão a de saída para "todo mundo", que fazem uns dias fui entregar umas 90 assinaturas na Imigração Provincial para que dêem o afortunado "vai garoto: viaja" para um amigo.
Porém ela me olha e ignora meus argumentos...Se a ti não interessa fazer política para que queres que haja uma mudança de presidente? Se deixamos de ser pobres e pudermos comprar carros e vivermos bem. O que pode importar quem está no poder? De maus bofes lhe explico que não quero uma "mudança de presidente" que quero uma "MUDANÇA de governo" do primeiro escalão até o último, porém não me entende.
Acho graça que pense que um dia vá poder comprar um carro com Raúl Castro ou quem quer que seja do partido comunista no poder. Não tenho muita vontade de discutir quando chego neste ponto: não sei como explicar `a uma pessoa que o que eles justamente querem é evitar uma sociedade civil independente econômicamente, um país próspero onde a gente possa ter tempo para pensar em vez de buscar o que comer, um país onde um pedaço de carne na mesa não seja o objetivo principal do projeto de vida de um povo e que conseguí-lo não signifique calar a boca para mantê-lo.
Como explicar-lhe que se um dia todos tivermos permissão de saída, se pudermos viver de nosso salário, se pudermos comprar um carro, e inclusive que se amanhã libertam todos os presos políticos, eu continuarei pedindo MUDANÇA. A fila do ônibus, o apertamento no P4, o salário de miséria, a permissão de saída e tudo o mais não são mais do que consequências...e quero que mudem as consequências... porém, sobretudo eu quero que mude a CAUSA, para que não hajam mais riscos, para que amanhã quando vá comodamente num ônibus, ou possa comer do meu salário, ou possa conduzir um carro, ou possa sair do meu país quando me dê vontade; não tenha então que calar a boca e fechar os olhos, que viver com medo, que ler absurdos com apelido de notícia, que idolatrar um mentiroso com uma lista de mortos pendurada nas costas.
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